Dando continuidade ao tema sobre gestão de materiais de contato com alimentos (a primeira parte está aqui), neste post quero demonstrar de forma prática como você pode iniciar a gestão de materiais de contato na sua empresa. Veja os três passos a seguir:
Passo 1 – Liste todos os materiais de contato!
A primeira coisa que você e equipe devem fazer é realizar um levantamento in loco pormenorizado de todos os materiais que entram em contato com alimento, desde a etapa de recebimento de matérias primas até última etapa antes do envase, quando então o produto será acondicionado na embalagem.
O que devo considerar nesta lista? Equipamentos de processo, mangueiras de transferência, silos de armazenamento, esteiras, utensílios diversos (pá, concha), recipientes, tambores, filtros de membrana, tubulações, correias, gaxetas, anéis de vedação, visores de equipamentos. Veja que a lista é longa e não para por aqui. Explicando de forma bem simples, onde a matéria prima e produto em processo “encostam” é um material de contato e deve ser considerado. Importante não esquecer também dos lubrificantes que podem ter contato direto com alimento e são classificados como grau alimentício.
Para esta atividade faz toda diferença a participação de colaboradores que possuam conhecimento dos equipamentos e do processo a fim de que nenhuma informação passe despercebida. Por isso a dica é envolver colaboradores que atuam diretamente na produção, manutenção e engenharia.
Se a sua planta é muito extensa e contempla um número enorme de materiais, outra dica é dividir as etapas do processo entre os membros da equipe que farão este levantamento. Desta forma, a tarefa não ficará tão pesada e ganhará velocidade na sua conclusão.
Passo 2 – Classifique cada material de contato
No momento do levantamento dos materiais de contato já é válido que se classifique o tipo de material. De acordo com a classificação da Anvisa (RDC n. 91/01), os materiais de contato estão divididos em: celulósicos, metálicos, plásticos, elastoméricos, celulósicos, vidro e cerâmica.
Uma orientação que sempre dou é já identificar se o material é colorido! Esse detalhe fará diferença no passo 3.
Uma tabela ou planilha pode ser utilizada para que os dados estejam descritos de forma organizada.
Veja um exemplo de Planilha de Gestão de Materiais de Contato:
Etapa do processo |
Nome do Material de Contato |
Pigmentado/ colorido? |
Classificação do Material |
Pesagem |
Balde |
Sim (cor azul) |
Plástico |
Pesagem |
Concha de pesagem |
Não |
Plástico |
Mistura |
Anel de vedação |
Sim (cor preta) |
Elastomérico |
Mistura |
Tanques de mistura |
Não |
Metálico |
Passo 3 – Faça o levantamento das legislações aplicáveis por tipo de material
Finalizada atividade em campo, é hora de abrir o computador e com os dados coletados, pesquisar as regulamentações específicas por tipo de material e registrar na Planilha de Gestão de Materiais de Contato que ganhará mais uma coluna:
Etapa do processo |
Nome do Material de Contato |
Pigmentado/ colorido? |
Classificação do Material |
Legislação |
Pesagem |
Balde |
Sim (cor azul) |
Plástico |
|
Pesagem |
Concha de pesagem |
Não |
Plástico |
|
Mistura |
Anel de vedação |
Sim (cor preta) |
Elastomérico |
|
Mistura |
Tanques de mistura |
Não |
Metálico |
|
Mistura |
Tubulação |
Não |
Metálico |
|
Para esta atividade você deve consultar as legislações por tipo de material disponíveis no site da Anvisa. O caminho é: Site Anvisa> legislação > bibliotecas temáticas > alimentos. Ao abrir o arquivo em pdf, vá ao sumário, e clique em 1.11. materiais de contato com alimentos. Você já acessará o link para todas as legislações por tipo de material. Eu achei muito fácil e organizada a forma com que este material apresenta as normas da Anvisa!
Se quiser ir direto, clique neste link:
Para facilitar, costumo filtrar na planilha a classificação do material por tipo, e já preencher a legislação que se aplica a todos aqueles materiais. Veja um exemplo: suponha que queira identificar a legislação de todos os materiais metálicos.
1- Em classificação do material, filtro os materiais classificados como “metálico”.
Etapa do processo |
Nome do Material de Contato |
Pigmentado/ colorido? |
Classificação do Material |
Legislação |
Mistura |
Tanques de mistura |
Não |
Metálico |
|
Mistura |
Tubulação |
Não |
Metálico |
|
2- Transcrevo da lista de regulamentações da Anvisa as legislações que são aplicáveis ao tipo de material avaliado, neste exemplo, metálico.
Etapa do processo |
Nome do Material de Contato |
Pigmentado/ colorido? |
Classificação do Material |
Legislação |
Mistura |
Tanques de mistura |
Não |
Metálico |
RDC 91/2001 – critérios gerais RDC 20/2007 – materiais metálicos Ato relacionado: Lei 9.832/1999 |
Mistura |
Tubulação |
Não |
Metálico |
RDC 91/2001 – critérios gerais RDC 20/2007 – materiais metálicos Ato relacionado: Lei 9.832/1999 |
E assim vou seguindo até completar toda a planilha com as legislações aplicáveis para cada classificação de material.
Obs.: Veja em destaque a razão pela qual oriento a determinar se o material é ou não colorido.
Etapa do processo |
Nome do Material de Contato |
Pigmentado/ colorido? |
Classificação do Material |
Legislação |
Pesagem |
Balde |
Sim |
Plástico |
RDC 91/2001 – Critérios gerais materiais de contato RDC 105/99 – disposições gerais para plásticos RDC 56/12 – Lista positiva monômeros e polímeros RDC 326/19 – Lista positiva de Aditivos RDC 51/10 – critérios de migração RDC 52/10 – Corantes em materiais plásticos |
Pesagem |
Concha de pesagem |
Não |
Plástico |
RDC 91/2001 – Critérios gerais materiais de contato RDC 105/99 – disposições gerais para plásticos RDC 56/12 – Lista positiva monômeros e polímeros RDC 326/19 – Lista positiva de Aditivos RDC 51/10 – critérios de migração |
Mistura |
Anel de vedação |
Sim |
Elastomérico |
RDC 91/2001 – Critérios gerais materiais de contato RDC 123/2001 – materiais elastomérico RDC 52/10 – Corantes em materiais plásticos |
Mistura |
Tanques de mistura |
Não |
Metálico |
RDC 91/2001 – Critérios gerais materiais de contato RDC 20/2007 – materiais metálicos Ato relacionado: Lei 9.832/1999 |
Mistura |
Tubulação |
Não |
Metálico |
RDC 91/2001 – Critérios gerais materiais de contato RDC 20/2007 – materiais metálicos Ato relacionado: Lei 9.832/1999 |
E assim vai sendo preenchida a Planilha de Gestão de Materiais de Contato! Em próximo post abordarei os passos seguintes, incluindo como avaliar se o material é ou não seguro e se é aprovado para contato com alimentos. Enquanto isso, deixo aqui mais algumas sugestões de leitura sobre o tema:
https://foodsafetybrazil.org/seguranca-de-materiais-em-contato-com-alimentos/
https://foodsafetybrazil.org/material-de-contato-fssc-22000/
https://foodsafetybrazil.org/gestao-materiais-de-contato-alimentos-implementacao/
Rodrigo Schiming
Ótima matéria, Vanessa. De fato esse assunto é bem profundo e fico no aguardo dos próximos capítulo.
Estou neste exato momento pesquisando sobre o tema para aprofundar mais a lista de materiais em contato com produto que temos implementada na empresa, onde na última auditoria interna a fomos questionados de como comprovamos que o vidro utilizado no visor de alguns vasos ou tubulações de transferência é próprio para contato com alimento. E de fato até temos esse componente constante na nossa lista, mas não temos conosco documentos capazes de comprovar sua origem ou composição, uma vez que é um subitem do equipamento, e que alguns deles estão na empresa mesmo antes da primeira certificação FSSC 22.000, ou mesmo ISO 22.000, e também não chegamos até esse nível de detalhe em nossos estudos.
Mas vamos lá, faca nos dentes e fazer muito uso dos contatos que temos com os fornecedores para nos apoiar nesse desafio.
Vanessa
Oi Rodrigo, nossa desculpe… Só agora vi que você comentou…
Mas fico feliz com a notícia de que estão caminhando! É um tema importante porém com muitos desafios, a começar pela falta de conhecimento dos próprios fabricantes de materiais de contato.
Grande abraço!!!