A apanha de frangos de corte desempenha um papel fundamental na cadeia produtiva da indústria dos alimentos. Além de impactar diretamente o Bem-estar Animal, a forma como os frangos são manuseados durante esse processo também afeta a qualidade da carne e a eficiência geral da produção.
A cadeia produtiva de frangos de corte é uma das mais relevantes do agronegócio. A boa conversão alimentar dos frangos possibilita um ciclo produtivo rápido, que aliado à alta produção, caracterizam o dinamismo da avicultura industrial, principalmente se comparada com as demais espécies de produção animal. Somado a isso, a crescente predileção dos consumidores pela carne de frango é notável, e alguns fatores que contribuem para isso são o custo acessível, a versatilidade de preparo e a qualidade nutricional. Essa junção de aspectos impulsiona cada vez mais a competitividade no mercado.
Entretanto, por ser uma atividade tão intensa, constantes desafios vêm sendo observados. O destaque é para o bem-estar dos frangos de corte, já que isso influencia positivamente na qualidade de sua carne. Dentre os fatores que podem afetar o bem-estar das aves e interferir nos atributos da carcaça destacam-se os erros de manejo nas fases de criação, pré-abate e processamento, que podem desencadear hematomas e fraturas, com perdas significativas para a produção avícola.
Manejo pré-abate: impactos críticos na qualidade da carne e no Bem-estar Animal
A execução de um manejo pré-abate criterioso é uma necessidade evidente, sendo o momento da apanha considerado um ponto crítico de controle. Essa etapa ocorre quando os frangos atingem o peso de abate do mercado, sendo capturados por colaboradores e conduzidos ao abatedouro. Dentre as operações pré-abate, essa é a que mais gera injúrias físicas e estresse.
Nesse período, nota-se o maior percentual de hematomas no peito, provenientes de falhas humanas, pela colocação rápida dos frangos nas caixas de transporte, além de quebra de asas. Somado a isso, as rotas de fuga criadas pelas aves fazem com que umas se aglomerem sobre as outras, expondo os animais a altos níveis de estresse, com susceptibilidade à ocorrência de arranhões, contusões e, por conseguinte, depreciação da carcaça.
Em casos mais graves, as principais causas de mortes por trauma durante a apanha acontecem quando o funcionário suspende a ave por uma perna só, ocorrendo o bater excessivo das asas, com uma torção leve da pelve, ocasionando deslocamento ou fratura do fêmur. Através disso, o osso é compelido para o interior da cavidade abdominal, podendo romper os sacos aéreos e ocasionar a entrada de sangue nos pulmões.
Análise das causas e incidências dos hematomas pré-abate
De modo geral, aproximadamente 90 a 95% dos hematomas de frangos de corte ocorrem durante as 12 horas que antecedem o abate. Destas lesões, 35% são causadas pelo criador devido ao manejo impróprio da cama e alta densidade de alojamento, 40% no decorrer da apanha e o restante durante transporte, descarga e pendura.
Além disso, a coloração do hematoma varia em função do tempo entre a ocorrência da contusão e o momento de avaliação no abate. Os hematomas com coloração roxo escuro formam-se em até 12 horas, o que corresponde ao período de apanha. De acordo com Tomasi (2010), os locais que apresentam maiores incidências de contusões e hematomas são: peito (39 a 56%), pernas (25 a 30%) e asas (18 a 31%).
Métodos de apanha de aves: abordagens e desafios
Com relação aos métodos de apanha utilizados no Brasil, é possível capturar manualmente as aves pelas pernas ou pelo dorso. Na apanha pelas pernas, os frangos são pegos pelos dois membros e colocados de cabeça para baixo. É um método mais rápido e exige menos colaboradores; no entanto, essa prática inversa acarreta estresse e pode resultar em fraturas devido aos movimentos bruscos, tornando-a ineficiente.
Já na apanha pelo dorso, as asas são pressionadas junto ao corpo das aves, impossibilitando-as de bater. Com isso, o número de ocorrências de lesões diminui, resultando em maior proteção à integridade física dos animais. É o método menos estressante, desde que as aves sejam levantadas e carregadas corretamente dentro das caixas. Seguindo as recomendações nacionais e internacionais de bem-estar animal (ABPA, 2016; OIE, 2017; DEFRA, 2002), os frangos devem ser pegos pelo dorso.
É importante salientar, contudo, que a apanha pelo dorso eleva os custos e o tempo nos carregamentos. Ainda assim, trata-se da melhor alternativa em termos de qualidade da carcaça. Esse fato é corroborado nos estudos de Kittelsen e colaboradores, ao concluírem que a apanha pelo dorso proporcionou menos danos ao bem-estar das aves.
Boas práticas de manejo durante a apanha
Para garantir o bem-estar durante a apanha, é importante priorizar os seguintes fatores: realização no período noturno, temperaturas mais amenas e capacidade visual dos frangos reduzida, contribuindo para diminuir a agitação dos animais. Durante o processo, é importante não esquecer de remover os comedouros e bebedouros para evitar acidentes. Uma recomendação válida é subdividir as aves em grupos, tornando mais fácil a contenção e apanha, o que reduz o risco de lesões na pele. Os funcionários, por sua vez, devem fechar as caixas com cuidado, deslizando-as suavemente para garantir o bem-estar das aves.
Caso a apanha seja realizada no período diurno, deve-se utilizar cortinas sobre as portas para minimizar a intensidade de luz do galpão. E a ventilação deve ser controlada para evitar estresse por calor, a fim de precaver a incidência de aves ofegantes.
“A certificação de Bem-estar Animal é uma abordagem abrangente que vai além da criação e engloba todas as etapas da vida dos animais, incluindo o abate. Baseada na prevenção de doenças, tratamento veterinário, proteção, manejo e nutrição adequada, essa certificação busca garantir que os animais sejam não apenas criados, mas também abatidos de forma respeitosa e humanitária”, aponta Roberta Cunha, Gerente de Operações da QIMA/WQS, certificadora global que tem a Certificação de Bem-estar Animal como uma das principais soluções em sua cartela de serviços.
A importância da capacitação dos funcionários
Para mitigar os efeitos negativos do manejo pré-abate sobre o bem-estar animal, é importante investir em treinamentos constantes e capacitação dos funcionários. As aves devem ser apanhadas cuidadosamente, seguindo os procedimentos padronizados.
No intuito de melhorar o bem-estar dos frangos, reduzir hematomas e alcançar ganhos econômicos, é conveniente considerar a bonificação dos resultados dos funcionários. É essencial, ainda, que todo esse processo seja supervisionado por um líder, garantindo a redução de contusões e fraturas que possam resultar na condenação de partes valiosas da carcaça, como peito, coxa, sobrecoxa e asas.
Promovendo o Bem-estar Animal e a qualidade da carne
A influência da apanha na cadeia produtiva de frangos de corte é de extrema importância, afetando tanto o Bem-estar Animal quanto a qualidade da carne produzida. É crucial adotar medidas de manejo pré-abate criteriosas, capacitar os colaboradores envolvidos e implementar práticas que promovam o bem-estar dos animais. Somente assim será possível garantir uma cadeia produtiva mais sustentável, com frangos de corte saudáveis, produtos de qualidade e a satisfação de todos os envolvidos, dos produtores aos consumidores.
Saiba mais sobre as certificações de Bem-estar Animal através do guia, disponível no link https://wqs.com.br/bem-estar-animal.
Artigo desenvolvido por Mariana Rodrigues, Analista Técnica na QIMA/WQS.
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