Mesmo que a organização provenha os maiores e melhores recursos, se não existir um forte engajamento e comprometimento com Qualidade e Segurança de Alimentos, não teremos sucesso com os programas associados. Abaixo, os cenários que têm levado várias organizações a situações de insucesso em sua busca pela Qualidade e Segurança de Alimentos:
1) Baixo envolvimento e comprometimento da Alta Direção
O não envolvimento da Alta Direção é uma das principais causas apontadas pelo fracasso de programas de Qualidade. Qualidade entende-se com um programa de mudanças comportamentais no qual temos como um grande ponto de foco, as pessoas. As mudanças comportamentais exigem um alto nível de esforço, dedicação e perseverança. Neste caso, deve vir do topo da organização! Qualidade não é modismo e tampouco um plano de marketing para vender mais. Não inicie programas de Qualidade sem o genuíno interesse e comprometimento da alta administração. Use um bom tempo com os Programas de Qualidade, conversando com colaboradores, apresentando-lhes que a Qualidade atende a relação ganha-ganha: algo de bom para os clientes, empresa, colaboradores e a sociedade.
2) Ansiedade por entregas e resultados
Os gestores das organizações devem compreender que os programas de Qualidade são programas que trabalham principalmente o comportamento das pessoas e, portanto, levam um bom tempo. Em alguns casos, estes gestores não têm paciência com os projetos que estão conduzindo, o que leva ao insucesso. No Japão, eles classificam um programa com 6 anos como apenas o início de um grande projeto. Nossa cultura e paciência é totalmente diferente, temos que ter consciência de que os resultados e as primeiras entregas demoram a surgir. Provavelmente, não veremos muitos resultados antes de um ano e os primeiros resultados deverão ser modestos. As empresas que têm conduzido com perseverança têm provado que a espera vale a pena. A soma de quaisquer resultados traz grandes benefícios para a organização.
É importante que tenhamos em mente a superação de um fase inerte inicial. Além da ansiedade por resultados a curto prazo, outra situação que leva ao aborto de inúmeros programas de qualidade é a expectativa demasiada dentro das empresas. O processo de implantação da qualidade é gradual e crescente. É preciso entender em qual fase da curva de desenvolvimento estamos. Qualidade não acontece por conta própria. Trata-se de um contínuo envolvimento e engajamento de pessoas que no decorrer do tempo, se o processo for bem estimulado, apresentará resultados crescentes e surpreendentes.
3) Desinteresse pelas gerências
Se o engajamento e envolvimento da alta administração é básico para o sucesso, o do nível gerencial será crucial para sua sustentação! Não basta a vontade do presidente da organização, é preciso que ela tenha suporte de todas as camadas organizacionais pois os programas de qualidade são programas de envolvimento e comprometimento de pessoas. Os gerentes tendem a achar que qualidade é algo simples e prático e que, portanto, não necessitam de energia e dedicação: caminho certo para grandes dificuldades na implantação.
4 Planejamento inadequado
Implantar programas de qualidade é sempre um projeto de longo prazo, e, assim, é necessário um bom planejamento. Muitas empresas partem diretamente para a execução, sem se preocuparem muito com o planejamento. Também é melhor sair executando do que nada realizar. O tempo passa, e as exigências de qualidade aparecem. A falta de um planejamento adequado pode levar a situações indesejáveis, insegurança e insucesso de um caminho que vinha sendo trilhado.
A implantação de programas de qualidade é um processo bastante complexo e com muitas incertezas. Um bom planejamento poderá nos dar as bases de comparação para saber se estamos ou não indo no rumo certo e se devemos corrigir nossa rota de tempos em tempos. O planejamento para programas de qualidade deve incluir metas, treinamentos, metodologia a ser aplicada, velocidade de implantação, áreas a serem trabalhadas e pessoas envolvidas. Essa abrangência mostra-nos os riscos que podemos correr se não dermos a devida importância ao planejamento.
5) Treinamento insuficiente
Muitas organizações criam grupo de pessoas para discutir problemas sem o mínimo de preparo. As pessoas não sabem como se deve analisar problemas. Em alguns casos, elas nem sabem por onde começar. A montagem de grupos de trabalho para se analisar problemas deve se iniciar com treinamento. Parece claro, mas muitas vezes nos deparamos com a falta de preparação das pessoas. É imprescindível a criação de um programa de treinamento em solução de problemas, ferramentas de estatísticas simples, benchmarks e estímulo ao autodesenvolvimento. Os treinamentos devem ser realizados continuamente e os vários níveis da organização devem estar envolvidos. Dos vários níveis, exige-se diferentes e específicos tipos de programas de treinamento.
6) Falha na seleção dos multiplicadores
Treinamento é algo contínuo e dinâmico. Portanto, é importantíssimo a seleção e escolha da equipe de multiplicadores do conhecimento que será compartilhado e disseminado para toda a organização. Comumente, vemos erro na escolha destas pessoas (geralmente leva ao insucesso) ligados a não verificação do seu perfil realizador: a capacidade das pessoas gerarem resultados. A função é disseminar o conhecimento, formal e informal. Essa característica dos multiplicadores é crucial ao sucesso do programa.
7) Descuido com a motivação
O aspecto motivacional envolvido em programas de qualidade algumas vezes é esquecido. As pessoas precisam sentir que serão beneficiadas pela qualidade. Podemos mostrar claramente os benefícios para as pessoas, os sofisticados até os que envolvem prêmios e recompensas financeiras. O reconhecimento das entregas e resultados obtidos ainda continua sendo a forma mais eficaz de se motivar os colaboradores. A ausência de reconhecimento, elogios e feedbacks faz parte dos caminhos mais rápidos para o fracasso de programas de qualidade. As pessoas percebem se os níveis superiores estão motivados ou não, o que pode ser um elemento altamente positivo ou altamente negativo. Devem ser congruentes nas atitudes perante a qualidade em todos os níveis de gestão e do interesse pelos resultados do programa.
Portanto, podemos afirmar que a maioria dos casos de insucesso em implantação dos programas de qualidade estão linkados a um ou mais fatores aqui apresentados. Geralmente, mais de um fator dos que foram listados causam os problemas ou o atraso no atingimento das metas. As soluções são relativamente simples e evidentes. O não cuidado com esses itens é o que causará o insucesso. O sucesso colhido dos programas de qualidade são daquelas empresas que cuidam deles com muita dedicação, disciplina, ética e segurança!
Fontes:
http://www.fgv.br/rae/artigos/revista-rae-vol-34-num-6-ano-1994-nid-45320/
http://www.anegepe.org.br/edicoesanteriores/londrina/GPE2001-01.pdf
Carlos Fregati
Outro ponto que está sempre influenciando negativamente na segurança dos alimentos é a falta de ética.
João Paulo Ferreira
Boa Carlos! Temos que trabalhar muito bem a cultura da empresa junto aos valores para que tenhamos sempre uma equipe, um time que trabalhe com ética!! Grato pela contribuição!
Marcia Falchi
Sou nutricionista consultora na área de Segurança e Qualidade de Alimentos. Parabéns pelo post! Vivencio isso na prática e esse post retratou a realidade. de uma forma bem objetiva. Vou repassar aos meus clientes, fornecedores e funcionários.
Nutrima Consultoria e Assessoria em Nutrição
João Paulo Ferreira
Olá Márcia! Esse é o nosso grande desafio!!! Muito grato pela seu feedback e contribuição!!
Manuel Menendez
Ótimo artigo.
Eu posso absolutamente fazer uma conexão sobre os efeitos dos sete cenários (eu prefiro chamá-los de “Root Causes”).
Na minha organização atual, implementamos políticas para prevenir todos eles e conseguimos atenuar os problemas relacionados em um alto percentual. No entanto, os desafios que eu pessoalmente continuo observando estão muito próximos dos cenários 5, 6 e 7; onde a natureza humana da inteligência comportamental pode ter um grande impacto.
Por exemplo, quando um departamento envia um funcionário para uma sessão de treinamento interno como parte de sua integração à empresa, é muito bem compreendido e esperado que o funcionário esteja sujeito a um teste, exame ou avaliação de proficiência sobre o assunto. Se o empregado passar por esse critério, ele ou ela se tornará “certificado” e poderá ser retransmitido como capaz de realizar a tarefa, mas não necessariamente para solucionar problemas em seus processos, equipamentos ou (mais freqüentemente) para treinar outras pessoas.
Essa situação pode levar a vários problemas relacionados não apenas às tarefas objetivas em questão, mas também pode fazer com que os funcionários se sintam desconfortáveis e hesitantes em receber mais treinamento, porque em suas mentes “eles estavam lá para aprender a fazer”, não como consertar, manter ou ensinar. Os funcionários ficam estressados pela carga de trabalho adicional e não apenas afeta seu comportamento, mas também sua moral, relacionamentos e expectativas salariais.
Obrigado ao JP por compartilhar um artigo tão bom.
Saudações da Califórnia
Manuel Eduardo Menendez
João Paulo Ferreira
Hi Manuel!
Thanks for your feedback and your contribuitions!!! Tottaly agree with you! It´s a great pleasure and honour to have you as my reader.