Há perigos cujos danos são imediatamente percebidos. Outros, somente podem ter suas consequências percebidas a longo prazo, ou pior ainda, em gerações futuras. Preocupados eles, o blog Food Safety Brazil procurou entender o posicionamento de um tema que vem ganhando cada vez mais espaço na agenda de segurança de alimentos. A entrevista foi concedida pela médica endocrinologista Dra. Elaine Frade Costa, coordenadora do GTDE (Grupo de Trabalho dos Desreguladores Endócrinos) da Regional São Paulo da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).
-O que são desreguladores endócrinos e que tipo de evidência existe que somos expostos a eles através da alimentação?
Desreguladores endócrinos são substâncias exógenas que agem mimetizando ou antagonizando o efeito de um ou mais hormônio. Existem estudos mostrando que essas substâncias ou seus metabolitos são detectados no sangue ou na urina.
E qual o problema se ingerirmos substâncias que imitam ou neutralizam o efeito de nossos hormônios? Que tipo de doenças podemos desenvolver?
Se ingerirmos substâncias que imitam ou neutralizam nosso hormônios, podemos apresentar distúrbios que se manifestam devido ao excesso ou falta do(s) hormônio(s)cuja(s) ação(s)determinada substância interfere. Exemplo: desenvolvimento adiantado ou atrasado da puberdade, falência ovariana prematura e alterações na qualidade do esperma em homens levando a infertilidade ou subfertilidade, doenças da tireóide, obesidade, etc…
-Em março deste ano o FDA optou por não banir o Bisfenol A como material de contato com alimentos, à exceção de mamadeiras. O parecer oficial é que os estudos são controversos e não conclusivos a ponto de condenar esta substância. Como médicos e tendo acesso a estes estudos, qual é a posição da SBEM? Mesmo não havendo comprovação e conclusão definitiva a respeito dos malefícios que o BPA pode causar à saúde humana, baseados nos estudos experimentais em animais que demonstram claramente os efeitos deletérios no sistema endócrino, a nossa posição enquanto SBEM-SP é que, partindo do princípio da precaução, a utilização do BPA deve ser proibida na fabricação de embalagens que acondicionam alimentos em geral, pois os períodos do desenvolvimento humano mais vulneráveis são a fase embrionária, a infância e a adolescência.
Além do bisfenol A, que outros desreguladores cuja exposição se dá via dieta são de relevância para todos nós?
Existem muitas substâncias que podem estar presentes nos alimentos e consumidas na alimentação. Dentre as mais relevantes podemos citar os pesticidas (fungicidas e herbicidas como por exemplo DDT, triclosam, vinclozolin) utilizados nas lavouras que permanecem nos alimentos mesmo após disponibilizados para consumo. Temos também os ftalatos, que são outros compostos utilizados na fabricação dos plásticos, inclusive das embalagens que acondicionam alimentos Não podemos nos esquecer dos fitoestrógenos (ginesteína) da soja que, apesar serem substâncias produzidas pela própria soja, apresentam atividade estrogênica e por isso são consideradas desreguladores endócrinos. Atualmente o consume de alimentos a base de soja tem aumentado muito e isso deve ser motivo de preocupação, pois o consume exagerado pode alterar o desenvolvimento da puberdade nos adolescents.
Como estão os avanços em termos de legislação no Brasil?
Até o momento, após a resolução da ANVISA com relação a proibição do BPA nas mamadeiras, não temos notícia de nenhum avanço em termos de legislação.
Como os profissionais que atuam na área de segurança de alimentos devem se posicionar diante do tema?
Na minha opinião, o lema deve ser: “A ausência de evidência não é evidência de ausência”, ou seja, partindo do princípio da precaução, devemos lançar mão de estratégias para reduzir o máximo a exposição humana aos agentes ambientais.
Além disso, existem evidências de que uma substância isolada pode não produzir efeitos deletérios a saúde humana, mas a mistura de diferentes substâncias pode causar doenças, especialmente se a exposição ocorrer nas fases consideradas janelas de vulnerabilidade.
sirlei santos
preciso de mais informacóes sobre o assunto, fiquei muito interessada, obrigada
Marcelo Garcia
Sirlei,
Entre em contato com a Sociedade Brasileira de Edocrinologia, a SBEM.