Se agrotóxico faz mal à saúde, por que é permitida sua aplicação na agricultura?

2 min leitura

Como vimos em post recentemente publicado, altos níveis de resíduos de pesticidas foram identificados em dezenas de amostras de alimentos, em estudo realizado pela PROTESTE.

Hoje quero ajudar a esclarecer algumas dúvidas comuns e recorrentes sobre este tema: Se fazem mal à saúde, por que o governo permite o uso de pesticidas? Existe um nível seguro? Por que são encontrados alimentos com excesso de pesticidas e outros não? A qual risco estou submetido ao consumir alimentos com agrotóxicos?

Para determinar se um agrotóxico pode ser aprovado para aplicação na agricultura, são conduzidos estudos toxicológicos em animais, para avaliar a segurança da substância, além do nível máximo de resíduo do agrotóxico sem efeito tóxico, ou seja, a dose máxima que pode ser ingerida sem causar danos à saúde. Nos estudos, os animais recebem doses diárias do agrotóxico na sua ração, por mais da metade de sua vida, e ao longo do tempo são feitas avaliações bioquímicas e exames histopatológicos, observando se há efeito cancerígeno. Já nas gerações seguintes destes animais-testes, observam-se efeitos sobre a fertilidade e teratogênicos. Desta forma, são estabelecidos níveis de resíduo de agrotóxico sem efeito tóxico aos animais testes, ou seja, a quantidade máxima de agrotóxico que pode ser ingerida sem causar danos à saúde. A partir deste valor, é calculada a IDA (Ingestão Diária Aceitável) para o homem, cujo valor representa a quantidade diária que pode ser consumida ao longo de toda a vida sem apresentar risco à saúde humana. Neste cálculo, considera-se uma margem elevada de segurança: cem vezes menos do que o valor calculado para animais. Após os resultados destes estudos, são aprovados (ou não) os agrotóxicos e seus limites, e é autorizada sua utilização por órgãos competentes (no caso do Brasil, pela ANVISA). Por fim, os agrotóxicos são então registrados no MAPA.

Existem dois problemas, atualmente, que aumentam o risco à nossa saúde, quando consumimos alimentos que não são orgânicos:

  1. Aplicação de agrotóxicos NÃO AUTORIZADOS, ou seja, que não foram avaliados do ponto de vista de toxicidade ou, pior, foram avaliados e reprovados.
  2. Aplicação de agrotóxico em quantidade excessiva, não respeitando os limites de resíduos máximos estipulados durante os testes toxicológicos.
  3. Não cumprimento do tempo de carência estimado (intervalo de tempo entre a última aplicação do agrotóxico e a colheita), o que resulta também em excessiva presença de resíduos de agrotóxicos no alimento.

Nestes casos, o risco associado à saúde é variado. Há diferentes efeitos tóxicos e graus de toxicidade. Muitos atuam no sistema nervoso central (tremores, perda de memória, variação da personalidade), outros podem apresentar efeitos teratogênicos e carcinogênicos ao longo do tempo.

Desta forma, podemos concluir que, ainda que existam estudos toxicológicos, que estejam aprovados os agrotóxicos e seus LMRs estabelecidos (Limite Máximo de Resíduos permitido no alimento, para não oferecer risco à saúde), muito ainda precisa ser feito no Brasil em relação às Boas Práticas Agrícolas. A correta capacitação dos agricultores quanto ao uso e aplicação de agrotóxicos nas culturas, assim como a supervisão de seu trabalho durante o manejo de agrotóxico no campo, são ações mínimas que precisam ser realizadas urgentemente. Enquanto não houver garantia deste controle, continuaremos a comer alimentos com alto risco à saúde humana.

Créditos de imagem: Pensamento Verde.

4 thoughts on

Se agrotóxico faz mal à saúde, por que é permitida sua aplicação na agricultura?

  • Adriana Nodari

    Parabéns Vanessa! Muito bom seu texto!

    • vanessa cantanhede

      Olá Adriana, obrigada! Que bom que gostou.

  • Juliane Dias Gonçalves

    Van, gostei muito das forma organizada e sintética como mostrou como são gerenciados, de forma geral, os riscos dos agrotóxicos.
    Contudo eu responderia de forma diferente o título do post: os agrotóxicos são permitidos porque ainda não se chegou a uma alternativa tecnológica tão produtiva quando o modelo tradicional. Eliminar/reduzir pragas que acabam com a lavoura é imprescindível, bem como investimentos em cultivo orgânico de ponta (ou quem sabe até um terceiro modelo de agricultura que não foi inventado?).
    A resposta para esta pergunta, a meu ver, é menos técnica e mais econômica.

    • vanessa cantanhede

      Obrigada Ju, você tem toda razão. Particularmente, minha opinião é que se faz necessária a utilização de agrotóxicos no modelo de agronegócio brasileiro, para a própria “sobrevivência” deste. O problema está nas práticas inadequadas, gerada pela falta capacitação/conhecimento dos agricultores e aplicadores, supervisão, fiscalização, além de outros motivos… Consequência: produtos com resíduos de agrotóxicos acima do permitido, ou não aprovados, representando risco à saúde dos consumidores.

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