Trypanosoma cruzi e contaminação dos alimentos

3 min leitura

Se você não pode ir no Congresso de Higienistas de Alimentos ocorrido nos dias 23,24,25 e 26 de abril na cidade de Gramado – RS, pode continuar seguindo nossos posts sobre o assunto. Se foi, comente e complemente!

 No dia 24, assisti a palestra da Drª. Karen Signori Pereira, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro sobre Trypanosoma cruzi e contaminação dos alimentos. 

A pesquisadora começou demonstrando a definição de Doença de Chagas, as formas de transmissão e sua ocorrência.

A Doença de Chagas (DCA) é uma infecção causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, que pode ser transmitido ao homem pelas seguintes vias: vetorial (clássica), transfusional (reduzida com o controle sanitário de hemoderivados e hemocomponentes), congênita (transplacentária), acidental (acidentes em laboratórios), oral (com alimentos contaminados) e transplantes.

A principal forma de transmissão da doença no Brasil é a vetorial na qual o barbeiro, após picar a pessoa, deposita sobre a pele as fezes infectadas com o T. cruzi, que pode penetrar na corrente sanguínea.

A transmissão oral, que ocorria raramente ou em ocasiões especificas nos humanos, passou a ser mais frequentemente diagnosticada na região amazônica e está relacionada à ocorrência de surtos recentes em diversos estados brasileiros, principalmente na Região Norte. Essa é uma via natural de disseminação de T. cruzi entre os animais no ciclo silvestre, já que os mamíferos se infectam ao se alimentarem  de insetos (ANVISA, 2008).

 Foram demonstrados alguns casos de surtos que ocorreram em nosso país através da ingestão de alimentos contaminado com o protozoário.

 Vejamos:

 “A ocorrência de DCA por transmissão oral, relacionada ao consumo de alimentos até o ano de 2004, constituía um evento pouco conhecido ou investigado, havendo relatos, na maioria pelo Instituto Evandro Chagas (IEC), da Secretaria de Vigilância em Saúde/MS, de surtos localizados na região amazônica. Antes destes eventos, há registro na literatura brasileira de dois surtos relacionados ao consumo de alimentos em Têutonia (Rio Grande do Sul) e caldo de cana em Catolé do Rocha (Paraíba), há mais de duas décadas. Em 2005, outro surto relacionado ao consumo de caldo de cana foi detectado no Estado de Santa Catarina, onde das 24 pessoas infectadas, três foram a óbito”.

 “A região amazônica, e em especial, o Estado do Pará, apresentou nos últimos anos um aumento no número de casos de doença de Chagas, causada pelo parasita Trypanosoma cruzi. Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (SESPA), o número de casos confirmados até 31 de outubro de 2011 era 97, sendo 37 em Belém.

O fato de a transmissão via oral ser a causa dos surtos explica a característica geográfica da doença. Tanto o Pará quanto o restante da região Norte do país são produtores de açaí, e a fruta, que é altamente consumida pela população, muitas vezes é processada sem que se observem os padrões de higiene e qualidade. Para a infectologista Carolina Lázari a predominância da transmissão nesses estados relaciona-se ao ambiente e aos hábitos alimentares da região, e à carência de controle de qualidade de alguns alimentos produzidos artesanalmente “.

A contaminação dos alimentos à base de vegetais in natura com T. cruzi é acidental e pode ocorrer durante a colheita, armazenamento, transporte ou até mesmo na etapa de preparação. Neste sentido, a pesquisadora dissertou sobre a importância da aplicação de ferramentas de qualidade, principalmente o controle de pragas e monitoramento da matéria-prima na produção destes alimentos.

 Outro fator interessante esclarecido, é que o T. cruzi pode ser eliminado em temperaturas relativamente baixas (45°C), ou seja, a pasteurização seria suficiente para eliminar com o protozoário. Entretanto, o processo de congelamento não o elimina.

 A seguir, uma nota apresentada pela SVA, quanto aos casos de surtos de DCA através do consumo de açaí:

 “A Secretaria de Vigilância em Saúde reforça as recomendações de que em escala industrial deve ser adotada a pasteurização do suco do açaí, visando a destruição de micro-organismos patógenos, inclusive o T. cruzi, presentes no suco e a necessidade de se implantar boas práticas de colheita, transporte, armazenamento e manipulação do fruto e suco do açaí, visando minimizar os riscos de contaminação do produto na produção artesanal.”

 Mais um esclarecimento da realidade das DTA no Brasil e a importância do controle de qualidade na prevenção destas enfermidades.

 Bônus: Manual do Programa de Controle da Doença de Chagas (2011):

http://www.saude.am.gov.br/fvs/docs/Manual_Programa_de_Controle_da_Doenca_de_Chagas.pdf

 

Até a próxima!

 Fonte:

 ANVISA. Informe Técnico – nº 35 de 19 de junho de 2008.

 

http://www.medatual.com.br/revista/acontece_4.html

 http://www.vigilanciasanitaria.sc.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=701&Itemid=571

 

6 thoughts on

Trypanosoma cruzi e contaminação dos alimentos

  • Camila Miret

    Os casos de Doença de Chagas transmitida pelo consumo de caldo de cana e açaí são reais. Mas é bom relembrar que em 2009 circulou um boato sobre um alerta de Doença de Chagas transmitida através do feijão, e a tal pesquisa foi atribuída a uma agrônoma e pós-graduanda da Universidade Federal de Viçosa. O boato foi gerado através de um computador da própria universidade, que a aluna havia utilizado e que alguém se aproveitou do acesso dela para criar o falso e-mail. Outro e-mail falso, com o mesmo boato, também circulou na mesma época e foi veiculada a foto de um pesquisador da UNICAMP, porém informando que ele seria de uma universidade de Goiás que nem sequer existe. Os dois profissionais esclareceram a situação, dizendo que não há fundamento científico nenhum nas informações espalhadas. Recentemente, este boato foi “desenterrado” e tem circulado novamente pelas redes sociais.
    É importante alertar ao nosso leitor que o barbeiro não tem como hábito alimentar-se de grãos secos. Fotos que apresentam feijão com furos, e que circulam nos boatos, são resultado de ataque por caruncho, que nada tem a ver com o barbeiro e com o T. cruzi. Mesmo que o feijão apresentasse fezes de barbeiro contaminadas com T. cruzi, o protozoário não sobreviveria ao cozimento, em especial nas panelas de pressão.

    • Elisangela Silverio

      Camila Miret , bom dia!

      Ha algum estudo/evidencia concreto que possa esclarecer que que o T. cruzi pode ser eliminado em temperaturas relativamente baixas (45°C), ou seja, a pasteurização seria suficiente para eliminar o protozoário? E qual seria o tempo necessário?

  • Claudeko

    A cana brocada e vermelha pode conter o barbeiro lá dentro, ou as larva do barbeiro e ao ser espremida na moenda produzir caldo contaminado com T. Cruzi?

  • FLVIO JOSE CENAMO

    o aqçai polpa dissolvido e poetriormente secado a temp de 130 grrus centigrados ELIMINA A CONTAMINAÇÃO

  • FLVIO JOSE CENAMO

    TEMOS FEITO AÇAI EM PO SOLUVEL COM TEMPERATURAS DE 250 GRAUS CENTIGRADOS O SUFICIENTE PARA ELIMINAR A CONTAMINAÇÃO

  • FLVIO JOSE CENAMO

    ASSUNTO INTERESSANTE SO QUE COMO PRODUZIMOS AÇAI EM PO SOLUVEL EM ALTAS TEMPERATURAS NAO TEMOS PROBLEMAS DE CONTAMINAÇÃO
    AS TEMPERATURAS EM PROCESSO DE SECAGEM CHEGAM A ATINGIR 250 GRAUS CENTIGRADOS
    PRECISO DESSE ARTIGO PARA ENVIAR AO NOSSO PESSOAL DA EMPRESA

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