TPM a serviço da segurança dos alimentos

6 min leitura

A ferramenta TPM, ou Manutenção Produtiva Total, tem como propósito elevar ao máximo a produtividade e a eficiência de um processo produtivo, por meio da implantação estruturada e consistente de seus 8 pilares de sustentação, que são:

1. Manutenção Autônoma
2. Manutenção Planejada
3. Manutenção da Qualidade
4. Melhorias especificas
5. Controle inicial
6. Treinamento e educação
7. Segurança, Higiene e Meio Ambiente
8. Áreas administrativas

Isto permite proporcionar condições para que processos sejam capazes de operar de forma padronizada e sem interrupções imprevistas, e com isso, busca impedir que certas situações indesejáveis ocorram, como: paradas corretivas desorganizadas, prolongadas e constantes; atrasos de entrega por causa de problemas de manutenção; necessidade de contar com altos estoques devido a baixa confiabilidade do processo; ter um alto índice de produtos defeituosos por causa da instabilidade do processo; e tratando-se da indústria de alimentos e bebidas, irá colaborar muito para prevenir contaminações cruzadas, sejam derivadas de falhas nos processos, máquinas e equipamentos, ou das próprias atividades de manutenção.

Afinal, manutenções realizadas de forma planejada e efetivamente controladas são capazes de prevenir paradas de máquinas e manter os processos em fluxo constante de produção, o que minimiza erros e a probabilidade de gerar produtos fora de especificação, enquanto que manutenções executadas de forma descontrolada podem gerar diversos riscos, desde falhas de produção e defeitos nos produtos, como também a introdução de contaminantes provenientes das rotinas de manutenção sem a devida prevenção de riscos e sem seguir devidamente regras de boas práticas de fabricação.

O escopo dos serviços de inspeção e manutenção deve garantir a confiabilidade funcional dos equipamentos, e considerando que sua eficiência significa mais paradas planejadas preditivas ou preventivas em detrimento de inesperadas corretivas, já teremos minimizado uma atividade potencialmente de risco quanto à introdução de contaminantes numa linha industrial.

Alguns pilares do TPM terão um papel especial na prevenção de riscos de segurança dos alimentos. Este artigo discute elementos dos pilares 1, 2, 5 e 6 que contribuem neste sentido:

1 – Manutenção Autônoma

Este pilar diz respeito à atuação da mão de obra que opera máquinas e equipamentos, para que se envolvam nas rotinas de manutenção e nas atividades de melhorias, e para que assim, previnam a deterioração dos equipamentos.

Espera-se neste pilar que quem opera uma máquina ou equipamento seja capaz de desenvolver um olhar sensível para identificar potenciais elementos de riscos, como parafusos, borrachas, metal sendo fresado, etc., que possam chegar por algum meio aos produtos tornando-se contaminantes, além de vazamentos de graxa ou outros fluídos, assim como falhas operacionais que impeçam, por exemplo, que equipamentos atinjam limites críticos de controle em PCCs, levando produtos a serem produzidos sob condição de riscos.

Operadores de máquinas e equipamentos também devem ser conscientizados que “gambiarras” devem ser evitadas ao máximo, mas supondo em alguma situação serem inevitáveis para impedir um problema maior ou uma contaminação imediata, devem ser muito bem identificadas, comunicadas a quem fará os reparos finais e substituídas por uma solução adequada preferencialmente em 24 horas. Mas as gambiarras provisórias que se tornam permanentes, estas devem ser proibidas.

Em casos de manutenções não programadas, nas quais as paradas ocorrem devido um incidente que possa representar corpos estranhos como metais ou poeira que podem inclusive carrear microrganismos, o operador do equipamento ou responsável pela linha no horário do incidente deve estar plenamente apto e ter a iniciativa de informar imediatamente o controle de qualidade para que este retenha o lote produzido sob condições potenciais de risco e identifique como produto não conforme até que se reveja seu status, identificando a causa da segregação. O produto que for eventualmente retido por risco de metais, por exemplo, deve ser liberado apenas após passar por detector de metais com sensibilidade mínima de 2 mm.

2 – Manutenção Planejada

Este pilar atua sob três formas: planejamento das manutenções preditivas, preventivas e paradas para corretivas. Enquanto que as duas primeiras objetivam eliminar paradas, a terceira, quando necessária, deve ser muito bem controlada a fim de proporcionar uma parada realizada de forma segura e que evite riscos de contaminação.

Aconselha-se que antes de dar início à execução dos serviços de manutenção, seja preliminarmente verificada a disponibilidade no local das ferramentas necessárias e de meios de proteção adequados em relação à tipologia da instalação que for objeto de intervenção. Check-lists pré-elaborados para esta verificação podem ser uma boa ideia.

Importante que durante a manutenção, o manutentor só disponibilize o material e ferramentas necessárias para a execução da manutenção, analogamente a um cirurgião no momento de uma operação, sempre também se preocupando com a organização e limpeza do local.

Aconselha-se que caixas de ferramentas sejam mantidas limpas e organizadas, pois se bagunçadas e cheias de material, aumentam a probabilidade de cair algo, e principalmente, não podem possuir objetos que possam contaminar os produtos, tais como fragmentos metálicos soltos, pedaços de fio e cavacos. É preciso, também, cuidado total durante manutenções, para evitar que ferramentas, porcas, parafusos, etc, venham a contaminar os produtos.

Após o final de cada manutenção, os mecânicos, eletricistas, soldadores, ou quem for, devem fazer uma limpeza eliminando excesso de graxa, sujeiras, fragmentos de metal como cavacos, limalhas, etc., pedaços de fio, restos de hastes de solda, restos de fita isolante, ferramentas ou objetos estranhos, além de verificar se todas as partes, parafusos, porcas etc., estão corretamente fixados e apertados. É indicado como boa prática que estas limpezas sejam registradas, incluindo quem a realizou.

Se a manutenção for realizada em equipamentos ou áreas com risco de contaminação do produto, após a limpeza pós-manutenção que pode ser feita pelos próprios manutentores recolhendo todos os materiais que ficaram no local, recomenda-se que exista pré-elaborado um procedimento de limpeza descrito na forma de instrução de trabalho específica de cada área e equipamento. Após execução de tais procedimentos, os equipamentos devem ser inspecionados antes de reiniciar uma rotina de trabalho, certificando-se que realmente todos os potenciais riscos foram sanados. É uma boa prática, neste caso também, que se realizem registros, por exemplo, com uso de check-lists com cada ponto a ser inspecionado após uma realização e uma limpeza e higienização pós-manutenção, com o propósito de garantir rastreabilidade, e principalmente, que pontos chaves foram efetivamente vistoriados.

Entre as boas práticas para prevenir contaminações via manutenção, recomenda-se que parafusos em locais onde possam cair e contaminar produtos sejam colados e aplicado lacre químico para facilitar identificação nas inspeções, com exceção dos que utilizam porcas autotravantes, que não precisam deste artificio.

Em qualquer tipo de montagem em que o componente a ser instalado precisar de prévia lubrificação e houver risco de inclusão no produto, o lubrificante usado deve ser de grau alimentício, portanto, aprovado para uso em indústrias alimentícias e deve haver laudo que evidencie esta característica.

Soldas devem ser sanitárias, portanto, sem irregularidades e rebarbas, e devem ser polidas para evitar locais que permitam acúmulo de sujidades. Sempre que possível, as soldas devem ser feitas pelo sistema TIG (Tungsten Inert Gas Welding).

Equipamentos devem possuir características sanitárias: superfícies lisas, íntegras, impermeáveis, resistentes à corrosão, de fácil higienização e de material que não contamine alimentos, portanto, substituição de peças e partes de equipamentos devem ser feitas sempre por materiais de qualidade igual ou superior. Não é permitido que pinturas se soltem e contaminem o produto, e as tintas utilizadas não devem conter metais pesados.

5 – Controle Inicial

Se baseia na análise detalhada antes de se começar trabalhos de manutenção, sendo que o objetivo é garantir uma operação segura em termos de food safety.

Importante na perspectiva de rastreabilidade que toda manutenção preditiva, preventiva ou corretiva sejam registradas, para posterior análise de causa de parada do equipamento, criação de plano de ação para evitar repetida quebra, mas também para que, em caso de detecção de corpos estranhos ou outros tipos de contaminação, seja possível avaliar se a própria manutenção em si não foi uma potencial causa.

Para minimizar riscos e evitar potencial contaminação proveniente da manutenção, sempre que possível, equipamentos devem ser removidos da área de fabricação ou manipulação para receber reparos. No entanto, quando equipamentos precisarem receber manutenção na área de fabricação, durante horário de produção por uma quebra inesperada, é indispensável proteger equipamentos e os locais com lona ou outro material formando um biombo ou divisória, isolando-os, mitigando riscos potenciais de uma possível contaminação.

A avaliação da integridade deste isolamento deve ser feita durante a execução do serviço por pessoa competente e treinada para identificar e prevenir falhas, e nestes casos, sempre deve ser observado pelo executor se a manutenção poderá ocasionar contaminação do produto manufaturado, e caso haja risco de contaminação, deverá adotar procedimentos para impedir tal risco.

6 – Treinamento e Educação

Elevar o nível e capacitação da mão de obra sempre é importante na criação de uma cultura voltada à food safety, especialmente quando a falta de treinamento possa significar riscos de contaminação, e como visto até aqui, tais riscos são inerentes às rotinas de manutenção.

Por isso, treinar devidamente manutentores é fundamental. Mecânicos, eletricistas, soldadores devem sempre levar em consideração na indústria de alimentos que suas atividades devem ser executadas buscando agilidade e eficiência em consertos e ajustes, mas com aprimoramento de técnicas de trabalho que levem em consideração o uso de princípios de boas práticas de fabricação. Da mesma forma, operadores de máquinas e equipamentos que atuam em manutenção autônoma, justamente o item de número 1.

Benefícios da TPM para a Segurança dos Alimentos

Fica fácil perceber como a manutenção produtiva total pode colaborar com a cultura da organização no que tange à food safety.

É muito importante reforçar que a Alta Direção da organização deve ser o primeiro elemento a disseminar esta cultura e garantir que todos participem ativamente do processo, garantindo que os gerentes estejam engajados e que as informações desçam congruentes para os níveis operacionais através dos comitês de TPM formados.

Com a mesma velocidade, as informações do chão de fábrica devem chegar aos níveis superiores, relatando dificuldades e oportunidades que podem ser resolvidas com o auxílio da alta gerência, e assim, riscos de contaminação de produtos poderão ser controlados, minimizados e prevenidos.

Podemos concluir que TPM e BPF são temas irmãos e que agindo de forma harmoniosa ajudarão a aumentar a produtividade, reduzir falhas e contaminações.

35 thoughts on

TPM a serviço da segurança dos alimentos

  • Nathalie Goulart Souza Leite

    Ótimo tema visto que nem sempre temos este disponível em materiais e assim podemos auxiliar na conscientização de equipes de manutenção!

    • Marco Túlio Bertolino

      Obrigado Nathalie, times de manutenção bem treinados são importantíssimos, além de deixarem de configurar riscos em food safety, passam a ser um elemento de controle e prevenção de contaminações, evitando principalmente perigos físicos como limalhas, cavacos, fragmentos metálicos e químicos como graxas e óleos.

  • José Paulo Divino

    Concordo com sua proposição Marco. Minha experiência com este modelo de gestão em indústria de bens para consumo e higiene pessoal me autoriza a afirmar que, se um processo de certificação regulatório define os requisitos para uma boa e segura operação (Anvisa, isso, FDA) TPM é a forma de cumprir estes requisitos sem agregar atividades redundantes à operação, e reduzindo perdas do processo. Tudo isso através de um forte sistema de educação de pessoas.

    • Marco Túlio Bertolino

      Sem dúvida José, são ferramentas complementares, juntas se armonizam e podem tornar mais robustos e eficazes Sistemas de Gestão.

  • Kelen

    Muito bom Marco Túlio!!!

  • Marco Túlio Bertolino

    Obrigado Kelen!

  • Cesar Augusto Candido Filho

    Parabéns pelo artigo Marco Túlio!! Achei muito interessante o tema.

    • Marco T Bertolino

      Obrigado Cesar!

  • Jeruza

    Muito boa a enfase na comunicação de via dupla: da alta direção aos demais níveis assim como destes noveis a alta direção. Isso faz toda diferença.

    • Marco T Bertolino

      TPM envolve realmente todas as esferas hierárquicas nas organizações.

  • Manuella Boudoux

    Excelente tema para compartilhar com a equipe!
    Obrigada!

  • Priscilla Ferreira Correa

    Tema importante que sempre esta em alta principalmente com relação a segurança alimentar e as manutenções dos equipamentos.

  • Kaio Cabral

    A manutenção dos equipamentos é de suma importância tanto para redução de custos como para segurança alimentar. O engajamento de varias pessoas, não apenas da manutenção, é essencial para a TPM

  • Ana Mary Amorim

    Marco, excelente artigo. Eu presto consultoria para uma indústria de saneantes . Levei seu artigo para que possamos viabilizar a implantação da TPM. Apesar de trabalharmos com legislações diferentes da área de alimentos, específicas para saneantes, a ferramenta trará grande contribuição para a melhoria dos processos.

    • Marco Túlio Bertolino

      Que legal, pode mesmo ser bem aplicável, e tratando-se especificamente do TPM, é útil a qualquer segmento.

  • Karina Barbosa

    Muito importante associar os temas de manutenção com segurança dos alimentos, até porque a grande maioria dos incidentes de segurança de alimentos nas indústrias tem relação direta com temas de manutenção.

  • Érika Teixeira

    É muito comum encontrarmos problemas em áreas de produção exatamente por existir falha da ligação do bpf com a tpm, é de grande importância que todos os envolvidos percebam a importância de um acompanhamento e de uma manutenção recorrente. Ótimo tema para ser abordado.

  • Natália Cavalcante Cintra de Macedo

    A implementação do TPM é uma meta que todas as empresas deveriam traçar.
    Parabéns pelo texto.

  • Mayra Pedrosa

    Esse tipo de artigo serve de sensibilização para as empresas, pois implementar o TPM é de grande importância para segurança alimentar e demais áreas.

  • LUIZ WILSON CAVALCANTI DUARTE

    A equipe de manutenção treinada e de estrema importância para a segurança dos alimentos,com isso evitamos vários problemas que são comuns na industria de alimentos, excelente artigo.

  • LUIZ WILSON CAVALCANTI DUARTE

    A equipe de manutenção treinada e de extrema importância para a segurança dos alimentos, sobre tudo evitamos vários problemas que são comuns na industria de alimentos, excelente artigo.

  • AMANDA LOPES DA SILVA

    Muito bom o artigo. Estou me especializando em WCM e percebi uma familiaridade com a TPM, ou seja, próxima meta de estudo!

  • Ângela Regina Souza Santos

    TPM passa a ser fundamental para o processo do food safety. Para as empresas por que não pensar e associar os processos enxutos ao TPM para que, por exemplo, o HACCPP venha a utilizado cada vez mais na gestão da prevenção da segurança dos alimentos?

  • Ângela Regina Souza Santos

    Considerações que refletem a realidade industrial, pois no atual contexto econômico mundial as empresas que atual com TPM, como as que associam processos enxutos ao HACCP, passam a geram cada vez mais produtos, processo e serviços mais seguros para o consumidor final, isto e o food safety aplicado e incorporado na cultura empresarial.

  • Rosemary Gallindo

    Parabéns pelo texto! De uma clareza e objetividade muito boa! Quem é da área de Segurança de Alimentos sabe o quanto é importante essa harmonia entre Manutenção e a as Boas Práticas de Fabricação. Quando a cultura da TPM é incorporada pelas funcionários, a empresa lucra com excelentes resultados de produtividade e confiabilidade dos seus produtos! Por isso o desenvolvimento dessa ferramenta e das equipes é de fundamental importância na indústria.

  • Beatriz de Sousa Luiz

    Sou aluna no IPOG de Eng de Segurança de Alimentos e gostei muito do texto. Não estou familiarizada em pensar dentro de indústrias e produções grandes, sou sócia de uma cafeteria no Tatuapé e vejo como esse tema é importante. Sem um planejamento organizado com TPM ficamos sujeitos a muitos imprevistos. Parabéns pela abordagem!

  • Fabiana Vicente

    Marco parabéns e mais uma vez obrigada por compartilhar seu conhecimento em temas chaves para a consolidação da cultura de Segurança de Alimentos nas indústrias com simplicidade, clareza e objetividade ímpares! As organizações tendem a focar esforços no treinamento principalmente do time de manufatura e se esquecem que o time de manutentores são cruciais neste processo, tendo a ferramenta TPM como uma alavanca bastante importante para impulsionar a cultura da organização neste contexto.

  • Gabriela Ferreira Floriano

    Texto muito bom!!! Nos seus artigos você discorre sobre os assuntos de uma forma bem clara, o que facilita demais a compreensão. Parabéns! Essa relação entre BPF e TPM realmente é muito benéfica para a indústria de alimentos.

  • Leila

    Excelente artigo me direcionou neste desafio de implantação desta culturas de prevenção, de reduzir os improvisos dentro da produção. Muito obrigada.

  • Sonja de França Andrade

    Em minha opinião, o conceito do artigo se adequa a prática uma vez que, a realização das manutenções preventivas otimiza o tempo de produção fabril, torna-se mais barata do que a manutenção corretiva onde as peças são compradas com urgência gerando um custo elevado. Além disso, custos de ter uma produção parada, ou seja, hora homem, energia e etc.

    • Marco Túlio Bertolino

      No final, atuar em prevenção é ganhar em produtividade, segurança dos alimentos e em processos.

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