Certificações são necessárias ou as certificadoras apenas alimentam um comércio?

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3 min leitura

Como auditora já tive a oportunidade de presenciar os dois lados: o do auditor e o das empresas certificadoras. Posso dizer que o tema é polêmico, mas devemos pensar se vale mais um certificado pendurado na parede ou uma cultura de segurança de alimentos bem estabelecida. Já me peguei pensando se certificações são necessárias ou se as certificadoras apenas alimentam um comércio.

Auditores são profissionais qualificados que possuem um conhecimento amplo de normas e de processos produtivos, passaram anos estudando e andando pelo país para ir ao encontro dos auditados. Convivi e aprendi com profissionais maravilhosos, que me ajudaram e que me trouxeram muito conhecimento. Fui auditora e nas certificadoras pelas quais passei, os trabalhos eram éticos e bem conduzidos. Porém, tive a experiência pessoal de me deparar com exceções graves, quando o auditor está ligado a empresas que, na minha opinião, vendem certificados. Estes auditores passam por situações como retirar não conformidades, são pressionados pela dona(o) da certificadora que se senta ao seu lado e faz pressão como: “passe este cliente que nos dá rios de dinheiro ou você está na rua”.

Percebi que este tipo de profissional ligado a estas empresas não pode nem falar e suas não conformidades são as mais simples: vassoura fora do lugar. Enquanto isto, muitos funcionários estão secando exaustivamente a água que corre das paredes, há portas caindo que não podem ser abertas, laudos falsificados com as metas atingidas, sem falar em vestiários e sanitários em péssimo estado, águas residuais nos banheiros correndo pelo chão (mas no dia vai ter alguém secando), produtos químicos sem identificação, inclusive diluídos, enfim daria um livro.

Os auditores neste tipo de certificadora precisam passar por tudo isto e, claro, não sabem na maioria das vezes que tudo é maquiado para a auditoria e que, depois que eles virarem as costas, tudo volta ao normal.

E o pior: precisam submeter-se ao consultor da empresa que fica fazendo pressão e pela lógica não deveria estar presente durante a auditoria.

Cheguei à conclusão que existem dois tipos de certificadoras e um deles é das que vendem descaradamente milhões de certificados e fingem que estão auditando, recebem documentos feitos na hora, a manutenção da empresa nem existe, a diretoria realiza uma breve maquiagem para o dia. Os documentos são repetidos de uma empresa para outra, ou seja, não reproduzem o processo daquela unidade produtora e sim uma cópia, sendo que são auditados pelo mesmo auditor em todas as unidades. O segundo tipo de certificadora é aquela que trabalha seriamente e a empresa contratante que possui um certificado com a logomarca dela é um diferencial  porque é um orgulho ter passado por uma certificadora tão rígida, porque eles reprovam se a empresa não tiver procedimentos e práticas bem adotadas.

Auditor interno: este trabalha dentro da empresa e é bloqueado pelos coordenadores e supervisores que resistem ao trabalho, não param suas tarefas para fazer a auditoria com calma, não demonstram os erros e não dão ênfase ao trabalho. Nem todas as empresas têm uma programação para o auditor interno e se a empresa for uma compradora de certificados (mais fácil para o proprietário) ela nem vai dar atenção ao que você diz e faz, porque já sabe o que deve ser feito no dia da auditoria, ainda mais se o consultor for auditor do mesmo órgão certificador. Eles contratam ou terceirizam este serviço porque é necessário ter a certificação.

Vamos pensar na  Cultura de Segurança de Alimentos?

Esta venda de certificados traz algum benefício para  produção de alimentos seguros? Que confiança as empresas produtoras terão ao receber este certificado comprado? Percebo que há certos segmentos do mercado que adotam a mesma norma e contratam a mesma certificadora, porque são pessoas unidas que trocam figurinhas. Pergunta-se: é importante realmente ter um certificado na parede “para inglês ver”? Que garantia esta empresa transmite para o consumidor? Claro, mandando um certificado comprado, a empresa evita aquele monte de formulários para preencher de homologação de clientes, mas isto precisa ser mudado.

A segurança não seria melhor garantida com uma gestão da qualidade verdadeira como tantas empresas que conheço me mostram? O certificado nem importa e sim o que você vê, os controles naturalmente feitos assim como os documentos. Acredito ser este o melhor caminho.

Continuo sendo perita e espero sinceramente que este tipo de empresa seja extinta e que as empresas desonestas parem de existir e de gerarem certificados falsos.

Fica aqui meu apreço aos grandes auditores e às certificadoras sérias.

5 thoughts on

Certificações são necessárias ou as certificadoras apenas alimentam um comércio?

  • CAIO DINIZ

    Acho esse um assunto que de fato deve ser pautado, discutido com um viés ético, pois estamos falando sobre algo muito sério e que impacta em diversos pontos da sociedade.
    No entanto, confesso que a forma como foi escrito está pessoalmente acusatório e em um tom que inclusive foge do que tenho visto e que faz eu gostar tanto da Food Safety Brazil.
    Não sou auditor, não trabalho em nenhuma certificadora e muito menos tenho uma empresa de alimentos, e mesmo assim acredito que a forma como houve a desqualificação de empresas, profissionais e certificadoras, desnecessária, justamente pela impessoalidade que o assunto foi tratado.
    Reforço, sou totalmente a favor dessa pauta, mas infelizmente, na minha opinião, o tom está pessoal/parcial.

  • Anderson Wchereber

    Acredito nesse ponto de vista, mas acredito ainda mais que não seja duradouro a permanência dessas indústrias e mesmo dos profissionais e certificadoras que foram colocados em check nessa publicação, pq o próprio GFSI e as Normas Internacionais já possuem seus mecanismos contra esse tipo de prática. O mais recente é as auditorias NÃO ANUNCIADAS obrigatórias em um ciclo de 3 anos, ou seja, o cerco se fecha cada vez mais.
    Tema polêmico, mas necessário e publicação com acidez. Sextou…kkkkk

  • Cristina Severo

    Que sorte dessa Angela Busnello, ter passado somente por entidades éticas, ou seja, a abordagem colocou em check o serviço de todas as outras certificadoras que ela não trabalhou.
    Sinceramente, essa publi destoou de tudo que acompanho por aqui.

  • Ana Dourado

    Acompanho o blog há muito tempo e confesso que este tipo de publicação destoou do propósito. A publicação não atinge apenas os organismos de certificação e auditores, mas também coloca em descrédito os organismos de acreditação, os esquemas e autoridades. Ao contrário do que a autora sugere, a maioria dos organismos de certificação trabalha com seriedade e transparência, até porque também são auditados. Além disso, não basta formar um auditor, ele também passa por rigorosas etapas de manutenção. Todos são avaliados o tempo todo.

    Tema polêmico porém abordado de maneira superficial. Para quem não faz parte do meio, a impressão é de que os organismos de certificação estão vendendo descaradamente milhões de certificados, os auditores são orientados a fingir que estão auditando e, consequentemente, as indústrias enganam o consumidor.

  • Fernanda Spinassi

    Este é um tema polêmico, que gera desconforto e que vem recheado de experiências que às vezes são boas, às vezes ruins.
    O processo de certificação é uma via de duas mãos, que pode ser efetivo e ter o objetivo de agregar valor para o negócio na mesma intensidade que pode levar a desvalorização.
    Em um determinado momento histórico, isso aconteceu com outras certificações, como a ISO9001 por exemplo. Que em 2015 se reinventou para trazer à tona uma visão mais estratégica e acabou influenciando as demais normas da família ISO.
    É importante termos os olhos abertos para uma situação que é real e que todos nós podemos contribuir dia a dia para fortalecer as práticas de gestão que estamos inseridos e torná-las cada vez mais sérias e confiáveis.
    O modelo de gestão mencionado no comentário como auditorias não anunciadas é uma iniciativa que vem ao encontro disso, para garantir que a rotina seja refletida nos resultados de uma auditoria.
    Mas isso é um processo evolutivo. Que depende de quem audita e de quem recebe as auditorias.
    O Food Safety Brazil traz na área “Meu Olhar” o respeito a experiências positivas e negativas de nossos colunistas, que podem contribuir como aprendizado para todos os que se identifiquem. Mantemos o espaço para a liberdade de expressão do escritor, para que ele possa compartilhar com os leitores parte de sua história.

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