Com certeza o maior desejo de todo profissional que trabalha na área de segurança dos alimentos é que as indústrias de alimentos do Brasil possam ser reconhecidas pelo mais alto nível de qualidade e eficiência neste tema tão importante para os consumidores atualmente. E qual a melhor forma para se alcançar isso se não pela certificação nas normas rigorosas do BRC, FSSC 22000 ou ainda outra qualquer reconhecida pelo GSFI?
Até aí tudo bem, visto que o número de empresas que têm alcançado certificações deste tipo só tem aumentado em nosso país conforme já foi inclusive noticiado aqui no blog Food Safety Brazil. Isso demonstra a evolução da nossa indústria de alimentos neste ponto. São dados que comprovam a busca das empresas por esse reconhecimento por diversas motivações, mas quem sai ganhando com tudo isso logicamente é o consumidor por dispor de uma variedade maior de alimentos que são produzidos de forma segura. A evolução deste tema é constante e basta comparar as indústrias de alimentos no país de hoje com aquelas de 30 anos atrás, ou até mesmo de um período mais curto e recente de nossa história.
Para as grandes empresas que dispõem de um sistema de segurança e qualidade robusto e bem implementado e profissionais altamente qualificados não parece ser tão difícil alcançar este feito (e teoricamente não é), mas as pequenas e médias indústrias que almejam alcançar este patamar de “excelência” muitas vezes enxergam uma certificação como um status inatingível.
Sabemos que nossas legislações que tratam especificamente da produção e comercialização de alimentos são bastante exigentes e por questões adversas (seja financeira, estrutural, organizacional ou outras) algumas empresas não conseguem atender ou se adequar a tantos requisitos exigidos. Com exceção de algumas que sabidamente não cumprem porque não querem, existem várias indústrias de alimentos menores espalhadas de Norte a Sul do Brasil que demonstram boa vontade em seguir por este “bom caminho”, mas que dificilmente conseguirão chegar lá.
Um exemplo recente e que posso citar é de um gestor da qualidade de uma pequena agroindústria de polpa de frutas. A indústria tinha tudo para implementar um Sistema de Gestão de Segurança de Alimentos, mas o gestor, em um primeiro contato com a Norma e seus inúmeros itens, logo se deu conta de que por maior que fosse seu esforço juntamente com a direção da empresa, não seria possível cumprir integralmente a Norma por questões financeiras e infraestrutura ainda inadequada para o processamento mínimo do seu produto. E que mesmo participando de um treinamento sobre uma Norma de segurança de alimentos bastante requerida pela maioria das empresas, demonstrou sua frustração ao perceber que para aquela norma infelizmente não conseguiria certificar-se. Este caso bem que poderia ser raro, no entanto é mais comum do que se possa imaginar. São situações como estas que nos fazem indagar: “E a culpa é de quem?” Com certeza não é uma boa pergunta, pois o melhor seria questionar: “Como fazer com que essas indústrias consigam enxergar uma certificação FSSC 22000, por exemplo, como algo acessível?” Também não é tarefa fácil responder a isso, mas certamente nos leva a pensar seriamente neste assunto. Ainda mais agora, que esta norma passou por uma nova revisão e acrescentou mais alguns requisitos aos seus não tão poucos itens já existentes.
Algumas exceções poderiam ser abertas, obviamente desde que não prejudiquem a finalidade da certificação propriamente dita, ou seja, a segurança de alimentos. Poderiam direcionar alguns requisitos para uma empresa previamente classificada pelo seu porte, quantidade de funcionários ou outro parâmetro. Enfim, buscar medidas para que a acessibilidade à segurança de alimentos e principalmente a uma certificação possa ser alcançada por todos (grandes e pequenos).
Difundir ainda mais este conceito de segurança de alimentos e sua importância para os produtores e consumidores de alimentos também seria uma forma para que canais de discussão fossem abertos e que seu aperfeiçoamento pudesse ocorrer.
Espero que, assim como eu, outros profissionais possam pensar neste assunto com maior frequência e dedicação e que possamos encontrar uma forma de reverter essa realidade indesejada pela qual ainda passam muitas indústrias de alimentos do nosso Brasil.
José Gonçalves de Miranda Junior é tecnólogo agroindustrial de alimentos pela Universidade do Estado do Pará e pós-graduado em engenharia de alimentos e desenvolvimento de produtos pelo Instituto Mauá de Tecnologia. É Gestor da Qualidade na empresa Caiba Indústria e Comércio S/A.
Jhonatas Moraes
José, excelente texto e ponto de vista.
Essa é uma realidade vivida pela grande maioria das empresas do Brasil, visto que o início se da, em muitos casos, de maneira informal, com pessoas não conhecedoras das legislações básicas para produção de alimentos (BPF), muito menos de uma “norma voluntária” (BRC, FSSC22000, IFS, etc), pois NÃO ESTA EM NOSSA CULTURA.
E concordo com o Sr. nessa “flexibilização”, se assim podemos dizer, claro com todo embasamento e cuidado para não banalizar os requisitos, justamente para conseguirmos implantar essa CULTURA, e já no momento da abertura de uma indústria, todos os envolvidos já tenham essa consciência, e iniciem da maneira mais adequada, e quando for convencional, não sofram a dor de grande investimento, ou mesmo conscientização dos colaboradores, para se lograr de uma certificação.
E vamos juntos discutirmos esses assuntos, pois, ALIMENTO É COISA SÉRIA, e todo cuidado é pouco, não podemos brincar de produzir alimentos, assim como não se brinca na produção de um automóvel.
raquel coler
Olá, ótimo texto. Mas enfim, continuamos sem solução? Porque os órgãos responsáveis nao fazem algo possível de ser alcansados para pequenos, eu digo PEQUENOS tipo MEI. A Vig. sanitária nao dá alvará para quem quer fazer comida na própria cozinha em um negócio extremamente pequeno. MEU DEUS! Se for uma cozinha bem equipada, arejada, limpa, organizada, usando toucas, luvas… lixeira com pedal e longe da manipulação dos alimentos….tudo o que for possível para fazer algo bem feito, higiênico….. PORQUE NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR EM PAZ? Quando for grande, se adeque às normas dos grandes, mas para um negócio do MEI, pelo Amor de Deus….. ABSURDO 🙁 Triste notícia saber que muitos (quase todos) acabam fazendo informal e às margens da lei mesmo…. Alei devia ser mais flexivel porém sem nunca comprometer a saúde… é possível em uma cozinha bem estruturada!