Assinale, se para você as decisões abaixo, são consideradas éticas (E) e não éticas (NE):
( ) O limite para aceitação para aflatoxinas* em um tipo de alimento é 10 ppm. Uma indústria acaba de receber dois caminhões, um com 12 ppm e um segundo com 0 deste contaminante. Devolver o lote contaminado ao fornecedor significará parada de produção por causa da escassez de matéria prima e então a direção decide misturar os dois lotes para ter uma média dentro dos padrões legais.
( ) Um lote de produto apresentou resíduos de antibióticos acima do tolerado para um cliente no exterior. Como no Brasil não há limite legal estabelecido para este contaminante, ele é destinado para o mercado interno.
( ) Um caminhão de carnes foi entregue em uma empresa de grande porte e foi rejeitado por estar acima da temperatura de segurança. O dono da carga solicita então que o caminhoneiro aguarde a temperatura se normalizar e manda entregar em um outro cliente.
( ) Um lote de produto apresenta-se positivo para Salmonella. A empresa repete a análise mais uma vez e ela dá negativo. O caso é arquivado como falso positivo e a empresa comercializa o produto normalmente.
( ) Uma empresa recebe a notificação de um fornecedor que ele passou a fabricar um produto a base de ovo na mesma linha de fabricação, e que portanto, por causa deste compartilhamento, as matérias-primas usadas vão passar a apresentar traços deste alergênico. Esse fornecedor apresenta um preço muito interessante, não valendo a pena trocá-lo. O estoque de embalagens é muito alto na empresa, e destruí-las e substituí-las por novas seria oneroso. Não havendo legislação que obrigue a rotulagem de traços nas embalagens brasileiras, a empresa opta por vir a mudar suas embalagens quando os estoques acabarem.
( ) Um atravessador revende produto a base de milho Geneticamente Modificado. Esse revendedor descobriu que o processo de fabricação normal do produto causa uma mudança na estrutura de DNA do milho, e quando realizado teste laboratorial, este apresenta resultado negativo para Organismo Geneticamente Modificado. Esse atravessador emite laudos que o produto que revende e Livre de OGM, produto de maior valor agregado e alta aceitação.
(*) Substância reconhecidamente cancerígena
Se você assinalou pelo menos uma questão como NE, um espaço se abre para debatermos questões muito profundas na cadeia produtiva de alimentos em nosso país, principalmente por haver decisões protegidas por legislação. Entende-se que diferenças entre legislações nacionais e internacionais possam existir tanto por razões protecionistas quando tecnicamente embasadas.
De um lado, está a sobrevivência e a competitividade da indústria, e de outro, a proteção da saúde da população.
O que pode ser feito para equilibrar a saúde de nossas empresas e nossos consumidores?
isabel silveira
Juliane, boa tarde, como vai?
Entendo que todas as questões apresentadas são NE, mas como ainda engatinho no assunto, posso estar errada.
Gostaria de saber o que de fato tem sido feito em termos de legislação para darmos um ou muitos passos à frente.
Certamente existem muitos interesses comerciais que nem sequer imaginamos, entre outras questões legais e éticas etc que acabam tornando este assunto espinhoso demais.Mas ele é tão importante…
Quem , no Brasil, esta a frente desta questão, tipo erguendo a bandeira da alimentação segura? Tem algum partido, universidade, enfim…Uma Voz que represente a todos nós? O FOOD SAFETY BRAZIl pode ser parte desta Voz?
Não vemos este assunto como um tema ligado a cidadania, nem muito discutido de forma mais acessível à população.
O fato é que há um contingente humano imenso no planeta,( e no Brasil!!) alimentar todas essas pessoas é ou não viável?
E alimentar com segurança? Impossível??
E alimentar sem segurança, qual o custo e impacto na saúde?
Na sua opinião, o que devemos fazer, como dar voz para este assunto?
Cada dia que passa , quanto mais leio e aprendo, mais perplexa fico.A medida que toda essa leitura vai tomando um corpo,percebo que algo muito sério e letal esta nos espreitando.
Principalmente em nosso país, onde informação de qualidade e fundamentada é privilégio de poucos e não um direito de todos e usada de forma parcial e conforme a conveniência destes poucos…
Juliane, estou sendo alarmista?
Um abraço e obrigada.
Isabel
Marcelo Garcia
Isabel,
Com certeza um dos propósitos do blog é estimular a reflexão e consequentemente defender a segurança de alimentos. Seria injusto dizer que não temos militantes desta causa em nosso país: Proteste, Idec, Ministério Público em ações específicas, Senai, legisladores e centros de pesquisa. Um voz uníssona como a que você idealiza, agilizando e desobstruindo caminhos, realmente parece não ter sido estabelecida ainda, porém certamente daríamos a mão a este movimento. As mudanças legais são desencadeadas tanto por fatores relacionados à competitividade e balança comercial, quanto a custos com saúde pública (mensurados precariamente no Brasil).
A informação de qualidade ainda é privilégio de poucos, no sentido que nossos consumidores tem até dificuldades de discernir sensacionalismos com notícias relevantes. Porém nunca antes houve tanta disponibilidade de informação sobre segurança dos alimentos.
Como toda iniciativa que busca o bem estar coletivo, para criamos uma voz única, cada parte deve abdicar de um interesse próprio em favor do coletivo. Esse possivelmente seja o maior desafio.
Juliane Dias