OGM: “Ausência de evidência não significa evidência de ausência”

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Qualquer discussão sobre organismos geneticamente modificados (OGM), também conhecidos popularmente por transgênicos, certamente gera polêmica. Há defensores ferrenhos desta tecnologia, assim como há muitas pessoas que ainda desconfiam de seus benefícios e sua segurança para a humanidade e para o meio ambiente.

Segundo o artigo da revista Scientific American Brasil, o que existe hoje é uma campanha defendendo o uso quase indiscriminado dos OGMs, que não levam em consideração os possíveis riscos e muitas vezes apresentando argumentos que podem ser enganosos.

Dentre estes argumentos, podem ser citados:

1)      Nenhum problema de saúde foi registrado nos últimos dez anos por conta do consumo de alimentos transgênicos: Uma década, considerando-se a história biológica do planeta, é um período muito curto de tempo. Em comparação com a magnitude do tempo geológico, é impossível prever as consequências da ingestão de OGMs. Além disso, o não aparecimento imediato de problemas ambientais ou de saúde humana não significa que eles não existam.

2)      A engenharia genética e a produção de transgênicos é uma extensão da reprodução seletiva natural: Há uma grande diferença entre cruzar variedades diferentes (isto vem sendo feito desde o surgimento da agricultura) e introduzir genes de uma espécie em outra distante filogeneticamente. OGMs podem ser mais perigosos em especial quando os novos atributos inseridos artificialmente são capazes de aumentar a sua competitividade de forma rápida. Já que a seleção natural não escolhe seus alvos, ela atuará tanto nos organismos não modificados em laboratório quanto naqueles que foram alterados, podendo levar à reprodução diferencial desses OGMs e à ampliação do tamanho de suas populações em pouco tempo. Desde Darwin, sabe-se que a evolução é imprevisível, e portanto, não é possível determinar o impacto ambiental da seleção destes transgênicos.

3)      Os alimentos transgênicos vão “salvar” o mundo da fome: As questões relativas ao problema da fome estão muito mais relacionadas à distribuição de renda e acesso aos alimentos, do que à produção mundial de alimentos em si, que hoje é suficiente para alimentar, com sobras, toda a população do globo. E parece muito pouco provável que as grandes empresas produtoras dos OGMs alimentícios concordem em reduzir as suas margens de lucro. Uma análise feita pela instituição Amigos da Terra Internacional sobre os alimentos transgênicos, entre 1996-2006, afirma que atributos atraentes nestes alimentos desaparecem na segunda geração. Ainda neste estudo, afirma-se que os OGMs não oferecem qualquer benefício em termos de qualidade e preço para o consumidor, e que nada tem sido feito para aliviar a fome no mundo. Como comentado anteriormente, o problema da fome é político. Não se pode esquecer que a maioria dos grãos transgênicos são destinados para a alimentação na pecuária em países ricos.

Alguns dados são úteis para avaliar a consequência da introdução dos OGMs no ambiente natural. O pesquisador Jeffrey Smith, em seu livro “Roleta Genética”, aponta os seguintes casos: 1) Depois da introdução da soja transgênica no Reino Unido, os casos de alergia a este alimento dispararam; 2) Foi observada alta na mortalidade de ovelhas que pastaram em lavoura de algodão transgênico; 3) Ratos alimentados com milho transgênico apresentam múltiplos problemas de saúde; 4) O número de mortes em galinhas dobrou quando foram alimentadas com milho transgênico em relação ao grupo alimentado com milho comum; 5) Também no Reino Unido, um suplemento alimentar transgênico à base de triptofano matou 100 pessoas e provocou doença em outras 500; 6) Aumentaram as taxas de câncer entre pessoas que ingeriram leite produzido com hormônio de crescimento bovino projetado com técnicas transgênicas.

Para Peter Raven, um dos autores de livros-texto de botânica mais importantes do final do século 20, afirmou que “não há dados científicos de que o processo de transferência de genes de um organismo para outro cause problemas intrínsecos”. Porque supostamente “nada aconteceu” durante um teste controlado com populações pequenas e isoladas não significa que todos os OGMs são seguros ou mesmo que um OGM pesquisado será seguro quando comercializado em larga escala. Em outras palavras, ausência de evidência não significa evidência de ausência.

Pode parecer inacreditável um mundo futuro sem os OGMs. Seus benefícios seriam extraordinários e produziriam um impacto tão positivo na sociedade que a deixaria cada vez mais semelhante aos mundos utópicos da literatura. Segundo Raven, “os danos ambientais causados pela agricultura tradicional e o amplo uso de produtos químicos nas plantações são bem maiores do que os danos causados por plantações de OGMs”. Quem não gostaria de proteger o meio ambiente e promover a biodiversidade? É admissível a esperança neste admirável mundo novo, mas o entusiasmo demasiado sobre essa nova tecnologia deve ser relativizado, pois os efeitos colaterais de sua aplicação estão longe de ser compreendidos. Existem ainda muitas dúvidas sobre o que os OGMs poderão causar à saúde humana e ao meio ambiente.

** Este texto é um resumo do artigo da revista Scientific American Brasil, Edição nº 122, Ano 11 – Julho de 2012.

E qual é a sua opinião em relação aos transgênicos, caro leitor? A utilização de OGMs é realidade na nossa vida, basta visitar qualquer “pet shop” e ver que quase todos os alimentos e “snacks” destinados a cães, gatos, pássaros e outros animais de estimação contém o símbolo abaixo. Nos alimentos para consumo humano, é bem mais raro encontrar o símbolo, mas será que eles realmente contêm menos do que 1% de transgênicos e o consumidor está de fato sendo adequadamente informado, para que possa tomar uma decisão racional, baseada em seus próprios princípios?

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