Vocês se lembram do caso de contaminação por Listeria em melões, nos Estados Unidos, ocorrido em 2012? Reveja aqui a história com os posts Lições aprendidas com o melão cantalupe e Melões e patógenos – o que está acontecendo?
Depois de mais de um ano, o episódio ainda não parece ter tido um desfecho definitivo. Dois irmãos, Ryan e Eric Jensen, fazendeiros e produtores dos melões contaminados com Listeria que causaram 33 mortes, estão processando o auditor que aprovou a fazenda com nota superior em segurança de alimentos no ano de 2011, enquanto que melões contaminados e mortais eram distribuídos aos supermercados. Os irmãos Jensen, donos da fazenda que já vinha sendo administrada pela família há quatro gerações e que foi à falência depois de ter sido processada pelos parentes das vítimas, alegam que o auditor forneceu conselhos enganosos e “erroneamente” apresentou-se como tendo um “especialista profissional”.
A ação movida contra a Primus Group, uma empresa de auditoria de alimentos sediada na Califórnia, é rara – mesmo em casos de indústrias em que resultados positivos em auditorias precederam os mais notórios casos de surtos de contaminação de alimentos.
Em setembro de 2013, os irmãos Jensen foram acusados de delitos federais por terem introduzido alimentos impróprios no mercado – a primeira vez em duas décadas em que produtores primários de alimentos foram multados por delitos menores e não intencionais.
O processo iniciado esta semana no Colorado afirma que um auditor subcontratado pela Primus visitou a fazenda dos melões em 2010 e informou aos irmãos Jensen que o sistema de resfriamento dos melões era um ponto crítico e suscetível à contaminação por bactérias. O resfriador utilizava água recirculada clorada.
Diante disso, os irmãos substituíram este resfriador por um novo equipamento que lavava os melões com água clorada da rede pública e os escovava. Este sistema já estava ativo quando a Primus enviou um auditor à fazenda em julho de 2011, dois meses antes do surto de Listeria ter sido rastreado a ela.
Mais tarde, inspetores federais apontaram o novo equipamento como sendo uma falha fatal, estando fora dos guias do FDA. Mas isto foi após várias pessoas terem sido mortas devido à contaminação por Listeria.
O auditor que visitou a fazenda em 2011, enquanto os melões eram expedidos, ouviu a Eric Jensen descrever o novo sistema de resfriamento dos melões e não fez nenhum comentário ou advertência, conforme a ação movida. A fazenda recebeu uma nota de 96% na auditoria de segurança de alimentos.
De acordo com o advogado dos irmãos Jensen, eles tinham a intenção de tentar melhorar a segurança dos produtos, e acabaram por piorar. Isto representa um triste quadro de uma ironia cruel. O advogado ainda informou que a intenção dos irmãos é reverter todo o dinheiro recebido pela liquidação da ação aos familiares das vítimas.
Os advogados especialistas em segurança de alimentos têm sido críticos dos sistemas de “auditoria de terceira parte” nos Estados Unidos há muito tempo. Auditorias de segurança de alimentos em estabelecimentos produtores de alimentos são requeridas pelos clientes (pontos de venda dos produtos), e para isso, eles contratam auditores independentes e pagam-nos para inspecionar suas operações. E este processo é repleto de conflito de interesses, na opinião do Comitê de Energia e Comércio dos EUA. Defeitos e fragilidades dos auditores de terceira parte tornam-se uma lacuna significativa no sistema de segurança de alimentos, uma vez que quase sempre estes auditores são as únicas entidades que inspecionam fiscalizam as fazendas ou os estabelecimentos produtores. Hoje, existem mais de 60 ações pendentes contra as fazendas dos irmãos Jensen, movidas pelas pessoas que foram afetadas e ficaram doentes pela Listeria, e pelos familiares das vítimas falecidas.
E você, leitor, o que acha da situação? O auditor de terceira parte pode ser responsabilizado pelo caso? Ele teria condições de garantir que todas as operações da empresa auditada são realmente seguras a todo o momento? É possível que o auditor tenha conhecimento do funcionamento detalhado do processo, mesmo visitando a empresa por um ou dois dias no ano? E o auditado, pode confiar somente no resultado da auditoria ou numa certificação como uma validação absoluta de seu sistema de segurança de alimentos
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