Don Zinc, Ph.D. do Center for Food Safety and Applied Nutrition resgatou o case de 2006 quando um surto de do E. Coli O157:H7 em espinafre fez 5 vítimas fatais e 276 doentes em cinco estados dos Estados Unidos.
Pois bem, na época as autoridades ficaram estarrecidas com a questão: mas como um patógeno sempre associado a produtos de origem animal foi ocorrer em um produto vegetal?
Percebam a proximidade da plantação de espinafre e da área de criação de bovinos, vizinhas “de porta”. Num contexto como este, como proteger o solo e a água de irrigação? Como gerenciar os dejetos dos animais? Após assistir esta palestra, cheguei a conclusão que chegamos a um dilema fruto do que eu batizaria de “Contaminação Cruzada Global”. No passado, o campo, as residências, as pastagens e as indústrias estavam geograficamente separadas a ponto de não termos grandes preocupações. Com o aumento populacional, está cada vez mais difícil preservar cada ecossistema, uma vez que estamos ocupando cada vez mais áreas e todas elas estão se aproximando num ciclo muito perigoso.
Na faculdade e na minhas iniciações científicas em microbiologia nos anos 90, havia uma linha divisória muito clara separando alimentos de alto risco e baixo risco, nas quais as carnes, ovos e laticínios estavam disparados no topo da lista de preocupações. Vegetais contaminados por conta da água eram assuntos para países em desenvolvimento e com saneamento básico muito precário. Mas hoje estamos falando dos Estados Unidos da América! Estamos falando de Listeria monocytogenes em melão cantaloupe, de Salmonella em amendoim, alface ou tomates, norovírus em morangos. E a E.coli O157:H7 portanto não é mais exclusividade de hambúrguer mal passado.
Para dar mais um exemplo de como as fronteiras são transponíveis, um período de cheias como este, como evitar a contaminação cruzada eventualmente existente em diferentes cultivos vizinhos?
E essa contaminação também pode ocorrer para dioxinas, metais pesados, defensivos agrícolas… mas isso é assunto para outro post!
As figuras foram tiradas da palestra que aconteceu na Abrapa, Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, no XI Simpósio Internacional de Inocuidade de alimentos que aconteceu no dia 17 de Setembro, evento sempre impecavelmente organizado pelo comitê técnico.
Maria Batista de Deus
É importante que cada vez mais as informações cheguem aos diferentes níveis sociais…Como a bactéria não vista a olho nú, fica dificil para as pessoas acreditarem nessas possibilidades de contaminação. Valeu a reportagem!