Dias atrás, falei aqui que a distinção no comportamento de partículas nano em relação às partículas macro do mesmo elemento químico resulta em diferentes propriedades físico-químicas, que podem oferecer aplicações de interesse industrial. Os preocupados certamente se perguntaram se este comportamento distinto não resulta em efeitos biológicos inesperados, como a toxicidade. Essa pergunta é pertinente, já que os nanoalimentos entram em contato direto com órgãos humanos e, assim, podem elevar a exposição a diferentes nanopartículas, dependendo da sua concentração no alimento e da quantidade consumida desse alimento.
A toxicidade de nanopartículas (nanotoxicidade) é sem dúvida um assunto polêmico e infelizmente ainda pouco esclarecido. Os dados após a exposição oral são limitados e pouco se sabe sobre a biodisponibilidade, biodistribuição, rotas e a toxicidade final após a exposição a nanopartículas em alimentos.
O que se sabe (e é consenso) é que partículas menores são absorvidas prontamente, de maneira mais rápida e têm uma distribuição tecidual generalizada em comparação com as partículas maiores. Entretanto, não é possível generalizar a toxicidade de nanopartículas baseando-se somente nas suas características físico-químicas. E assim, não é possível predizer os efeitos de uma nanopartícula não testada.
Podemos dizer que a toxicidade de nanopartículas é relativa, uma vez que elas não são nem inerentemente tóxicas, nem inerentemente seguras: como para todas as moléculas, esta decisão deve ser baseada na estrutura molecular, ambiente biológico, grau de exposição e a susceptibilidade do hospedeiro. Portanto, podemos bater o martelo de que o uso seguro da nanotecnologia nos alimentos depende de uma avaliação do risco de nanopartículas caso a caso, incluindo uma caracterização e avaliação in silico, in vitro e in vivo.
Devemos ser cautelosos, mas não devemos ter medo! Só assim poderemos abraçar o desenvolvimento da nanotecnologia e sua aplicação na ciência dos alimentos, e assim, acompanhar o seu sucesso em outras áreas.
Abaixo, algumas referências que deram suporte a esse post:
Barlow, S. et al. The potential risks arising from nanoscience and nanotechnologies on food and feed safety. EFSA J Eur Comm 958, 1–39 (2009).
Lankoff, A. et al. The effect of agglomeration state of silver and titanium dioxide nanoparticles on cellular response of HepG2, A549 and THP-1 cells. Toxicology Letters 208, 197–213 (2012).
Periasamy, V. S. et al. Identification of titanium dioxide nanoparticles in food products: Induce intracellular oxidative stress mediated by TNF and CYP1A genes in human lung fibroblast cells. Environmental Toxicology and Pharmacology 39, 176–186 (2015).
Powell, J. J., Faria, N., Thomas-McKay, E. & Pele, L. C. Origin and fate of dietary nanoparticles and microparticles in the gastrointestinal tract. Journal of autoimmunity 34, J226–J233 (2010).
Xiaojia H., Huey-Min H. Nanotechnology in food science: Functionality, applicability, and safety assessment. journal of food and drug analysis, 1-1 1 (2016).
Créditos de imagem: Unilab.