Neurocisticercose: culpa mesmo da carne crua ou do meio ambiente?

2 min leitura

Terça – feira (01/03/2016), o ex-jogador de futebol Leonardo do Sport Club de Recife foi declarado morto. Segundo o relatório médico, a morte deu-se por falência múltipla dos órgãos em decorrência de uma neurocisticercose (acompanhe a notícia aqui).

Ao ler algumas reportagens descrevendo “…neurocisticercose, doença causada pela ingestão da carne de porco mal preparada”, com ímpeto pensei: preciso escrever para o blog FOOD SAFETY BRAZIL afinal, a informação está equivocada. Como profissional da saúde, devo replicar informações que conscientizem corretamente a população.

Primeiramente é preciso saber que a Taenia solium é a tênia da carne suína e a Taenia saginata é a da carne bovina. Esses dois cestódeos causam doença intestinal (teníase), enquanto que os ovos da T. solium desenvolvem infecções somáticas (cisticercose). Popularmente são conhecidas por solitária e lombriga na cabeça, respectivamente (leia mais sobre).

A teníase é adquirida através da ingestão de carne bovina ou suína mal cozida que contém as larvas. Quando o homem ingere, acidentalmente, os ovos de T. solium, adquire a cisticercose (neurocisticercose se houver migração do cisticerco para o cérebro). A cisticercose humana por ingestão de ovos de T. saginata não ocorre ou é extremamente rara. Da mesma forma, a cisticercose animal ocorre pela ingestão de ovos de T. saginata ou da T. solium.

Figura : Ciclo teníase-cisticercose (T. solium)

Figura : Ciclo teníase-cisticercose (T. solium)

Fonte: COC Educação

Logo, a informação correta seria “… neurocisticercose, doença causada pela ingestão de ovos da Taenia solium (verme do porco) presentes nas frutas e verduras mal higienizadas e água contaminada”. É comum essa confusão pelo fato do suíno fazer parte do ciclo da teníase – cisticercose, todavia compreender o comportamento dessa doença permite replicarmos as informações verdadeiras.

Abaixo seguem algumas informações importantes sobre a prevenção e controle da teníase e cisticercose:

Trabalho Educativo: promoção de extenso e permanente trabalho educativo nas escolas e nas comunidades. A aplicação prática dos princípios básicos de higiene pessoal e o conhecimento dos principais meios de contaminação constituem-se medidas importantes de profilaxia.

Inspeção e Fiscalização da Carne: Essa medida visa reduzir, ao menor nível possível, a comercialização ou o consumo de carne contaminada por cisticercos, orientar o produtor sobre medidas de aproveitamento da carcaça (salga, congelamento, graxaria, conforme a intensidade da infecção), reduzindo perdas financeiras e dando segurança para o consumidor.

Fiscalização de Produtos de Origem Vegetal: A irrigação de hortas e pomares com água de rios e córregos que recebam esgoto ou outras fontes de águas contaminadas deve ser coibida através de rigorosa fiscalização, evitando a comercialização ou o uso de vegetais contaminados por ovos de Taenia.

Cuidados na Suinocultura: Impedir o acesso do suíno às fezes humanas, à água e alimentos contaminados com material fecal. Essa é a forma de evitar a cisticercose suína.

REFERÊNCIAS

MEDEIROS, F.; TOZZETTI, D.; GIMENES, R.; NEVES, M. F. Complexo Teníase-Cisticercose. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária – ISSN: 1679-7353. Ano VI, n. 11, 2008.

PFUETZENREITER, M. R.; ÁVILA-PIRES, F. D. Epidemiologia da teníase/cisticercose por Taenia solium e Taenia saginata. Ciência Rural, v. 30, n. 3, p. 541-548, 2000.

TAKAYANAGUI, O. M.; LEITE, J. P. Neurocysticercosis. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. v. 34, n. 3, 2001.

Fonte de imagem: Clasf.

 

10 thoughts on

Neurocisticercose: culpa mesmo da carne crua ou do meio ambiente?

  • Érica Vianna

    Importante comentar também que a ingestão dos ovos poderá ocorrer não apenas pelo consumo de alimentos mal higienizados, mas também por hábitos de higiene inadequados. Por exemplo, não lavar as mãos após eventual contaminação (contato com ovos presentes nas fezes) e ingestão ao colocar a mão na boca ou manipular alimentos. Infelizmente a falta de higiene facilita a auto-infecção.

  • Loiane Souza

    Excelente explanação Humberto. Convivo frequentemente com situações nas quais preciso explicar detalhamente este assunto.
    Com o tempo e empenho dos demais colegas, vamos desmistificando a carne suína.

  • Eliane Brolazo

    Faltou uma medida de profilaxia, a mais importante: saneamento básico, pois a distribuição de água potável e rede de esgoto interrompem o ciclo de vida e a contaminação destes, de muitos outros parasitas e infecções de transmissão oro-fecal.

    • Humberto Vinícius Faria da Cunha

      Olá Eliane. Concordo contigo e obrigado pela participação. Meu objetivo neste texto é mostrar que a mídia desconhece a informação, sendo estes os maiores responsáveis pela formação de opinião. Abraços!

  • Nirse Ruscheinsky Breternitz

    Vale ressaltar também que o consumo de carne de pescados crua deve ser feita com cautela (ou evitada, para os mais receosos) pelos mesmos motivos de se consumir apenas carnes suínas e bovinas bem passadas.

  • Víctor Roberto

    Estimado Humberto, es un gusto saludarte y leer tu comentario acerca de este tema de salud publica, que también nos atañe a todos y en especial a profesionales que estamos en el rubro como zootecnistas, agrónomos, médicos humanos y como es en tu caso médicos veterinarios, y sobre todo a las autoridades, sin duda hay que diferenciar los ciclos de vida de los parásitos así como los organismos que serán los huéspedes temporales y/o definitivos, definitivamente los casos son diversos ya señalados anteriormente por los amigos, como higiene personal de las manos, verduras a las cuales se les vierte aguas contaminadas y su mal manejo de estos en las casas o la decidía de no lavarlas correctamente antes de su preparación sobre todo aquellas que son de fácil contacto a contaminantes por heces animal y humanas e incluso químicos como son las de hoja o tomates que están al ambiente.
    la parte donde si me gustaría hacer bastante énfasis en mi calidad de Ing. Zootecnista es la crianza animal, donde de manera inescrupulosa existen gente que crían de manera clandestina animales e incluso los alimentan con residuos de desecho de casa, mercados, restaurantes y incluso de hospitales, sin ningún cuidado de la salud publica y donde la carne que se consigue de estas crianzas van a los mercados y estos a los platos de lo consumidores, siempre se sataniza al porcino con estas practicas, y como hemos visto no solo el porcino te puede infectar, pero si hay un animal que infecta de manera general y ese es el humano que sin tener una pizca de cuidado y responsabilidad contamina los campos de cultivos con aguas hervidas, cría sus animales con basura o desperdicios y no guarda las medidas higiene personal de sus propio entorno familiar, personalmente tuve un caso cuando estuve en la universidad denominado Sarcocistiosis (Alpacas), donde estas se infectaron en una parcela o potrero y llegaron al centro experimental de la universidad y empezaron a morir, fue una experiencia en la cual desde ese momento mi segundo ciclo de estudio me interese mucho por conocer estas enfermedades y donde aprendí que todo lo que hagamos debemos ser muy racionales y responsables ya que los interés y la deuda lo asumirán nuestras futuras generaciones, a pesar de mi juventud trato de cambiar mentalidades, espero podamos hacer algo por este medio he ir informando mas porque sin duda esto va a reventar un día, no olvidemos que el clima esta cambiando y con ello las infecciones parasitarias, bacterianas y víricas serán mucho mas agresivas.
    un saludo a la distancia.
    Víctor Roberto
    Ing. Zootecnia
    Porcinos-Postura Comercial
    E-mail: vicroj_jr@hotmail.com

    • Humberto Vinícius Faria da Cunha

      Hola Victor, ¿que tal?

      ¿ De donde eres? En primer lugar me gustaría decir que es un gran placer tenerle acá. Estoy de acuerdo con sus palabras, tenemos una gran importancia para la salud pública y nuestro objetivo es aclarar a los consumidores sobre las zoonosis.
      Me encantó la recepción de un amigo extranjero acá. abrazos!

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