Considerando que um dos principais pré-requisitos de boas práticas de fabricação está relacionado à limpeza e higienização de ambientes e equipamentos, é pertinente explorar as barreiras do tema e avaliar a possibilidade de contaminação cruzada derivada da falta ou inadequada higienização de EPIs.
Afinal de contas, o que é um EPI?
Pela definição da NR-06 (Norma Regulamentadora 06 – Equipamento de Proteção Individual) “considera-se EPI todo dispositivo ou produto, de uso individual, utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis a segurança e saúde no trabalho.”
A empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, equipamento de proteção individual adequado ao risco e em perfeito estado de conservação e funcionamento, sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes e danos à saúde dos empregados.
Como podem perceber, quando falamos de equipamentos de proteção, o foco principal é segurança ocupacional. Contudo, não podemos fechar os olhos para o impacto que este item pode ter em relação ao risco de contaminação de processos e produtos se não forem adequadamente limpos e higienizados. E aqui, há uma linha tênue entre a necessidade de manter estes equipamentos limpos tanto para garantir a eficiência e minimização dos riscos para a saúde dos colaboradores quanto para não acarretar riscos de contaminação aos produtos.
No conteúdo de hoje vou abordar a quais critérios temos que atentar para fazer a gestão da higienização destes equipamentos.
Bem, para começar vale ressaltar que quando falamos em EPI devemos ter em mente que é obrigatório garantir a individualidade do equipamento. Ou seja, se vamos recolher o EPI do colaborador de matrícula 1234 devemos garantir que o EPI higienizado deve retornar para o colaborador de matrícula 1234. Este conceito se aplica a sapatos de segurança, cintos lombares, protetor auricular, uniformes para eletrecistas e qualquer outro equipamento de proteção individual. Esta regra está estabelecida na própria NR-06 (Norma Regulamentadora 06 – Equipamento de Proteção Individual).
Já para os uniformes das demais funções da organização esta rastreabilidade não é obrigatória, é apenas uma boa prática. Somente é necessário garantir a correta higienização.
E como estabelecemos a metodologia para uma higienização eficaz de EPIs?
Podemos ter o mesmo equipamento de proteção sendo utilizado em dois ou mais processos de uma mesma empresa ou de empresas diferentes e este equipamento ter a necessidade de métodos de higienização diferentes. Por que isso acontece?
Porque a contaminação (de processo ou de resíduo) deste EPI depende do meio ao qual ele está exposto e também do usuário.
É provável que numa mesma organização, um único método de higienização para um determinado equipamento de proteção possa ser suficiente para garantir que o equipamento esteja em adequadas condições de retornar ao uso, mas isso vai depender das características específicas do processo e do método de higienização.
Exemplo: vamos considerar que a lavanderia de uma empresa faz a lavagem dos uniformes dos processos “A” e “B”. No processo A, podemos encontrar no mapeamento de perigos, a possibilidade de contaminação por alergênicos derivados de castanhas. Já no processo “B”, para alguns produtos são utilizados como matéria prima ovos e leite. A eficácia da lavagem dos uniformes deve ser testada tanto para a remoção dos alergênicos da castanha quanto para ovos e leite.
A forma correta de higienizar o EPI pode variar de acordo com cada um dos tipos e do material que compõe o equipamento. Abaixo listei as principais formas de higienização de alguns equipamentos:
Higienização de sapatos de segurança: Os calçados de segurança feitos de couro não devem ser lavados diretamente para evitar o ressecamento do material. Neste caso, o ideal é que a limpeza seja feita com pano úmido. Por outro lado, calçados de PVC e de microfibra podem ser lavados. Para ambos os casos, é imprescindível que o EPI seque por completo antes do uso.
Você pode encontrar outras informações sobre higienização de calçados de segurança aqui.
Higienização de protetores auriculares: Limpar usando água corrente, e esfregando o protetor com as mãos.
Não misture o equipamento com roupas sujas para evitar a contaminação.
Higienização de cintos lombares: Em geral, o ideal é lavagem com água morna e sabão neutro. Não utilizar secadora, mas deixar secar à sombra.
Higienização de capas térmicas: Lavar com cuidado, usando sabão neutro e enxaguar abundantemente com água corrente. Não use nenhum produto químico ou alvejante na remoção de sujeira. Deixar secar à sombra, evitando o uso de máquina de lavar ou secar.
Em geral, para validar o processo de higienização é comum encontrarmos estudos de validação que contemplam no mínimo 3 tomadas de amostras para análise considerando a repetibilidade do processo de limpeza / higienização. Desta forma, se as análises apresentarem resultados similares e dentro do nível aceitável, podemos concluir que o método de higienização garante que não haverá o arraste de contaminação.
Além disso, seguem outras informações importantes sobre uma gestão de EPIs eficaz:
-O EPI deve ter CA (Certificado de Aprovação emitido pelo Ministério do Trabalho e Emprego) válido;
-Os equipamentos têm vida útil, com isso a organização deve definir uma periodicidade de troca para se certificar de que o equipamento está cumprindo a sua função principal;
-Estabelecer controle para que o equipamento retorne ao seu colaborador de origem após a higienização (este controle pode ser por matrícula do colaborador, nome ou outra metodologia estabelecida pela organização).
Pronto para encarar o desafio da higienização de EPI?
Boa sorte!!!
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