Segurança de materiais em contato com alimentos

4 min leitura

Alguns posts relacionados ao tema “materiais de contato com alimentos” já foram apresentados algumas vezes aqui no Blog. Recentemente li alguns artigos interessantes que tratam deste tema, entretanto com uma visão distinta da que estava acostumada, elaborados por pesquisadores da área médica, mais especificamente, epidemiologista. Um destes artigos, tem como enfoque a preocupação da área médica em relação aos efeitos nocivos e desconhecidos para saúde humana, em consequência do consumo de substâncias químicas oriundas da migração de materiais de contato com alimentos, como por exemplo, as embalagens, utensílios e equipamentos de processo ou preparação que possuem contato direto com o alimento. Não foi apresentado nenhum estudo de caso, somente uma revisão da arte sobre o tema com sugestões de futuros trabalhos e a justificativa para tal.

Como a maioria dos alimentos, hoje consumidos, são embalados e toda a população é susceptível a ser exposto, o autor enfatiza que é de extrema importância a realização de estudos para entender a correlação entre os materiais de contato no desenvolvimento de doença crônica e afirma que se torna uma urgência de interesse público.

A seguir apresento um resumo deste artigo, que foi publicado em julho de 2014, pela revista Epidemiol Community Health. Boa leitura!

 

“Embalagens e materiais de contato e a migração para os alimentos: Desafio dos Epidemiologistas”

 O autor primeiramente buscou apresentar o conceito sobre o risco da migração de componentes químicos para o alimento e a fundamentação da sua investigação, todos com base e referência científica. Os principais dados relatados por ele, que considero os principais, foram:

– A maioria dos materiais de contato com alimentos não são inertes e apresentam substâncias químicas, tais como, monômeros, polímeros, aditivos, coadjuvante de processo que podem se difundir para a bebida e/ou alimento e esta migração pode ser acelerada em determinadas situações de tempo de armazenamento, temperatura, propriedades físico-químicas tanto do material, como também do alimento.

-Nem todos os migrantes são regulados como aditivos alimentares indiretos e são, segundo referências citadas no artigo, contaminantes químicos.

– Contaminantes tóxicos conhecidos continuam sendo utilizados como aditivos alimentares na Europa e EUA e são aprovados por legislação local. Alguns exemplos: tipos de amianto, Formaldeído (este último presente em garrafas de PET e já comprovadamente cancerígeno), Bisfenol A, Ttriclosan e vários ftalatos (estes três últimos desreguladores endócrinos)

– Número de substâncias intencionais conhecidas e que são utilizadas na composição dos materiais de contato excedem 4000. Além disso, contêm um número desconhecido de subprodutos de polimerização, impurezas e outros que são as substâncias adicionadas não intencionalmente. Ainda não se conhece os perigos toxicológicos do consumo destas substancias.

– Doenças crônicas no mundo são responsáveis por cerca de dois terços das mortes. Apesar de haver causas múltiplas há fortes evidências entre este número com a exposição crônica a contaminantes químicos

– Ainda que haja estabelecida avaliação do risco químico para certos componentes, ou seja, existe um limite aceitável estabelecido para a exposição à toxicidade de um indivíduo, o autor enfatiza que no entanto, os seres humanos não são expostos a produtos químicos, de maneira isolada. Desta forma, somente estes dados não seriam suficientes para assegurar a inocuidade de um produto.

Diante destes fatos, o autor propôs que seja realizada de maneira urgente, uma avaliação da exposição de base populacional e biomonitoramento dos materiais de contato, a fim de avaliar as relações de causa-efeito entre as substâncias químicas dos materiais de contato com alimentos e as doenças crônicas como câncer, obesidade, diabetes e alterações neurológicas. Enfatizou que a migração química dos materiais de contato com alimentos e os efeitos na saúde humana, devem ser mais e, melhor investigados por pesquisadores e propôs início de estudos mais profundos sobre o tema.

O autor afirmou que a área de epidemiologia pode ajudar a melhorar o conhecimento sobre o papel dos produtos químicos dos materiais de contato com alimentos.

O autor sugeriu como metodologias:

– a utilização de questionários de frequência alimentar e métodos de avaliação do consumo alimentar (registros de consumo alimentar), complementada por esforços de biomonitoramento;

– Análises dos usos de materiais em contato com os alimentos em toda a cadeia de abastecimento alimentar (processamento, embalagem, armazenamento) e em casa, local de trabalho e outras configurações.

– Medição da frequência de práticas de consumo, tais como o armazenamento em freezers, pratos de plásticos e recipientes, o uso de filmes plásticos

– Preferência de embalagens pelo consumidor, ao comprar alimentos e bebidas

– Dados econômicos e culturais das influências sobre o consumo alimentar

– Análises estatísticas para integrar estas informações coletadas com os dados usados tradicionalmente em epidemiologia nutricional, ambiental e molecular.

Além disso, sugeriu uma série de outros campos de pesquisa sobre este tema: os mecanismos tóxicos, por exemplo, em estrogênica, androgênica, tireoide e os efeitos dos químicos que migram dos materiais de contato. Na homeostase de glicose e metabolismo de lipídeos, a homeostase de energia e a resistência à insulina; sobre o papel dos agonistas e antagonistas de receptores nucleares na modulação da função do receptor de doenças nucleares e endócrinas, incluindo receptores de membrana não-esteroides e receptores nucleares não-esteroides; em metabólica e disfunção mitocondrial, inflamação, adipogêneses e macrófagos adiposo.

Desta forma, o autor concluiu que Integrar o conhecimento sobre a composição química destes materiais e migração para os alimentos em estudos epidemiológicos é, uma oportunidade e um dever para os epidemiologistas. Eventualmente, essa pesquisa vai fortalecer as políticas de prevenção primária, reduzindo exposição a produtos químicos resultantes de uma fonte controlável. Ele também irá avançar no conhecimento básico e aplicado sobre os mecanismos moleculares e fisiológicos que apontam algumas substâncias químicas ambientais e doenças humanas.

 Referência do artigo: MUNCKE, Jane et al. Food packaging and migration of food contact materials: will epidemiologists rise to the neotoxic challenge? Epidemiol Community Health, [s.i.], v. 68, n. 7, p.592-594, jul. 2014.

 

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