Nos meus mais de 40 anos de experiência com segurança de alimentos, uma coisa sempre me intrigou: por que não formamos Food Chatos???
Neste período, acompanhei todos os avanços, exigências, mudanças, tendências, vertentes, tipos de auditorias, certificações, modismos, inspeções, visitas, etc, etc, nas indústrias, mas nada (ou muito pouco) mudou no elo mais importante da cadeia: a consciência das pessoas, o chamado consumidor…
Coordenei equipes de segurança de alimentos, montamos e revisamos diversos planos HACCP, complexos programas de controles de pragas, treinamentos de microbiologia, monitoramos atividade de água, pH, Salmonela, E. coli, testamos a validade de produtos, qualidade da água, pesticidas, compramos livros sobre como colocar food safety na cultura da empresa (e demos para toda diretoria e gerência ler, com assinatura em lista de presença), perdemos noites de sono quando um PCC falhou e o consumidor, nada…
Tenho uma frustração enorme por não conseguir fazer algo simples, como lavar as mãos, ser aplicado na entrada de um restaurante e na saída (que dirá na entrada) de um banheiro.
Lembro-me de muitos treinamentos de GMP e 5S (senso de autodisciplina), quando após passar um bom tempo falando da importância e, principalmente, sobre como lavar as mãos, 95% das pessoas iam para o coffee break o mais rápido possível, sem… LAVAR AS MÃOS.
Por décadas, fiquei perguntando de quem era a culpa. E cheguei à pior conclusão possível: SOMOS TODOS CULPADOS.
Sim, sou culpado. Apesar de conscientizar, dar exemplo e “obrigar” meus filhos a lavarem as mãos sempre, a verificarem o lacre e validade dos produtos, não cobrei da escola deles uma matéria sobre segurança de alimentos e não me ofereci para ir à escola falar sobre segurança de alimentos.
Recebo semanalmente uma enxurrada de anúncios sobre palestras, seminários, cursos, encontros e outros eventos sobre segurança dos alimentos. Sempre procuro ver o público alvo e nunca encontro uma chamada para o consumidor (ou representantes destes). Todos capacitam as empresas, mas ninguém capacita o consumidor.
Voltando ao título, é óbvio que peguei carona no ECOCHATO. Mas entendam, o ECOCHATO funciona. Tente jogar algo pela janela do carro com seu filho de 6 anos ao lado.
Então, por favor, vamos continuar consolidando o food safety nas empresas, mas vamos formar FOOD CHATOS! Vamos treinar funcionários, mas também os filhos, vamos mostrar os problemas que a falta de higiene causa nas empresas, mas também nas casas, vamos trabalhar na segurança dos alimentos e disseminar o conhecimento para a sociedade!!!
Carlos Alberto Fregati é consultor em segurança de alimentos, com mais de 40 anos de experiência na área (multinacionais de suco de laranja, bares e restaurantes). É administrador de empresas, auditor líder de diversas normas, como FSSC 22000, palestrante em treinamentos sobre GMP, PPHO, 5S, controle de pragas, ISOs, auditorias, etc.
Mônica Magalhaes
Caro colega,
fiquei muito satisfeita com o seu post, pois me representa totalmente. Você mão está só, sou uma food chata e como tal, de vez em quando sou mal interpretada nas mídias sociais, quando desminto conceitos errados ou tento desmistificar o modismo da alimentação saudável, por exemplo. Continuemos nossa luta. concordo que é nossa responsabilidade, não culpa, formarmos dentro da nossa governabilidade a cultura do saber alimentar.
Abraços,
Mônica.
Ediane
Excelente reflexão, parabéns e viva a nós Food chatos
Beatriz Del Fiol
Oi Fregati, pois é, tive um chefe que dizia que trabalhar nessa área a gente tem que ser como sacerdote. Dizer as mesmas coisas todos os dias. Para quem é da área é mais fácil, para quem não é, pode não ser tão evidente. Quem não é da área não tem como fazer esses questionamentos, não vai saber o que é um PCC. Eu, como consumidora, estou confiando em quem está projetando, fabricando ou manipulando o alimento que eu vou consumir. Da mesma forma que quando eu compro um carro ou uma passagem de avião, estou confiando que está tudo ok com o projeto, a fabricação e a manutenção. Acho que uma empresa que produz alimentos deve estar comprometida com o princípio de servir um alimento seguro ao seu cliente. Já vi caso que na hora que tem que decidir entre jogar toneladas fora porque há uma contaminação ou mandar para o mercado assim mesmo, a decisão foi mandar assim mesmo. O consumidor não tem como controlar isso. Ele só saberá, se o problema se tornar público. Voltamos para a alta administração.
Celso Santos
Gostei da qualidade dos comentários, muito bem colocado por parte do consumidor e das autoridades aqui representada pelo Sr. Carlos Alberto Fregati. E tudo isso só aumenta as evidências que estou no caminho certo na criação de um produto inovador que elimina 100% a contaminação alimentar das latas de alumínio que envasa todos os tipos de bebidas pelo mundo todo, Não precisa lavar, passar álcool, nada. Só abrir a tampa com a inovadora barreira sanitário, e tomar a sua bebida, onde você estiver. Mas enquanto a nossa tampa inovadora não estiver disponível, a melhor coisa a se fazer Beatriz, é não confiar em quem está projetando, fabricando ou manipulando as bebidas que você irá consumir. E lave a lata ou não beba.
A Latinha de hoje é a causa de muitas mortes pela contaminação alimentar. mas nunca são claras devido as autoridades não executar a rastreabilidade corretamente. E essa lata é assim a 45 anos…