Imagine-se pegando a última bala da embalagem, e na hora de apertar o pacote, você injeta muita força. E em slow motion, você a vê caindo no chão. Mas no instante em que ela balança ali caída, você se lembra da regra dos 5 segundos, ou seja, desde que a comida não tenha passado mais do que cinco segundos no chão, não há problema — certo?
O que a regra diz?
Se a comida ficar no chão por apenas alguns segundos, não acumulará uma quantidade de microrganismos tão grande que a torne imprópria para o consumo.
Quanto embasamento essa regra tem? Seria apenas um mito? Já sabemos que vivemos mergulhados em um oceano de microrganismos o tempo todo. Existem vários deles em nossa pele, estômago, etc. Vejamos, porém, o que os especialistas dizem:
- Programa Estado Unidense Mythbusters (Os caçadores de mito)
Ao realizar o experimento que pode ser visto aqui (o vídeo está em inglês), eles não observaram uma diferença significativa no tempo em que o alimento esteve em contato com o chão.
- Jillian Clarke – Universidade de Illions (EUA)
Em 2003, a estudante de ensino médio Jillian Clarke descobriu sobre a regra dos 5 segundos que:
- Vinte por cento das mulheres e 56% dos homens estão familiarizados com a regra dos 5 segundos, e a maioria a usa para tomar decisões sobre delícias saborosas que escorregam de seus dedos.
- Os andares da universidade são notavelmente limpos do ponto de vista microbiano.
- As mulheres são mais propensas do que os homens a comer alimentos que estão no chão.
- Bolachas e doces são muito mais propensos a serem pegos e comidos do que couve-flor ou brócolis.
- E, se você deixar cair a comida em um piso que contenha microrganismos, a comida pode ser contaminada em 5 segundos ou menos.
Embora esses estudos não levassem em conta diferenças na umidade dos alimentos e no tipo de superfície, a maior parte dos resultados faz a regra dos cinco segundos parecer um método pouco seguro para avaliar se um alimento que caiu no chão deve ou não ser comido.
- Universidade Clemson (USA)
Em 2007, Sr. Dawson e colaboradores publicaram no Jornal de Microbiologia Aplicada um artigo no qual descrevem três experimentos que foram conduzidos para determinar a sobrevivência e transferência de Salmonella typhimurium introduzida na madeira, azulejo ou tapete para a mortadela e o pão. Eles constataram que, em suma, a taxa de transferência bacteriana para alimentos diminuiu à medida que o tempo de residência bacteriana na superfície aumentou de 2, 4, 8 a 24 h com transferências de 6,5, 4,8, 4,6 e 3,9 log UFC/mL no enxágue de soluções, respectivamente. Mais de 99% das células bacterianas foram transferidas do ladrilho para a mortadela após 5 segundos de exposição ao morteiro. A transferência do tapete para mortadela foi muito baixa (<0,5%) quando comparada com a transferência de madeira e azulejo (5-68%).
Como conclusão, obteve-se: (i) Salmonella typhimurium pode sobreviver por até 4 semanas em superfícies secas em populações suficientemente altas para serem transferidas para alimentos e (ii) S. typhimurium pode ser transferida para os alimentos testados quase que imediatamente após o contato.
- Universidade de Aston (Reino Unido)
O estudo liderado por Anthony Hilton, professor de microbiologia, em 2014, monitorou a transferência das bactérias comuns Escherichia coli (E. coli) e Staphylococcus aureus de uma variedade de tipos de pisos internos (carpete, laminado e superfícies de azulejos) para torradas, massas, biscoitos e um tipo de doce pegajoso quando o contato foi feito de 3 a 30 segundos. Os resultados mostraram que:
- O tempo é um fator significativo na transferência de bactérias de uma superfície do piso para um pedaço de comida;
- O tipo de piso em que o alimento foi colocado tem um efeito, com as bactérias menos propensas a serem transferidas das superfícies acarpetadas e com maior probabilidade de passar de superfícies laminadas ou revestidas para alimentos úmidos que entrem em contato por mais de 5 segundos.
O professor Hilton disse: “Consumir alimentos jogados no chão ainda carrega um risco de infecção, pois depende muito de quais bactérias estão presentes no chão no momento; no entanto, os resultados deste estudo trarão um leve alívio àqueles que têm empregado a regra dos cinco segundos por anos, apesar de um consenso geral de que é puramente um mito.
“Nós encontramos evidências de que a transferência de superfícies de piso interno é incrivelmente pobre, com o carpete realmente representando o menor risco de transferência de bactérias para o alimento descartado”.
A equipe da Aston também realizou uma pesquisa sobre o número de pessoas que empregam a regra dos cinco segundos. A pesquisa mostrou que:
- 87% das pessoas entrevistadas disseram que comeriam comida jogada no chão, ou já o fizeram;
- 55% daqueles que comeriam ou comeram comida do chão são mulheres;
- 81% das mulheres que comeriam comida do chão seguiriam a regra dos 5 segundos.
Mas não se preocupe!!!
A maioria das bactérias do chão são do ambiente ou encontradas nos seres humanos — elas podem até ser consideradas “boas”.”Mesmo que haja um patogênico, a comida tem de cair em uma parte específica do chão e absorver aquele organismo específico para deixá-lo doente”. As chances de tudo isso ocorrer são relativamente baixas. Sempre há um risco pequeno, no entanto, porque coliformes fecais podem espalhar doenças. Mas não entre em pânico — comer uma balinha do chão não fará com que você acabe internado em um hospital.
Helba Nunes
Olá, interessante o poster. Gostaria de saber se o mesmo também se aplica a industria de alimentos. Numa industria de processamento de polpa de fruta, conserva vegetal, etc, por exemplo, se uma fruta ou vegetal cair no chão, há problemas em fazer uma lavagem e introduzi-lo novamente na linha de processamento? Caso não seja correto a falha seria na questão de contaminação cruzada mesmo havendo uma higienização previa antes de voltar a linha de processo?
Jacqueline Navarro
Olá Helba, tudo bem? Muito obrigada por seu comentário. Saiba que seu comentário levantou um baita debate, e eu fui te pesquisar uma resposta.
Seguindo o fluxograma do processamento, se esse fruto cair logo após a lavagem não há problemas em retorna-ló junto aos frutos ainda não lavados. Para seguir o fluxo normal do processamento.
Se tu ficou com mais alguma dúvida, por favor me escreva.
Uma adorável semana,
Jacque
Marco Túlio Bertolino
A ilustração é ótima rsss… parabéns pelo artigo.
Jacqueline Navarro
Ah que querido. Muito obrigada Marco!
Helba Nunes
Oi Jaque, muito esclarecedor a sua resposta. As vezes se peca pelo excesso.
Abs
Helba Nunes
Jacqueline Navarro
Disse tudo. Abraços Helba.
Yan Gaudeda
Oi Jacque! Parabens pelo trabalho.
Sucesso!
Abraço.
Jacqueline Navarro
Yan!!! Continuamos com as nossas exclamações após os nossos nomes hein,
Muito obrigada, te enviei um e-mail,
Jacque