Temos muitos posts sobre alergênicos aqui no blog, dada a relevância deste tema para a segurança de alimentos. Nossa norma legal RDC 26/2015 (Anvisa), apesar de ser muito esclarecedora quanto à rotulagem de alergênicos e sobre a necessidade de ter um programa de controle de alergênicos implementado, até o presente momento não determina quais seriam os níveis aceitáveis de um alergênico em um alimento no qual não está declarada sua presença. Isto porque sabe-se que a reação à presença de um alergênico não declarado por um portador de alergia alimentar é muito individual e varia de leve a extremamente grave. Mas, e fora do Brasil? Como está sendo tratado este tema?
Recentemente, um comitê de especialistas, composto por cientistas, representantes de agências regulatórias, médicos, gestores da academia, governo e indústria de alimentos foram selecionados para participar do segundo encontro da FAO/OMS sobre avaliação de risco de alergênicos. O objetivo era atender a solicitação do comitê do Codex de rotulagem de alimentos na obtenção de orientação científica para validar, e, se necessário, atualizar a lista de alimentos e ingredientes.
Para isto foram trabalhadas as seguintes questões:
Quais são os limites abaixo dos quais a maioria dos consumidores alérgicos não sofreria uma reação adversa, ou seja, quais os níveis aceitáveis?
Quais são os métodos analíticos apropriados para análise de alergênicos em alimentos e superfícies?
Quais devem ser os critérios mínimos de desempenho para esses diferentes métodos analíticos?
As abordagens consideradas para definir a dose de referência para cada alergênico foram: Base analítica; Nenhum nível de efeito adverso Observado [NOAEL] + Fator de Incerteza [UF]; Dose de referência combinada ou não com a aplicação de uma margem de exposição, e Avaliação de risco probabilística.
Após todo levantamento de dados, de pesquisas e publicações científicas relacionadas à alergênicos e sua implicação à saúde, o Comitê identificou várias considerações importantes para orientar a tomada de decisão.
Foram então determinadas as doses de referência que estão apresentadas na tabela abaixo:
Alergênico |
Dose de Referência (mg de proteína total da fonte alergênica/Kg de produto alimentício analisado) |
Noz (e noz-pecã *) |
1.0 |
Caju (e Pistache *) |
1.0 |
Amêndoa ** |
1.0 |
Amendoim |
2.0 |
Ovo |
2.0 |
Avelã |
3.0 |
Trigo |
5.0 |
Peixe |
5.0 |
Camarão |
200 |
Noz (e noz-pecã*) |
1.0 |
Leite |
[decisão pendente com base em análise de dados posterior] |
Gergelim |
[decisão pendente com base em análise de dados posterior] |
* veja as considerações no *veja as considerações no relatório completo ** provisório
O Comitê observou que a Dose de Referência pode ser implementada e monitorada em algum grau com as capacidades analíticas atuais, mas reconheceu que existem limitações significativas no desempenho dos métodos. Para resolver as deficiências na metodologia analítica, eles recomendaram o desenvolvimento de critérios de desempenho do método, bem como o fornecimento mais extenso de materiais de referência acessíveis para os alergênicos. Também identificaram a necessidade de uma melhor compreensão do desempenho do ensaio em diferentes matrizes alimentares e maior transparência sobre reagentes específicos de ensaio, como anticorpos usados em ELISA, que são essenciais para o desempenho da análise.
Para acessar o documento original, clique aqui.
A próxima reunião do comitê está prevista para ocorrer ainda neste ano, e tratará dos seguintes temas:
I. Quais métodos / ferramentas estão disponíveis para determinar se: o contato cruzado com alergênico é razoavelmente provável de ocorrer em um alimento após um procedimento de limpeza; se o contato cruzado com alergênico é razoavelmente provável de ocorrer a partir de equipamentos usados para alimentos com diferentes perfis de alergênicos e nível de alergênico em um alimento resultante do contato cruzado
II. Orientações sobre rotulagem de precaução: o uso de níveis aceitáveis com base científica para avaliar o risco para os consumidores alérgicos a alimentos e determinar as condições de uso da rotulagem de precaução de alergênicos.
Se você deseja acessar o conteúdo completo e original dos resultados de reuniões anteriores sobre avaliação do risco de alergênicos pela FAO/OMS basta acessar esses links:
http://www.fao.org/3/cb4653en/cb4653en.pdf
http://www.fao.org/3/ca7121en/ca7121en.pdf
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