Por muito tempo, a prevenção contra pragas esteve focada em roedores, baratas, moscas, formigas, carunchos, escorpiões, enfim, os históricos vilões. Eles impactavam a produção de alimentos, passando pela óbvia perspectiva da contaminação de pessoas e produtos processados, mas também resvalando nas perdas de insumos, danos em equipamentos e comprometimento de marca.
Contingências provocadas por pássaros eram pontuais, afetando instalações geograficamente posicionadas em grandes centros urbanos ou próximas a regiões portuárias. Localidades como distritos industriais, zona rural e até grandes cidades no interior sofriam moderadamente com pássaros. Alguns pardais e andorinhas e mesmo os belos pássaros silvestres como canários, quero-quero e sabiás apareciam eventualmente, muito mais relacionados a fenômenos migratórios sazonais do que a invasões com potencial de risco.
Entretanto, o comportamento invasor de pássaros em instalações industriais, residências, shopping centers, hospitais, escolas e diversas edificações é um fenômeno que foi muito além dos portos e terminais de grãos. Especialmente o pombo urbano (Columba livia) e o pardal (Passer domesticus) desenvolveram uma capacidade de adaptação notável, assumindo habilidades de manobras durante o voo e perícia na construção dos ninhos em locais improváveis.
Vejam o exemplo do pombo doméstico, com origem na região do mar Mediterrâneo, onde habitavam fendas de rochas em encostas. Ele adaptou-se discretamente às precárias edificações em alguns centros urbanos europeus e africanos até o século XVII e foi dispersado durante o período das Grandes Navegações, alcançando toda a Europa, Américas e Ásia. Em ambientes fortemente urbanizados, com fartura de alimentos, oferta de abrigo e ausência de predadores, esta ave registrou expressiva proliferação e mudanças comportamentais, resistindo mais a algumas estratégias antes eficazes.
Mas pombo e pardal são de fato pragas? Segundo o IBAMA na IN 141/06, animais classificados como fauna exótica invasora, que provoquem prejuízos econômicos ou riscos à saúde e meio ambiente, são passíveis de controle. A mesma instrução normativa iguala pombos aos roedores no rol de animais alvo para contenção pelas empresas especializadas. Estudos confirmam o nível de risco associado a essas aves. Entretanto, outras normas como a Lei 9605/98 e o Decreto 6514/08 apontam para a necessária proteção contra maus tratos a animais, mesmo aqueles exóticos em migração. Portanto, manejo de pombos e pardais é um assunto bastante sensível sob o ponto de vista legal, pois uma abordagem mal executada pode resultar em crime ambiental.
Estamos de mãos atadas? Não!!! Existem estratégias razoáveis para contenção de pássaros invasores. Basta uma rápida pesquisa em uma plataforma de busca, ou até uma conversa com a inteligência artificial, e variadas metodologias vão surgir, dando a impressão de que há uma prateleira cheia de boas opções. Essa percepção não é equivocada. As estratégias estão na prateleira, mas o emprego isolado de uma ou outra pode não trazer a eficácia esperada.
Diante deste “mix” de soluções, como iniciar uma jornada para solução dessa invasão voadora? Essa resposta é direta, mas não é simples. Controlar pássaros precisa de especialista.
Afinal, essa não seria uma resposta retórica? Pois para conter qualquer praga precisa de especialista. É verdade, mas profissionais com habilidades para afastar roedores, eliminar baratas, contingenciar moscas e reduzir riscos com carunchos e formigas são bastante disponíveis. Porém, especialistas em aves são escassos. Isso tem uma razão: controle de aves ainda é uma disciplina em evolução dentro das empresas especializadas. Algumas têm se destacado neste cenário, mas a maioria das empresas controladoras de pragas tem pouca ou nenhuma vivência na solução das infestações de aves.
Mas vamos interromper esse pessimismo. Quero compartilhar um ponto de vista otimista sobre esse desafio.
A melhor estratégia para afastar pássaros é começar
Então qual a melhor metodologia? Existe o controverso gel repelente, a prática espícula, o uso de tela tensionada, fios tensionados, pulso eletromagnético, laser intermitente, falcoaria, captura e eutanásia, enfim, a prateleira está cheia de opções. Algumas têm efeito paliativo e temporário, outras têm efeito prolongado e baixa manutenção. Algumas são de baixo investimento, outras bem dispendiosas. Há algumas que podem ser instaladas pelo time de manutenção local, e outras que dependem de equipe especializada. Qual funciona melhor?
Depende da intenção e do tamanho da verba no budget. Se a intenção é afastar radicalmente a população de pássaros, possivelmente serão usadas metodologias combinadas e muita verba. Mas se a intenção é uma contenção progressiva, talvez dê pra encaixar em modestas lacunas de orçamento.
Tenho acompanhado indústrias que incluem uma verba mensal junto à empresa controladora de pragas para instalar 100 m2 de barreiras por mês. Ou duas vezes por ano implantam 500 m2 de barreira, com um orçamento moderado. Resolve 100%? Não. Mas lembrem-se de que a melhor estratégia é começar! Em cenários assim, o propósito era que depois de 2 anos, os pássaros não fossem mais um problema. E sem comprometer o orçamento. Pagar sem sentir. E sendo bem honesto: na maioria das vezes, o problema foi resolvido em menos de um ano.
Encontrei também indústrias que investiram 3 dígitos em um programa robusto para afastamento de pássaros e após poucas semanas, o desafio estava vencido.
A boa notícia é que afastar pássaros, sendo ambientalmente responsável e acomodando esse investimento dentro de limites razoáveis, é possível. Só precisa começar.
Não deixe de conferir outros conteúdos que reforçam as boas práticas para contenção de pássaros na indústria de alimentos: aqui, aqui, aqui.
Todas as imagens geradas por Inteligência Artificial
Flavio Quadra
Uma honra ser parte do time Food Safety Brazil, e compartilhar das melhores práticas para proteção de alimentos contra contaminações.
Pedro
Ótimo conteúdo!
Com uma empresa séria e comprometida, há diversas possibilidades para “começar”.
Flavio Quadra
Obrigado pelo tempo de leitura Pedro. Sei que ainda vai apontar muitas soluções para seus clientes.
Rodolfo Erick Sena
Excelente artigo! Flavio muito competente e de grande expertise em controle de pragas!
Flavio Quadra
Rodolfo tem pelejado na garantia de qualidade e processos industriais há muito tempo. Seu tempo e apontamentos sempre são valiosos.
Gustavo
Parabéns pelo conteúdo desse artigo, bastante esclarecedor!!
Flavio Quadra
Gustavo sempre me ensinou muito. Sobre pragas e sobre a vida. Uma honra merecer seu tempo de leitura.
Leonardo
Muito bom o artigo, não são raros os casos de pássaros que destroem cabeamento de dados em instalações prediais causando prejuízo e falhas em sistemas.
Flavio Quadra
Leonardo já sofreu bastante com presença de pássaros nas instalações industriais pra geração de energia. Sabe como é desafiador.
Erick Martins de Menezes
Parabéns Food Safety Brazil por trazer conteúdo tão qualificado. Flavio é um grande Especialista.
Flavio Quadra
Erick é uma autoridade em comunicação social. Sua percepção sempre aguça minhas idéias.
Raoni
Excelente conteúdo.
Flavio Quadra
Raoni é parceiro de muitos desafios com pássaros e outras pragas. Um dia será ele quem vai escrever sobre o tema.
Guilherme Marra
Parabéns pelo conteúdo esclarecedor. Com certeza os artigos do Flávio vão contribuir muito no processo de controle de pragas e outras contaminações.
Flavio Quadra
Guilherme é muito gentil em seus apontamentos. Fico grato por parar um tempo na sua rotina e ler esse conteúdo.
Tiago Leonardo Reis
Parabéns pelo artigo Flávio Quadra.
Flavio Quadra
Obrigado pela atenção tiago. Sempre temos aprendido juntos.