Hoje é aniversário da nossa editora chefe, a Juliane Dias!
O Food Safety Brazil fez uma entrevista com ela, para entender um pouquinho mais de sua carreira na área de segurança de alimentos. Parabéns pelo sucesso!
– Como foi que você escolheu estudar engenharia de alimentos e se dedicar principalmente ao tema da segurança de alimentos na sua carreira profissional?
Quanto eu tinha 13 anos, minha mãe me disse que seus filhos teriam que ser capazes de pagar suas próprias faculdades. Para dar conta disso, ela deixou claro que seria necessário fazer um curso técnico, trabalhar de dia e estudar de noite. Eu tinha liberdade para escolher qual seria o curso, mas já estava determinada que seria a configuração. Na época de tomar a decisão, a revista Superinteressante publicou uma matéria de 3 edições sobre alimentação do brasileiro (O Brasil vai à mesa) e fiquei fascinada pela área de nutrição. O curso mais correlato que havia em Campinas era o Técnico em Alimentos, do Cotuca/Unicamp, para o qual prestei Vestibulinho como treineira já na sétima série. Do técnico para a engenharia foi um caminho natural. Já o interesse pela segurança de alimentos foi surgindo no final da faculdade e também como influência do estágio em Garantia da Qualidade.
– Com a sua experiência de vários anos atuando em consultoria, quais foram as principais dificuldades que você encontrou?
Entendo que ainda há pessoas e organizações que enxergam o trabalho do consultor como uma ameaça, um atestado de que “assumirei que não sou bom o suficiente se chamar alguém para ajudar”. Não há nada de errado em contar com parceiros especialistas para impulsionar um projeto e dar foco em suas tarefas principais, e esse conceito é aplicado há anos em outros segmentos.
-E o que te traz mais satisfação neste trabalho?
Voltar para a casa tendo a certeza que todo dia algo na rotina de uma pessoa ou empresa se tornou melhor ou mais prática, que alguém subiu um degrau de conhecimento ou ainda que aquela dúvida que estava emperrando vários processos foi esclarecida. Não tem dia inútil em consultoria. Se foi inútil, seu valor de mercado entrará em imediato declínio (risos).
– Você tem saudades do tempo em que trabalhou na indústria? Gostaria de voltar?
Trabalhar na indústria era tudo o que sonhei nos anos de estudo e estágios. Tinha muito claro que a supervisão de produção de uma fábrica me recrutaria várias competências, e realmente foi o que aconteceu. O aprendizado sobre as relações interpessoais e a dinâmica corporativa foi muito intenso e sou grata a este aporte, mas nos últimos anos outras frentes tem me seduzido e não tive o desejo de retornar.
– Você acredita que exista uma cultura nacional de negligência com a segurança dos alimentos?
O brasileiro não é negligente por que quer. Ninguém quer ter uma DTA, que seus parentes ou convidados de uma festa sejam afetados. Quem tem acesso à informação, coloca a boca no mundo quando se identifica como vítima de um alimento contaminado. O que falta é educação para a segurança de alimentos, seja para o consumidor, seja para os empresários da cadeia produtiva. Quem não sabe como trabalhar de forma mais segura, não enxerga as razões para investir mais ou tomar cuidados. O dono do restaurante deixa os alimentos mal refrigerados no buffet e o consumidor continua frequentando o local sem reclamar. O fiscal tem pena de autuar o local, pois este garante empregos.
Claro que há também a falta de ética em segmentos específicos, mas este já é um caso de polícia, como nas fraudes ou mesmo do empresário que mistura lotes de produtos diluindo um determinado contaminante.
– Quais são os desafios que você vê para o futuro da indústria de alimentos no que diz respeito à segurança de alimentos?
À medida que o conhecimento científico vai avançando, aumenta-se o cerco a perigos não reconhecidos no passado e a indústria tem que modificar seus processos e matérias primas, buscando alternativas tecnológicas mais seguras e viáveis. A acrilamida foi identificada como contaminante formado no processamento há apenas 10 anos, o bisfenol A não era reconhecido como desruptor endócrino e o corante caramelo reinava pacífico como um inocente corante natural. Os órgãos regulamentadores dão o ritmo das adequações. Há cenários onde há um prazo para a indústria se adaptar, como por exemplo, para as micotoxinas, mas em outros a vigência é imediata e na prática não há como subir um degrau tão rápidamente.
– Você realizou trabalhos fora do Brasil e também viaja sempre para Encontros e Simpósios Internacionais. Como avalia o estágio do Brasil e nossas indústrias de alimentos em relação aos outros países na questão da segurança de alimentos?
Tenho particular admiração pelo profissionalismo Chileno, pois nossos hermanos latinos despontam no mercado internacional pelos seus diferenciais de qualidade e sanidade em um país jovem. Lá o assunto é prioridade. Gosto também da forma americana de estabelecer regras e padrões claros com agilidade, sempre com muitos dados, pesquisas, indicadores. Vejo a indústria europeia sendo questionada e influenciada pelo consumidor. Mas me chama a atenção que os debates sejam mais ou menos homogêneos entre os países desenvolvidos ou em desenvolvimento: falta consolidar uma cultura de segurança de alimentos, é baixa qualificação dos manipuladores, o ritmo em que a legislação é editada não é coerente com as necessidades do mercado, a preocupação com a aquisição de matérias-primas importadas é crescente, há necessidade do estabelecimento de metodologias analíticas padronizadas…
– Quais são os pontos fortes e fracos do Brasil?
Existem duas realidades muito discrepantes aqui. As empresas que são exportadoras há anos seguem os protocolos mais exigentes do mercado internacional e estão entre as melhores do mundo. Fornecedores de grandes multinacionais também tendem a andar na linha, muitas vezes de forma mais disciplinada que seus próprios clientes. Porém, nessas mesmas empresas se um lote apresentar um determinado contaminante, havendo a possibilidade, ele é imediatamente desviado do fornecedor mais exigente para o menos exigente.
– Como surgiu a ideia de ter um blog de segurança de alimentos?
Eu já era seguidora de fóruns e páginas internacionais de segurança de alimentos, além de blogs de assuntos “não food”. Mas o estalo foi em 2012, na conferência anual do GFSI, onde assisti a uma palestra da Nielsen sobre redes sociais e comunicação da segurança de alimentos. Imediatamente saí com a inspiração de criar algo que viabilizasse a comunicação sobre segurança de alimentos. O primeiro passo foi o Facebook, e depois o blog.
– Quanto tempo transcorreu da ideia à realização?
O processo teria que ser democrático. Não teria muita graça um espaço na web onde um único autor ou organização se dispusesse a compartilhar suas mensagens isoladamente. Então precisei vender a idéia primeiro para colegas e amigos, e principalmente minha sócia, pois os investimentos necessários para alavancar a página vieram do caixa da Flavor Food. Os conjunto da obra propiciado pelos colunistas é muito rico. Havia iniciativas semelhantes, mas nada com esse perfil. A conferência do GFSI foi em fevereiro e o blog foi lançado em abril de 2012.
Nathalia Gouveia Federico
Jú! Parabéns!! Que sua trilha de sucesso perdure por muitos anos!!!
Bene Ribeiro
Parabéns Juliane! Sucesso para o Blog do FS!
Marcelo Garcia
Obrigada pelo apoio e palavras amigas!