Recentemente a Península Ibérica enfrentou um apagão que afetou milhões de pessoas e deixou várias zonas sem energia por longos minutos. Embora breve, o impacto foi suficiente para gerar alertas em diferentes setores — e a indústria alimentar não foi exceção. Estes episódios inesperados colocam à prova os sistemas de conservação, os planos logísticos e, acima de tudo, a segurança dos alimentos. Afinal, quando a luz se apaga, o risco de comprometer a integridade dos produtos aumenta significativamente. E isto faz-nos pensar no plano de emergência que envolve falhas de energia e está muitas vezes esquecido na gaveta.
Num cenário em que a confiança do consumidor depende de alimentos seguros, um corte de energia pode ser mais do que um contratempo: pode representar uma quebra na cadeia de frio, uma perda de produto ou, em última instância, uma ameaça à saúde pública. Por isso, mais do que nunca, é essencial que cada empresa tenha um plano de emergência bem definido — e que esse plano não esteja apenas no papel.
Riscos associados à queda de energia
A falha de energia, mesmo que momentânea, pode provocar sérios danos nas operações da indústria alimentar. Basta pensar em tudo o que depende de eletricidade: câmaras de refrigeração, sistemas de ventilação, linhas de produção, transporte com controle de temperatura… A lista é longa.
Entre os riscos mais comuns estão:
- A quebra da cadeia de frio, tanto no armazenamento como no transporte, o que pode acelerar a deterioração dos alimentos;
- A alteração da validade de produtos sensíveis, que já não mantêm as mesmas condições de segurança;
- A ausência de registros automáticos de temperatura, que dificulta a rastreabilidade e a tomada de decisão;
- A interrupção de sistemas críticos, como alarmes, sensores ou equipamentos de monitorização.
Tudo isto reforça a necessidade de investir numa cultura de segurança dos alimentos, onde todos saibam o que fazer — e o porquê. Se ainda não leu, recomendo o artigo Cultura de segurança dos alimentos: o elo invisível que protege a cadeia produtiva, que aprofunda esta visão preventiva e integrada.
Como garantir a segurança em casos de emergência?
Ter um plano de emergência não é só para cumprir auditorias. É uma ferramenta real de proteção da operação e da marca. Aqui ficam algumas boas práticas:
- Geradores de emergência: podem ser a salvação para manter equipamentos críticos em funcionamento.
- Sensores com autonomia e registros automáticos: garantem que mesmo na ausência de energia, as temperaturas continuam a ser monitorizadas e registradas.
- Planos de comunicação internos e externos: a rapidez com que se contactam fornecedores, clientes e autoridades pode fazer a diferença entre controlar ou não controlar um incidente.
- Formação contínua das equipas: cada colaborador deve saber o que fazer em caso de falha de energia — desde verificar equipamentos até acionar planos de evacuação ou de contenção.
Estas orientações são, aliás, reforçadas por guias técnicos publicados por autoridades europeias, que fornecem diretrizes para garantir a segurança mesmo em condições adversas.
Preparação é mais do que um plano — é uma atitude
Este apagão serviu como alerta. Mostrou que, por mais planejada que esteja a produção, há variáveis externas que não conseguimos controlar. O que podemos (e devemos) fazer é preparar-nos para elas.
Rever os planos de contingência, testar os equipamentos de backup, reforçar os treinos internos — tudo isso faz parte da responsabilidade que a indústria alimentar tem para com a sociedade.
Porque a segurança dos alimentos não é só o que acontece em tempos normais, mas também a forma como se responde quando as luzes se apagam.