No primeiro semestre de 2011, os jornais e revistas noticiaram o surto de pessoas infectadas por bactérias em alimentos na Europa. O surto, causado pela presença de uma variedade da bactéria Escherichia coli (E. coli) em brotos de feijão, atingiu mais de 3000 pessoas e vitimou dezenas delas na Europa.
A E. coli é uma bactéria encontrada naturalmente no intestino de humanos e animais. Existe uma variedade de cepas de E. coli, algumas inofensivas e outras que podem causar graves doenças. “A cepa de E. coli que causou o surto, parece estar presente no trato gastrointestinal de bovinos e provavelmente de outros animais de sangue quente, e não causam doença nestes. No caso da Europa, a contaminação do alimento incriminado, que foi o broto de feijão de uma fazenda na Alemanha, pode ter acontecido por conta do uso adubo orgânico que não tenha sido bem compostado, e/ou, com as fezes de algum animal que pode ter contaminado a água de irrigação das plantações”, explica a pesquisadora do CCQA, Neliane F. de Arruda Silveira.
Nos anos 90, uma outra cepa patogênica da E. Coli (O157:H7) contaminou carnes e alimentos dos EUA e diversos países, infectou a população e causou doenças com o sintomas semelhantes aos observados no surto atual, como a paralisação dos rins em casos onde a doença evoluía. Nesse período, um projeto do CCQA (Microbiologia) em parceria com o CTC realizou um estudo, a fim de buscar indícios dessa bactéria nos alimentos do País.
“Na época, a carne foi o alimento mais incriminado. Então, visitamos frigoríficos de todos os portes, para recolher amostras para análise do ambiente, de carcaças e de produtos processados de carnes, como o hambúrger. Não encontramos nenhum indício da bactéria patogênica”, conta a pesquisadora Neliane F. de Arruda Silveira, que junto com a também pesquisadora do CCQA, Neusely da Siva, realizou o projeto.
O resultado do estudo, que durou quase quatro anos, intrigou a comunidade científica em congressos internacionais, que queria saber o motivo pelo qual a bactéria que estava em diversos países, não tinha sido encontrada, no estudo em nosso País. “Acreditamos que o nosso tipo de gado, o confinamento, a lavagem antes do abate, e a maneira como trabalham os frigoríficos foram alguns dos fatores que contribuíram para que aquela bactéria especifica, não fosse encontrada na ocasião, nesses produtos”, explica Neliane.
Apesar dessas duas cepas bacterianas patogênicas da E. Coli serem diferentes, a pesquisadora afirma que a forma de prevenção foi, e continua sendo, a mesma em todos os casos. O cuidado com a higiene durante o processamento dos alimentos e na conservação e utilização dos alimentos a nível domestico. São fatores básicos e primordiais para criar uma barreira a possíveis surtos, como o que está ocorrendo na Europa.
“Não há situação para pânico. Se mantivermos as condições de higiene das indústrias e tomarmos certos cuidados em casa, provavelmente não acontecerá um surto como o da Europa. Pode até acontecer algum caso esporádico, mas surtos , se nos precavermos , acreditamos que não”.
DICAS : A pesquisadora Neliane dá algumas dicas que podem afastar o risco de contaminação dos alimentos a nível de consumidor
• Não deixar alimentos fora da geladeira por mais de 2 horas.
• Não consumir carnes cruas ou mal cozidas –
• Não misturar alimentos de cozinha sujos com alimentos prontos
• Não deixar os alimentos expostos a temperaturas altas
• Lavar bem e higienizar os alimentos que são consumidos crus como as folhas, com cloro
• Lavar muito bem as mãos ,com sabão ou sabonete asséptico especialmente antes e depois de refeições.
• Não consumir alimento suspeito, com prazo de validade vencido, ou que apresentam injúrias nas embalagens e muitas vezes estão em oferta nos supermercados.
Post enviado pela pesquisadora Neliane Silveira, do CCQA, Instituto de Tecnologia de Alimentos de Campinas.