Vários amigos me fazem a seguinte pergunta: “tem formol no leite de caixinha ou de garrafa?” Muitas pessoas não entendem por que o leite nessas embalagens não estraga por vários meses e associam isso a colocação de formol. Vou explicar que isso não tem nada a ver com formol.
O leite ordenhado (retirado) das vacas é enviado aos laticínios para produção de vários produtos, sendo um deles o leite ultrapasteurizado, que também tem outras denominações, como UAT, UHT ou longa vida.
Para que o leite ultrapasteurizado permaneça sem estragar por 4 a 6 meses é necessário que o processamento e envase (colocação do leite na embalagem) sejam feitos de forma asséptica, seguindo 4 princípios:
- 1) Leite deve passar por um tratamento a altas temperaturas, ou seja, entre 142 e 146ºC, e de forma rápida, por 4 a 6 segundos. Esse tratamento preserva os nutrientes do leite e elimina os microrganismos viáveis que podem ser bactérias, vírus, bolores e leveduras;
- 2) A embalagem precisa ser esterilizada dentro da máquina de envase para também eliminar possíveis microrganismos que estejam aderidos;
- 3) O enchimento da embalagem com produto precisa ser feito em um ambiente estéril, ou seja, sem microrganismos. O equipamento que faz o envase tem esta condição;
- 4) A embalagem precisa ter barreiras de proteção para evitar a entrada de oxigênio e de microrganismos, tornando o produto seguro durante o prazo de validade.
Esse processo é muito bem controlado nos laticínios para que o leite chegue à sua casa de forma segura e saudável, desde que dentro do prazo de validade.
Além disso, a ANVISA exige que qualquer aditivo deve estar listado na embalagem do produto e não há nenhuma embalagem com a mensagem sobre a presença de formol.
Há outro órgão do governo, o MAPA, que também garante que não haja formol no leite.
Outras perguntas e crenças comuns são:
- “O leite da caixinha é diferente do leite da vaca na fazenda?”
Um pouco, considerando que o cheiro pode mudar devido ao processo de vácuo aplicado ao leite, que retira os odores conhecidos como “cheiro de curral”.
- “O leite de caixinha não tem gordura/nata? Por que não separa a nata?”
O leite integral mantém o teor médio de gordura do leite da vaca que é de aproximadamente 3%, mas não há separação porque o leite passa por um processo chamado homogeneização. Esse processo quebra as partículas grandes de gordura em partículas tão pequenas que elas ficam dispersas ou diluídas no leite, sem separação de fases.
Os leites desnatados e semidesnatados são reduzidos no teor de gordura para atender demandas dos consumidores.
- “Nenhum animal precisa de leite depois que deixa de ser filhote. Por isso não precisamos tomar leite.”
O ser humano não pode ser comparado a outros animais em relação a sua dieta, pois tem uma dieta mais rica e temos o poder de transformação dos alimentos. Exemplo é que nenhum animal faz churrasco ou cozinha qualquer alimento para comer. O leite é um alimento muito completo por conter diversos nutrientes.
- “Eu tenho intolerância à lactose, por isso não posso tomar leite”.
Primeiramente é necessário realizar testes de laboratório para comprovação desta intolerância. Se for confirmada, é possível ingerir leite sem lactose, no qual a molécula de lactose (um tipo de açúcar) foi quebrada em unidades menores e de mais fácil digestão.
É necessário fazer um alerta: alguns “leites”, que dizem substituir o leite de vaca, não contêm os mesmos nutrientes e principalmente o mesmo teor de proteínas que o leite de vaca.
Infelizmente alguns “influencers”, querendo chamar a atenção e ganhar visualizações, estão falando mentiras como se fossem verdades. Cuidado, não acredite em tudo que falam e nem em modismos. É preciso avaliar a qualificação profissional de quem fala.
Um dia minha tia Maria Emília contou-me que tinha ido a uma nutricionista. A profissional falou para ela tirar imediatamente o leite de vaca de sua alimentação porque faz mal. Minha tia, super saudável, respondeu-lhe: “Minha filha, sou saudável aos 85 anos porque tomei leite de vaca a vida toda.”
Espero ter esclarecido alguns pontos sobre o tema, por ser uma profissional com mais de 30 anos de experiência em diversos tipos de indústrias de alimentos e ter grande respeito e admiração pelos produtos lácteos.