O mel está entre os alimentos mais antigos utilizados pelo homem, devido a sua facilidade de obtenção de forma extrativa e seu alto poder nutritivo.
O líquido âmbar vem ganhando cada vez mais espaço nas prateleiras dos mercados devido a diversas tendências e movimentos em relação à alimentação nas últimas décadas, como por exemplo:
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O consumidor está mais interessado em saber a origem do que come;
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Existe uma preocupação crescente em reduzir a ingestão de açúcar refinado;
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Aumento da procura por alimentos orgânicos e naturais.
O crescimento da demanda é impulsionado principalmente nos Estados Unidos e na Europa, onde se destaca a Alemanha, segunda maior importadora de mel do mundo, perdendo apenas para os EUA.
Segundo uma matéria no The Economist (The scourge of honey fraud) o consumo per capita de mel nos Estados Unidos dobrou desde a década de 90. O mercado norte-americano vem crescendo, porém a produção interna, não. Isso fez o preço do produto disparar no mercado internacional e aumentar o interesse de produtores de todo o mundo em exportar.
O assunto é tão interessante que virou até capítulo de seriado no Netflix. A Série Rotten aborda, em seu primeiro episódio (Não tão doce), a crise do mercado mundial de mel.
Segundo o documentário Rotten, os chineses possuem uma apicultura muito antiga e respeitada. O país possui um número de colônias altíssimo. Com o aumento da demanda de mel pelo maior comprador mundial, EUA, os chineses se tornaram grandes fornecedores de mel. Muitas vezes o mel chinês foi identificado como de baixa qualidade, por apresentar alto índice de fraudes e contaminantes.
A China também foi acusada da prática de dumping, a venda de produtos com preço abaixo do preço de custo por determinado período de tempo com o objetivo de prejudicar e até acabar com a indústria local. Com base nessas evidências, em 2001, o governo americano sobretaxou a importação de mel da China.
O que se viu após essa medida foi a triangulação do mel chinês, que agora recebia uma nova etiqueta e era enviado por outros países da Ásia.
Para proteger o consumidor e a indústria local das fraudes, apicultores e empresas de beneficiamento de mel nos Estados Unidos se organizaram e criaram uma política de certificação de origem. Essa organização se chama True Source Honey e passou a realizar uma análise de risco relacionada à origem do mel, resultando em uma simples classificação de origem: países de baixo e alto risco. Essa é uma abordagem interessante por diferenciar os produtores de países de alto risco, e exigir critérios mais restritivos para os mesmos.
Essa certificação procura avaliar por meio de visitas à planta produtora e entrevistas com os apicultores a quantidade real de mel que pode ser processada pela planta, bem como se o mel realmente veio dos fornecedores cadastrados.
Além disso, são coletadas amostras para verificação da origem do pólen. Mediante uma análise morfológica do pólen, pode-se detectar a origem botânica e geográfica do mel.
Tabela 1. Classificação de países produtores de mel, baseados em análise de Riscos – Fonte: True Source Honey Standard v4.
A fraude mais comum é a incorporação de xarope da cana ou milho ao mel, mas também existe a prática de incorporação de xarope de arroz e a ultra-filtração para retirar os resíduos de pólen, impossibilitando assim sua identificação botânica e geográfica.
Segundo a legislação brasileira o mel deve necessariamente apresentar grãos de pólen, além disso, é proibida a utilização de qualquer tipo de aditivos.
O mel brasileiro, para a True Source, é classificado como de Baixo Risco. Segundo a ABEMEL (Associação Brasileira dos Exportadores de Mel), nosso país possui condições muito favoráveis para a produção de mel, destacando-se o clima que permite a produção durante todas as estações, além das abelhas encontradas no país, que são do tipo africanizadas, mais resistentes a doenças, fazendo com que não haja o uso de antibióticos ou outros produtos para controlar doenças e pragas.
O Brasil é o oitavo maior exportador mundial, porém o consumo de mel interno ainda é muito inferior ao encontrado ao redor do mundo, como informado pelo gráfico abaixo. Segundo a Abemel, nos anos de 2014 e 2015 a maior parte da produção brasileira foi exportada (66% e 59%, respectivamente).
Imagem 1. Fonte ABEMEL- Apicultura Sustentável- Carlos Pamplona Rehder -Camara Setorial do Mel- MAPA- 16.06.2015
Conclusão
Apesar da evolução das metodologias de detecção de fraudes, observa-se que quando um novo teste é criado, em pouco tempo o sistema procura novas brechas para continuar utilizando práticas desonestas.
A indústria e o time de segurança de alimentos tem um papel chave no combate à comercialização de produtos fraudados. Ressalta-se a importância de desenvolver um plano de Prevenção de Fraude Alimentar robusto.
Além disso, informar e “empoderar” o consumidor é a chave para que ele valorize a qualidade e se atente a preços destoantes do mercado.
O Brasil é visto como um produtor de mel de boa qualidade e possui um grande potencial para expansão de sua produção. A região norte é a região que menos produz atualmente e a que possui a maior reserva florestal do país, podendo principalmente produzir mel orgânico, pois se situa em locais onde não há aglomerações humanas.
Veja também:
Fontes:
https://www.economist.com/united-states/2018/08/30/the-scourge-of-honey-fraud Acesso em: 11 set. 2018.
http://www.truesourcehoney.com/ . Acesso em: 11 set. 2018.
ABEMEL. Associação Brasileira dos Exportadores de mel. http://brazilletsbee.com.br/nossos-produtos.aspx .Acesso em: 21 set. 2018.
https://revistagloborural.globo.com/Noticias/Criacao/noticia/2015/07/brasil-sobe-no-ranking-e-e-o-8-maior-exportador-de-mel.html .Acesso em: 21 set. 2018.
CONAP. Cooperativa Nacional de Apicultura. http://www.conap.coop.br/2017/01/05/abemel-divulga-dados-relativos-a-exportacao-de-mel-no-pais/ Acesso em: 21 set. 2018.
BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 11 de 20 de outubro de 2000. Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Mel. Disponível em:
http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=7797. Acesso em: 11 set. 2018.
Mestry Badahra
O consumo interno é fraco devido as ocorrências , e a falta de uma Marketing bem dirigido.
Alem das fraudes possíveis, com a possibilidade de batismos com assucar e essências, de exelencia no aroma e qualidade
E, aproveitando esta Pauta , lembramos que existe uma grande preocupação, por parte dos apicultores e consumidores , sobre o possível d desaparecimento das ABELHAS, Devido o Banho excessivo, de Pesticidas ( agro tóxicos ) que invadem a nossa Flora , sem controles , o que , contribui para a extinção das Abelhas do Nosso Brasil Varonil .,
Mestry Badahra
Everton
Uma pergunta não tão dentro do artigo mas ainda sobre mel. Porque o mel “cristaliza”. Tem relação com fraude ou não?
Talita Rosa Mansur
Olá Everton,
Na verdade é o oposto. Considera-se que a cristalização do mel é um indicativo de sua qualidade.
A cristalização do mel não ocorre, por exemplo, em produtos fraudados pela adição de xarope de cana ou milho.
O mel é uma solução com alta concentração de açúcares. Os carboidratos presentes em maior quantidade na composição do mel são a glicose e a frutose.
A glicose tem uma solubilidade menor que a frutose. Dessa forma a glicose acaba se separando da água e formando cristais.
A velocidade da cristalização é influenciada por muitos fatores, como por exemplo pelo tipo de pólen presente no mel. Por isso há produtos que cristalizam em um mês e outros que podem demorar anos.
Abraços,
Talita
Nayara
Apenas para complementar a resposta…existem floradas que podem demorar muito tempo para cristalizar, ou até mesmo nem cristalizar. São exemplos os meis de melato e mel de laranjeira. 😉 Pois têm seu valor de F/G (relação entre frutose e glicose) , como explicado acima, com valores altos. É comum também que uma parte cristalize e outra fique líquida, como em meis de eucalipto.
Cristiane L. Souza Oliveira
Boa tarde. Gostaria de saber se o testes do fósforo ou da água, ou outro teste caseiro são eficazes