Dietas de cunho religiosos ou filosóficos, como a dieta halal ou o vegetarianismo, ainda respondem por uma parcela pequena do consumo brasileiro e tendem a ser esquecidas por boa parte da indústria de alimentos, principalmente no planejamento de seus Sistemas de Segurança dos Alimentos. Carne de porco não é perigo, não é? Pois para um muçulmano, é sim.
Com um mercado consumidor extremamente expressivo no mundo (estima-se que no Brasil vivam cerca de 200 mil muçulmanos, enquanto que a comunidade ultrapassa 2,5 milhões de pessoas nos EUA e na Europa, 44 milhões), suas restrições alimentares representam um filão importante da economia que não pode ser negligenciado, muito menos desrespeitado.
Por isso, não foi com pouca surpresa que chegou aos mercados no mês passado a informação de que foram encontrados traços de DNA suíno em tortas salgadas halal de carne bovina servidas em prisões inglesas e galesas. Ela vem em seqüência da notícia também recente da identificação de carne de cavalo em hambúrguer congelado na Irlanda.
Contudo, o que mais me surpreende neste caso não é o desrespeito às regras impostas pelo mercado consumidor atendido pela empresa.
Não chama atenção que um problema de qualidade em refeições servidas no sistema prisional tenha obtido divulgação internacional? Traços de DNA foram encontrados nas tortas salgadas inglesas, enquanto no Brasil os presos são tratados em condições sub-humanas, comem carne de procedência e qualidade duvidosas e feijão recheado de larvas e pedras?
Temos muito o que nos desenvolver como nação, mesmo.
Juliane
Cristina, eu também fiquei admirada com o grau de sofisticação da “descoberta”.
Agora, não posso deixar de expressar minha profunda preocupação com os sistemas de rastreabilidade da cadeia produtiva. Se não consigo assegurar que boi é boi, imagine que o boi é do produtor tal? Ou será que o cavalo ou porco indevidamente presentes aparecem em alguma planilha de controle dessas empresas?
Cristina Leonhardt
Oi, Juliane!
Pois é, eu me questiono até que ponto vai esta rastreabilidade na prática mesmo. Acho meio incabível que lá no meio do frigorífico as diversas procedências das carnes não se misturem – a não ser que haja dias exclusivos de produção de cada procedência. Mas e nos processados?
Alguém de frigoríficos se manifesta?