Primeiramente você sabe o que significa paramentação? Nada mais é que a troca das vestes (normais ou civis) por vestimentas adequadas ao ambiente de trabalho como, por exemplo, pijama cirúrgico, gorro, máscaras, antes do ato cirúrgico (na área de saúde) ou uniforme, touca, botas e equipamentos de proteção individual (EPIs) antes das atividades numa empresa (como as da área de alimentos).
Lembro-me de ter ouvido esse termo pela primeira vez quando iniciei a disciplina de clínica cirúrgica na faculdade. Havia todo um ritual para se paramentar. Nosso pijama cirúrgico era submetido previamente à esterilização por autoclave, e só o vestíamos após termos lavado e enxaguado adequadamente as mãos, pulsos e antebraço. Afinal de contas, era a vida do meu paciente canino, felino, equino, etc. que estava em risco. Quanto à área de alimentos, será que damos a devida importância?
O maior desafio da paramentação na área de alimentos é que todos os colaboradores do processo da indústria deverão estar paramentados e não só o veterinário, engenheiro, tecnólogo, etc. Aqui reside um problema. Muitos funcionários do “chão de fábrica” desprezam os riscos da contaminação cruzada (microbiologia), mesmo você submetendo-o a treinamento admissional e periódico. Porém como melhorar isso? Através da educação continuada.
É importante você estar sempre educando seu colaborador. De que maneira? Através de instruções orais, visuais e cinestésicas (leia mais aqui). Por isso, dê treinamentos em salas com projeção de mídia (data show), mas também o advirta e instrua nos corredores da fábrica quando presenciar uma não conformidade; deixe cartazes educativos em cada setor detalhando os procedimentos pertinentes, e acima de tudo, não use a priori “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. Definitivamente não funciona! Seja você, o funcionário exemplar que gostaria de ter.
Para que você entenda melhor como funciona essa paramentação na indústria de alimentos é necessário fazer as seguintes considerações:
- Os vestiários devem ser instalados separadamente das áreas de obtenção, manipulação, processamento e armazenamento;
- Deve haver dois vestiários no estabelecimento, um para o sexo feminino e outro para o sexo masculino;
- Eles devem dispor de dimensão e equipamentos suficientes e ainda mantidos, sempre, organizados e em condições higiênicas compatíveis com a produção de alimentos;
- Os vestiários devem possuir áreas separadas e contínuas, mediadas por chuveiros com água quente, para recepção e guarda da roupa civil na primeira fase e troca de uniforme na etapa seguinte;
- Cada operário tem direito a um armário de guarda de sua roupa e pertences (relógio, carteira, celular, etc.);
- Os sapatos devem ser guardados separadamente das roupas;
- Os uniformes devem ser lavados no próprio estabelecimento ou em lavanderias particulares;
- Os uniformes devem ser limpos e trocados diariamente e usados somente dentro do estabelecimento;
- O uniforme completo é composto de:
- Camiseta e calça;
- Touca;
- Bota de borracha ou botas térmicas (áreas refrigeradas);
- Acessório de segurança pessoal (EPIs) – luva de borracha, abafador auricular contra ruídos, capacete (dependendo da função ou empresa).
A partir dessas informações, agora vamos discorrer como deve ser feita a paramentação passo a passo:
1 Passo (Área Civil) – Ao chegar na empresa para o início das atividades, o funcionário entra no vestiário civil, dirige-se até seu armário, retira suas roupas e calçados do corpo, guarda-os devidamente no armário e somente com roupa íntima (calcinha, sutiã ou cueca), dirige-se até ao vestiário dos uniformes.
* Vestir o uniforme em cima da roupa civil é proibido. Os contaminantes contraídos ao longo do percurso casa – empresa, tem grandes chances de ir para o produto final (contaminação cruzada).
** Proibido guardar nos armários alimentos como balas, chocolates, bolachas, etc.
Fonte: Arquivo Pessoal.
2 Passo (transição) – Algumas empresas optam pela instalação de uma catraca entre o vestiário civil e de uniformes, para evitar o livre trânsito entre as duas áreas. É expressamente proibido o anti-fluxo, por isso acaba sendo uma alternativa interessante. Também é possível deixar um inspetor da garantia da qualidade (com check list), no início do turno, para verificar se os colaboradores estão seguindo as normas de qualidade.
Fonte: Alibaba.com
3 passo (Área de Uniformes) – Após adentrar o vestiário dos uniformes, o funcionário dirige-se ao seu armário. Neste momento, sua camiseta, calça e touca já devem estar devidamente lavadas, desinfetadas (com calor), dobradas e guardadas dentro do armário. Finalizado esse processo, ele está devidamente paramentado para iniciar suas atividades na fábrica.
* É importante lembrar que a bota de borracha/ térmica nunca deve estar em contato com os uniformes, portanto algumas empresas optam por deixá-las armazenadas no vestiário de roupa civil, ou no armário dos uniformes, caso tenham um compartimento próprio. Se estiver no civil, o funcionário está autorizado a trazê-la para este setor.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Ao término do turno, o colaborador deve fazer o caminho inverso. Agora ele entra pela área dos uniformes, retira-os depositando em um cesto contentor, dirige-se ao vestiário civil, veste novamente sua roupa e sai. Vale lembrar que se há catraca giratória, o acesso será por outro corredor.
A correta paramentação evita-se os riscos inerentes à contaminação cruzada. Se você está tendo problemas com seus funcionários neste setor procure identificar onde estão as falhas e corrija-as. A qualidade do seu produto também está aqui.
Legislações:
- Anvisa Resolução RDC nº 216;
- MAPA;
- MAPA | Concursos em Andamento;
- Portal Anvisa | Cartilha pelas boas práticas para serviços de alimentação.
Créditos de imagem: CPT.
Marcelo Garcia
Muito didático
Humberto Cunha
Obrigado Ju.
Camila Miret
Muito bom, Humberto! Eu adicionaria mais um detalhe a ser considerado, que é a localização em si dos vestiários. Há empresas em que o colaborador, após paramentação completa, precisa passar em área externa, próximo de caminhões, fontes de contaminação (por exemplo, barro, poeira) e está sujeito a intempéries (ex. chuva), para acessar as áreas produtivas. E aí, ele entra na produção com o uniforme sujo ou molhado. Por isso, o acesso deveria ser feito por passagem coberta e protegida. Abraço
Humberto Cunha
Excelente contribuição Camila. Seu comentário foi muito pertinente, abraços.
Valéria Ribeiro de Almeida
Humberto bom dia,
Uma dúvida que tenho faz um tempo é: e a questão do uso dos sanitários durante o turno de produção? Porque poderíamos ter esse excelente sistema mas e se o funcionário no meio do turno usa um sanitário que não oferece as condições adequadas. Por favor como seria a melhor opção para esse procedimento no começo e fim do turno?
Grata,
Valéria
Humberto V. F. da Cunha
Valéria, bom dia.
De fato não podemos limitar o uso do banheiro por parte dos funcionários durante o turno de produção, evidentemente que existe bom senso para que estes não se aproveitem da situação para “matar serviço”. Todavia concordo contigo, aqui existe um ponto complicado para muitas empresas, o banheiro de uso comum e de produção. Então como proceder? O segredo está na BARREIRA SANITÁRIA ou GABINETE DE HIGIENIZAÇÃO, afinal higienizando muito bem as mãos e botas com sabão,água corrente, papel toalha descartável e depois álcool 70%, o funcionário estaria apto para continuar suas atividades. Além disso, lhe daria os seguintes conselhos:
1) Quando o funcionário sair para o banheiro durante o turno de produção em andamento, as luvas, aventais, facas, etc. deve permanecer no setor (NUNCA permitir a saída destes utensílios, pois sabe lá Deus o que ele fará com isso).
2) Mantenha banheiros sempre limpos. Se o banheiro de uso comum é um ponto complicado e está sendo um risco potencial para contaminação cruzada, deixe um funcionário responsável por esta limpeza constantemente, repondo sabonete líquido, álcool gel 70%, papel toalha, etc.; raspando piso com frequência evitando água residual; orientando os funcionários para uso correto do banheiro, etc.
3) Cartazes educativos. Sempre que possível TROQUE estes cartazes educativos como “Mantenha o banheiro sempre limpo”, “Após o uso, dê descarga”, etc. O funcionário se acostuma visualmente com essas informações a passa a encarar estes cartazes como meros objetos decorativos. Insista na educação continuada.
4) Por falar em educação continuada foque com carinho nos treinamentos. Lidar com funcionário é um desafio, isso não é segredo pra ninguém, e na minha opinião grande parte das empresas menosprezam este ponto fundamental, pois dá muito trabalho e os frutos só são colhidos a longo prazo (tanto admissional, quanto os treinamentos de reciclagem).
5) Coloque um funcionário (inspetor da GQ)para monitorar este setor com maior frequência, pelo menos por um tempo. Este funcionário, que deve ser de confiança, lhe ajudará a dar um suporte.
6) Nunca permitir acesso a banheiros estranhos ao seu setor, isto é, se o funcionário atua numa área considerada suja, ele não deve usar o banheiro da área limpa e vice e versa, evitando-se a contaminação cruzada.
* Quanto a sua outra pergunta sobre o horário do almoço, o princípio é o mesmo.
Valéria Ribeiro de Almeida
E também para o horário do almoço, como seria o melhor procedimento?
Grata,
Valéria
Fatima Anjo
Otimo conteudo, certas informações desconhecia. Legal
Izabel Nataly
Excelente conteúdo! Parabéns.