Caiu na rede é achocolatado?

3 min leitura

Se você é da área de alimentos, certamente foi marcado na publicação que está circulando nas mídias sociais a respeito do caso do achocolatado da ITAMBÉ, cuja marca foi associada à morte de uma criança de dois anos em Cuiabá. Também já deve ter recebido os supostos áudios de testemunhas do caso pelos grupos de WhatsApp. E certamente já presenciou a preocupação com o caso por mães ou cuidadoras de crianças, principais consumidoras do produto, muito desapontadas com a credibilidade do produto (deste e de qualquer outro similar, diga-se de passagem).

De acordo com o G1, há inquérito aberto para apuração dos fatos após denúncia que uma criança de dois anos faleceu por ter consumido o produto em questão. Por medida CAUTELAR (cautela = precaução, cuidado), a ANVISA solicitou o recolhimento do lote e proibição de comercialização do achocolatado por período determinado. Os fatos estão sendo apurados, e a empresa se pronunciou informando que não há qualquer reclamação similar deste ou outro lote do produto. A investigação e a perícia dirão se há alguma relação entre a morte do menino e o produto.

Quem é da indústria sabe que é altamente improvável que uma única caixinha de achocolatado tenha sido contaminada no processo produtivo, que ocorre continuamente ou em bateladas com grande volume de produção. Muitas hipóteses poderiam ser levantadas e questionadas, mas todas serão esclarecidas pela perícia. O papel de esclarecimento é das autoridades competentes e, portanto, temos que aguardar.

Não é novidade que as mídias sociais mudaram o mundo e a comunicação entre as pessoas, aumentando exponencialmente a velocidade de trocas de informações. Tudo isso permite alavancar ou derrubar marcas em questão de horas. Nada passa despercebido pelo botão COMPARTILHAR das redes sociais. Ávidos por INFORMAR, os usuários repassam a notícia com rapidez e agilidade impressionantes. E assim se faz a notícia. Se procede ou não, não há tempo para VERIFICAR. Esses novos tempos me assustam. Assustam também a você?

Nesse caso, fiquei impressionada que os supostos áudios circulando pelo WhatsApp são sempre seguidos de frases do gênero: “Não sou de compartilhar, mas veio de fonte segura”; “Veio de uma pessoa que trabalha na delegacia”. Parece um verdadeiro telefone sem fio. A fonte é SEGURA, mas ninguém cita. É CONFIÁVEL, mas ninguém sabe quem é. Por favor, caros leitores, não sejamos tão inocentes.

Além disso, ressuscitaram o caso do Toddynho® que é de 2014 e lá se foram milhares de compartilhamentos, como se fosse atual, sem sequer observar a data da notícia. Meus amigos de boa índole, contem até dez antes de repassar as informações! Confiram a data e a credibilidade do meio de informação. Não conhecem? Sugiro que aguardem até repassar adiante.

Claro que são necessárias cautela e atenção para casos que envolvem recolhimento e contaminação de produtos. Isso é fundamental para manter a segurança dos alimentos, que é o nosso principal objetivo, mas é necessário peneirar o correto do duvidoso. Ao COMPARTILHAR tudo que cai na rede, podemos colocar em risco uma marca, uma empresa, a reputação de funcionários e seus empregos.

Se o caso do achocolatado ITAMBÉ for esclarecido e não houver qualquer relação com a morte da criança, será que todos os que compartilharam a notícia também se pronunciarão a respeito? Ao olhar a marca nas prateleiras, você se lembrará que o caso não tinha relação com a morte ou ficará sempre com o pé atrás? Qual será a herança disso para essa marca?

Dê uma olhada no que escreveu nossa editora-chefe, Juliane Dias em “Sensacionalismo x Realidade: quem vence nas mídias sociais?” e você verá que o pedido de desculpas não gera tanto interesse, não dá tanto IBOPE.

Caros colegas de profissão, treinem suas equipes de Gestão de Crises e façam sua parte. E rezem muito para não cair na rede!

Créditos de imagem: Nação Verde.

19 thoughts on

Caiu na rede é achocolatado?

  • Juliana Levorato

    Excelente Grazi!!!De muita utilidade seu post!!!

  • Silvana Chaves

    Show Grazi! Parabéns!
    Sil

  • Everton Santos

    Concordo ! Amanhã quem compartilhou vai esquecer e a marca nunca deixará de ser famigerada.

    O que me intriga é a posição da Anvisa, solicitar recolher algo que pode estar com a qualidade perfeita. Fico imaginando se eles vão ressarcir os gastos do Recall ou bancar uma ação de marketing caso a medida cautelar seja exagerada.

    Parabéns por ajudar expor a verdade.

  • Ingrid Mengue Klaus

    Parabéns esse tipo de esclarecimento é que realmente precisa ser compartilhado!!!!

  • Julia

    Perfeito!

  • Rafael Cella

    Muito bem colocado. Também achei muito estranho um problema tão grave com uma unidade do produto.
    Ví em um portal de notícias (que não conheço, mas é da região do ocorrido) uma suspeita de que o achocolatado foi “batizado”.

  • Sabrina Fontes

    Falou TUDO!

  • Milena

    Oi Graziela,concordo em parte com o texto…porém, não podemos dizer que não seja impossível ter uma única caixinha, lote e/ou produto contaminado, seja lá qual for o produto…é necessário avaliar com muito mais cautela o caso, há pessoas que não fazem qualquer tipo de reclamação, apenas reclamam em casa e fazem o descarte do produto, outras consomem acho estranho o sabor, podem até passar mal e não ligar uma coisa a outra. Quem já trabalhou na área ou trabalha sabem ainta que podem e infelizmente existem vários tipos de sabotagens dentro de uma empresa que pode ser cometidos por alguns colaboradores insatisfeitos com o seu trabalho, não é mesmo!!!E é, por isto, que existe a gestão com food defense e/ou gestão de incidentes ou crises….não é mesmo? O julgamento de qualquer deste tipo de incidente demanda de uma boa avaliação de causa raiz por parte da empresa para depois julgarmos se o mesmo foi procedente ou não, mesmo sendo sabotagem. Abraços, Milena

    • Graziela Junqueira

      Olá Milena, obrigada por partilhar sua opinião.

      Realmente, não é impossível uma contaminação de uma única unidade de produto, por isso no texto usei o termo “altamente improvável”. Impossível não.

      De todo modo, o ponto chave do texto é a disseminação da informação sem qualquer preocupação com a veracidade dos fatos. Ou o fato de um assunto puxar outro (como o Toddynho de 2014) e fazer com que esse seja tratado como atual.
      Quanto ao caso do Itambé, deixemos a apuração para a Justiça, não é mesmo?

      Até mais.
      Graziela.

    • samuel

      Pois eu digo e afirmo que é impossivel só uma caixinha estar contaminada, e explico o porque: Quando se envasa achocolatado ou leite longa vida, o envase ocorre apartir de um tanque de 10 mil ou 20mil litros, dai pensar que só uma caixinha esta contaminada, e de uma ignorancia sem tamanha, agora se contaminaram apos a produção, ou até mesmo na casa do consumidor, precisa ser esclarecido e investigado, sai por ai defamando a marca, e de muita irresponsabilidade, obs: trabalho com produtos longa vida á quase 20 anos

    • Milena

      Sim…Isto mesmo e acho super correto a ação realizada pela ANVISA.

  • Josete

    Eu rezo…

  • Valdir

    A manchete é sempre grande e a resposta em caso de resultado negativo tem no maximo 5 segundos da midia. O estrago sempre é grande.

  • Jean Carlos Brustolin

    Muito bom o Post.

    Realmente nem sempre a verdade, gera compartilhamentos.
    Basta ver os casos que tiveram a Coca-Cola, a Tetra Pak e outras grandes empresas.
    Fico decepcionado e triste quando vejo pessoas que atuam na área de alimentos, compartilhando esse tipo de notícia, sem ao menos ver a versão da empresa.

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