Como já descrito em posts anteriores, um projeto sanitário bem feito utilizando como junção de tubulações em inox a solda TIG é o melhor dos mundos para a indústria de alimentos. O risco de qualquer tipo de contaminação é baixo, favorece a higienização e diminui a probabilidade de corrosões. Sabemos, porém, que nem sempre o mundo ideal existe e o dia-a-dia na indústria é muito distante do que desejamos, os equipamentos quebram e a necessidade de uma solda urgente é grande. Nesta hora os perigos surgem e a pressa para que o equipamento retorne à operação não pode ser maior que a avaliação dos riscos que uma solda não sanitária e mal realizada traz para o processo como um todo.
Solda é uma palavra que causa palpitações em profissionais da qualidade, pois ela pode trazer consigo, se não for bem realizada, os 3 tipos de perigos ensinados nos treinamentos de BPF (Boas Práticas de Fabricação): químicos, físicos e biológicos, mas como uma pequena solda pode trazer todos esses perigos?
O perigo químico se dá durante a soldagem, no qual há a vaporização dos metais que compõe a solda, chamados de fumos de solda, que, se forem de solda comum (não inox), podem conter diversos tipos de metais, tais como cromo hexavalente, manganês, níquel, chumbo, cobre, alumínio, ferro, entre outros elementos da composição do material a ser soldado. As partículas que constituem os fumos de solda são pequenas (0,01 µm a 5 µm) e podem permanecer em suspensão por um longo período. Esses vapores são um risco tanto aos colaboradores quanto aos processos expostos, pois, como todo gás, são dispersados e os metais contidos nele podem se depositar em diversos lugares, até mesmo nos produtos. Muitos desses metais são correlacionados a casos de câncer de pulmão e vias digestivas.
O perigo físico pode ocorrer durante, logo após e ou muito tempo depois da soldagem. Acontece durante a soldagem quando não há cuidados com os materiais utilizados, que podem cair no processo sem serem percebidos, quando não se faz isolamento correto da área e adjacências. Logo após a soldagem também acontece pela falta de cuidados, com a falha na limpeza após manutenção, sem a remoção dos materiais usados em sua totalidade e a limpeza da solda (externa e internamente), podendo conter desde limalhas até partículas maiores do que 2 mm de metal, o que não é permitido pelas normas (RDC 14/2014). Agora, na situação de muito tempo depois da soldagem mora um grande perigo e risco ao processo, pois a solda mal realizada gera protuberâncias e irregularidades dentro das tubulações que, com o passar do tempo e as ações mecânicas que sofrem, vão quebrando e se desprendendo aos poucos, de forma intermitente e de diversos tamanhos.
Perigo biológico: por último, mas não menos importante, está o perigo biológico, sendo que em uma solda com as características descritas acima, com protuberâncias e irregularidades, há o acúmulo de sujidades e dificuldade de higienização no local, propiciando proliferação de micro-organismos e formação de biofilmes.
Devemos sempre levar em conta esses perigos antes de decidir como e qual solda realizar, avaliar os riscos ao produto, processo e aos colaboradores, isolar a área que receberá a solda, utilizar sistemas de exaustão/aspersão dos gases, realizar limpeza após manutenção do local, da área soldada e adjacências, avaliar internamente e externamente as soldas, se estão lisas, sem ranhuras, protuberâncias e/ou irregularidades. Nunca se deve soldar peças em inox com ligas de solda que não sejam também de inox (pela incompatibilidade dos materiais, estas se soltam com mais facilidade). É preciso realizar manutenções preventivas periódicas nos equipamentos e tubulações, e, quando cabível mas não possível conseguir controlar todas as variáveis, ter formas de redução e/ou eliminação dos perigos, como ímãs e detectores de metais no processo.
Referências:
Riscos e soluções para os fumos de solda, Nerderman. Disponível em: http://www.mkfiltragem.com.br/informativos/Riscos.pdf. Acessado em: 14 de Ago. 2019.
ALVES, S. J. F., FERREIRA, R. A. S., FILHO, O. O. A., SCHULER, A. R. P., SILVA, C. M. Estudo dos fumos e gases gerados no processo de soldagem gas metal arc welding (gmaw) em empresa do segmento metal mecânica de Pernambuco. Publicado em 13/11/2014. Disponível em: http://www.metallum.com.br/21cbecimat/CD/PDF/303-054.pdf. Acessado em: 24 de Ago. 2019
Tainá Alves Nogueira Falleiros é médica veterinária e técnica em alimentos, com experiência de mais de 10 anos em Qualidade na indústria de alimentos, com expertise em processos de higienização industrial e validações. É auditora interna em FSSC 22.000, IFS Food e ISO 9001:2015. Atualmente trabalha em uma multinacional de balas de gelatina, trabalhou em multinacional de balas e confeitos e indústria nacional de bebidas não alcoólicas.
Fabiana Vicente
Ótimo artigo!!!! Os perigos químicos representados pela soldas, na grande maioria das vezes, é ignorado e desconsiderado pelos profissionais de Manutenção e Produção.
Nelson Ferreira Calado Junior
Muito bom o artigo enriqueceu o meu conhecimento. Obrigado por escrevê-lo!
Adriane Frizzo
Muito pertinente o assunto. Importante ressaltar esses pontos, em um momento onde há falta de informações ou abundância de desinformação. Os cuidados de BPF valem para todos os portes de indústria. O que podemos ver muitas vezes é a alegação de que pequeno = bom, o que é falso. Trabalho com agroindústrias familiares e pequenas, e posso afirmar que mesmo sob as diversas dificuldades que aparecem nesse caminho, nossa base é essa: BPF, qualidade e segurança alimentar.
Adriane Frizzo
Muito bom o artigo!! Muitas vezes esquecemos principalmente o risco químico, focamos só no físico e biológico de uma solda mal feita. Obrigada pelas informações.
Maria Janaina Santos da Mota
Muito bom esse artigo, são essas pequenas informações que fazem a diferença, como estou trabalhando agora no ramo de alimentos essas informações são muito importantes pro meu conhecimento. Parabéns Dr. Taina Alves.
Ronie Melo
Excelente artigo que nos alerta sobre os riscos inerentes às soldas.
Eder Ferri
Interessante!
Vale ressaltar que a soldagem deve ser realizada em área destinada a esse fim. E não há porque não fazê-lo: Para uma solda bem feita, o equipamento precisa estar limpo e livre de resíduos pois estes dificultam a fusão das ligas metálicas, gerando uniões horríveis (esteticamente), perigosas e ineficientes. Já que o equipamento será parado para uma higienização pré-manutenção, porque não desloca-lo até um local específico e seguro para a realização deste serviço? Lembrando também que, muitas das vezes, esses equipamentos podem estar ligados mecânica e eletricamente à painéis elétricos compostos por componentes sensíveis (e caros!), como HMI’s e PLC’s. Uma descarga acidental pode danificar significativamente esses aparelhos, ocasionando em perca do componente e/ou perca de dados importantes como receitas e parâmetros.
No caso de solda em estruturas de equipamentos, que por vezes não podem ser deslocadas para outras áreas, faz-se necessário o desligamento dos equipamentos de quaisquer fontes de energia (o que exige a parada da produção) e uma higienização completa e imediata do local após a realização dos serviços. Lembrando que solda em ambientes confinados (como silos, reservatórios e túneis de congelamento) exigem muito mais cuidados devido ao eventual acúmulo de gases tóxicos e inflamáveis.
Angelo José
muito bom o artigo !
Daniely Marreiro
Excelente assunto..Soldas são sempre um ponto de atenção na industria….Parabéns!!!
Adao da silva
Muito bom esse assunto. Deveria ser levado para os peritos do inss. E para os politicos. Que cortaram os direitos dos profissionais da aria de soldagem..
Airton Luis Morassi
Trabalho a 40 anos com análise de falhas industriais. A maior incidência de falhas em equipamentos da área alimentícia está relacionada a problemas causados por corrosão e quase que a totalidade destes processos de corrosão são oriundos de processos de soldagem, principalmente a utilização de materiais improprios pra soldagem.
Joel carvalho Novais
As empresas alimentícia deve tomar muito cuidado na contratação de empresas de manutenção ( soldagem), verificar se o soldador possui experiência em soldagem de equipamentos para indústrias alimentícia , pois uma boa solda começa na preparação, soldagem, acabamento e inspeção visual , caso a solda fique irregular o Soldador deve lixar deixando o acabamento liso e uniforme.
Mário Mamede de sousa
Artigo muito bem comentado sou encarregado de soldagem a 20 anos, além dos cuidados com a segurança envolvendo a solda, toda e quelquer solda, tem que ser executado,por soldadores qualificados, para o processo de soldagem, com acompanhamento de um encarregado, ou inspetor de solda.
Wellington Aguiar da Silva
Isso é motivo de falta de mão de obras especializadas e salario que querem pagar para quem tem qualificação.
Alex Trevisan
Excelente artigo,mais muito simples de evitar esse tipo de problema,nesse tipo de manutenção tem que ser executado por um soldador qualificado especialista na função.
Macielroberto Dutra da Conceição
Eu sou soldador é muito importante esse tipo de material para quem trabalha na área
Antonio Carlos da Conceição Costa
Boa tarde meu nome é antonio Carlos sou soldado tig trabalho na área de solda de aço inox muito importante vc sempre limpa a superfície aonde vc irá executar a solda e sempre usa a solda especial solda tig
Vicente Pereira de Souza
Nas tubulação de aco inox em fábricas de água e refrigerantes cervejas usam muitas soldas em todo maquinarios pena que muitos profissionais da área não dá importância esse tipo de prática a famosa Gambiarra deixando para trás um ponto de geradores de bactérias excelente artigo parabéns