Solda higiênica: o que é e como avaliá-la na indústria de alimentos

“Exemplo de solda higiênica polida em tubulação de aço inox AISI 316 usada na indústria de alimentos”
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A solda higiênica, também chamada de solda sanitária, é um tipo de união metálica utilizada em tubulações, tanques, válvulas e equipamentos em que há contato direto com alimentos ou bebidas. Seu principal objetivo é garantir que não haja pontos de acúmulo de resíduos, contaminações ou dificuldades de limpeza, mantendo assim a segurança dos alimentos.

Ela é frequentemente usada em sistemas onde o contato direto com alimentos é inevitável, como processamento de laticínios, bebidas, carnes e também em linhas de produtos farmacêuticos e cosméticos. Para ser considerada sanitária, a solda deve ser perfeita em termos de acabamento e integridade, de modo a evitar pontos de falha onde contaminantes possam se acumular.

Diferentemente das soldas comuns, a solda higiênica precisa apresentar:

  • Superfícies lisas e contínuas, sem rebarbas ou cavidades;
  • Ausência de trincas, poros ou descontinuidades;
  • Acabamento interno e externo polido, conforme as especificações sanitárias (geralmente até Ra 0,8 m de rugosidade);
  • Alinhamento preciso entre as partes unidas, sem degraus internos.

Exemplo de solda higiênica polida em tubulação de aço inox AISI 316 usada na indústria de alimentos

Por que a solda higiênica é crítica na indústria de alimentos?

Qualquer falha em uma solda pode se tornar um ponto de risco microbiológico. Um pequeno poro pode permitir o acúmulo de resíduos e biofilmes, comprometendo a limpeza e desinfecção, mesmo com CIP (Cleaning in Place). Isso pode levar à contaminação cruzada, deterioração do produto e até recall.

Equipamentos como vasos e tubulações utilizados na fabricação higiênica de produtos alimentícios são frequentemente fabricados em aço inoxidável austenítico (por exemplo, tipo AISI-316). A soldagem é o método usual de conexão das várias partes componentes de uma planta, sendo fundamental que as soldas reflitam as qualidades higiênicas do material base o mais próximo possível.

A filosofia de design de uma planta higiênica segue três linhas centrais:

  1. O produto deve fluir livremente pela linha e não estagnar;
  2. A linha deve ser limpa e permitir a destruição de microrganismos;
  3. O conteúdo da linha deve ser protegido do ambiente externo.

Consequentemente, as soldas também devem atender a esses requisitos. Soldas deficientes podem contribuir para vários problemas de higiene, como retenção de produto em frestas, outras áreas mortas ou superfícies rugosas, que podem ser difíceis ou impossíveis de limpar no ciclo usual de limpeza em linha (CIP).

Problemas comuns em soldas

Vários tipos de defeitos comuns em soldas podem atuar como fontes de problemas microbiológicos devido à limpeza inadequada e retenção de produto:

  • Desalinhamento: Pode ser causado por montagem incorreta antes da soldagem ou desajuste nos diâmetros ou espessuras, introduzindo um degrau na parede ou no furo, o que pode reter produto.
  • Trincas: Trincas que penetram na superfície de contato do produto podem alojar material. O tipo mais comum é a “trinca central”, que corre ao longo do metal de solda, geralmente causada por um espaço muito amplo durante a preparação da junta.
  • Porosidade: A presença de poros na solda pode comprometer a integridade da união e dificultar a limpeza.
  • Oxidação: A oxidação excessiva pode ocorrer pelo uso de temperaturas elevadas durante a soldagem, comprometendo as propriedades higiênicas do material.

Como avaliar soldas higiênicas na prática?

A avaliação de soldas higiênicas envolve critérios visuais, dimensionais e funcionais. Veja os principais métodos:

1 – Inspeção Visual

  • Deve ser feita por um profissional qualificado.
  • Busca-se uma superfície uniforme, sem respingos, poros, trincas, cavidades ou sobreposição de material.
  • A solda deve ser contínua e sem sinais de oxidação (cor azulada, amarelada ou preta indica superaquecimento).

2 – Rugosidade (Ra)

  • Medida com rugosímetro.
  • Para superfícies em contato com alimentos, a rugosidade interna deve ser de Ra 0,8 µm (alguns casos exigem 0,6 µm).
  • Quanto menor a rugosidade, mais fácil é a limpeza.

3 – Teste de Penetração por Líquido (PT)

  • Usado para identificar trincas superficiais invisíveis a olho nu.
  • Consiste na aplicação de um líquido penetrante seguido de revelador.

4 – Videoscopia (borescope ou boroscópio)

  • Inspeção interna de tubulações soldadas.
  • Ideal para locais de difícil acesso, onde o acabamento interno da solda deve ser perfeito.

5 – Radiografia Industrial (RX)

  • Avaliação da integridade interna de soldas, identificando poros, inclusões e trincas.
  • Muito usada em soldas de alta criticidade, mas de custo elevado.
  • A avaliação das soldas higiênicas deve ser feita com base em uma série de critérios técnicos que assegurem a funcionalidade e segurança da instalação. Além de uma inspeção visual detalhada, também são utilizados testes mais específicos para garantir que a solda atenda aos padrões de segurança de alimentos.

Critérios de aceitação (exemplos práticos)

Tipo de Defeito Aceitável? Observação
Rebarba ou saliência Não Pode reter resíduos alimentares
Poros ou crateras Não Indicam penetração incompleta ou contaminação
Cor azul/amarela na solda Não Indica oxidação por superaquecimento
Alinhamento irregular Não Causa zonas mortas e acúmulo
Superfície polida e lisa Sim Ideal para limpeza e sanitização

Boas práticas na execução da solda higiênica

  • Usar soldagem TIG (GTAW), preferencialmente com gás de purga para proteção interna;
  • Garantir que o soldador seja qualificado para soldagem sanitária;
  • Realizar controle do calor para evitar oxidação;
  • Executar treinamentos periódicos e qualificação contínua da equipe.

A solda higiênica é muito mais do que estética, ela é essencial para garantir a segurança dos alimentos e o cumprimento das normas sanitárias.

A inspeção regular e o uso de critérios técnicos objetivos contribuem para manter a integridade do processo produtivo e evitar riscos à saúde pública.

Além disso, a qualificação contínua dos soldadores, o uso de técnicas avançadas de soldagem e inspeção são fundamentais para manter os elevados padrões exigidos pelas indústrias alimentícias.

O cuidado com a solda higiênica não é apenas uma questão de qualidade do alimento, mas de responsabilidade sanitária.

Aproveite esse momento de leitura e explore outras postagens do blog sobre solda higiênica:

  1. Solda sanitária: vamos conversar?
  2. Os perigos que envolvem as soldas na indústria de alimentos
  3. Perigo de corrosão a partir de soldas em equipamentos de aço inoxidável
  4. Por que a solda TIG é a mais indicada para a indústria de alimentos?

Ana Sílvia Mattos Gonçalves é engenheira de alimentos, coordenadora de Segurança de Alimentos e Qualidade e especialista em assuntos regulatórios e qualificação de fornecedores.

Referências:

AISI Steel Products Manual, Stainless and Heat Resisting Steels (1974)

EHEDG Doc 9, Welding stainless steel to meet hygienic requirements

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