Quero ser auditor de segurança de alimentos: o que faço? – Parte 3

3 min leitura

Trazemos hoje a terceira parte do artigo “Quero ser auditor de segurança de alimentos: o que faço?”. Você pode rever a primeira parte aqui e a segunda aqui, onde abordamos o assunto de escolaridade e conhecimentos específicos. Vamos falar das habilidades técnicas e práticas de auditoria.

Uma excelente fonte de consulta para entender melhor os tipos, princípios e técnicas de auditoria é a norma NBR ISO 19011 (Diretrizes para auditoria de sistemas de gestão). A ISO 17021, que foi citada na 1ª parte da série, também é recomendável para estudo, em especial se você gostaria de ser auditor de certificação.

Primeiramente, é importante relembrar o conceito de auditoria, que está na ISO 19011: “processo sistemático, documentado e independente para obter evidência de auditoria (relatos, registros, dados e fatos verificáveis) e avaliá-la, objetivamente, para determinar a extensão na qual os critérios de auditoria (conjunto de políticas, procedimentos ou requisitos usados como uma referência na qual a evidência de auditoria é comparada) são atendidos”. Portanto, toda auditoria tem um começo, meio e fim; os dados, resultados e conclusões são registrados (por exemplo, em relatório), e a auditoria não é conduzida pelo responsável da atividade ou processo auditado.

As técnicas para realização de uma auditoria incluem os métodos usados para a obtenção das evidências de auditoria, que podem englobar: entrevistas, observação de atividades, leitura de documentos, análise crítica de registros, entre outros. O auditor precisa, para tal, ter a capacidade de realizar uma amostragem abrangente, ou seja, coletar evidências suficientes para uma avaliação adequada, que permitam chegar a conclusões confiáveis e robustas. Em entrevistas, as perguntas abertas são preferíveis, por possibilitar a obtenção de maior quantidade de informação (requer que o entrevistado explique ou dê respostas completas). Exemplos de perguntas abertas: “Quem é o responsável por este processo? O que é feito com o produto fabricado em condições em que o limite crítico do PCC for excedido? Onde é registrada a análise crítica pela direção? Com que frequência é realizada a auditoria interna?”.

Uma boa auditoria de sistemas de gestão baseia-se em alguns princípios fundamentais, para que se torne uma ferramenta eficaz na avaliação e na melhoria do desempenho de uma organização. São eles:

  1. Integridade (ética, competência e honestidade na realização dos trabalhos);
  2. Apresentação justa (constatações, conclusões e relatórios verdadeiros, exatos, objetivos e claros);
  3. Devido cuidado profissional (julgamentos ponderados em todas as situações de auditoria);
  4. Confidencialidade (discrição no uso e proteção das informações obtidas em auditoria);
  5. Independência (auditores imparciais – que não auditam o seu próprio trabalho – objetivos, livres de tendenciosidade e conflitos de interesse);
  6. Abordagem baseada em evidência (conclusões de auditoria baseadas em evidências verificáveis, com amostragem adequada para que se possa ter confiança no processo de auditoria).

Se o papel do auditor inclui a concordância com estes princípios, então convém que ele demonstre certas habilidades e um bom comportamento profissional. Podemos citar como exemplo:

  • Diplomático (tato para lidar com as pessoas);
  • Mente aberta (capacidade de considerar ideias alternativas);
  • Observador (capacidade de estar atento aos arredores e situações de auditoria);
  • Capacidade de comunicação (saber perguntar, ouvir com atenção e relatar adequadamente os achados de auditoria);
  • Versatilidade (capacidade de adaptação a diferentes situações e culturas empresariais);
  • Decisivo (estar seguro para tomada de decisões rápidas e baseadas em fatos verídicos e razões lógicas);
  • Capacidade de organizar o tempo e ser persistente e focado em atingir os objetivos da auditoria.

E onde aprendemos tudo isso? Os cursos de formação de auditor líder ou auditor interno em sistemas de gestão da segurança de alimentos costumam abordar com detalhes estes princípios e técnicas de auditoria, e muitas vezes realizam simulações. Mas a experiência prática “na vida real das empresas” é insubstituível e sem dúvida é a melhor forma de aprendizado. Sempre que possível, faça auditorias internas em sua empresa; busque acompanhar auditorias de clientes ou auditorias de certificação; peça para que auditores mais experientes observem o seu trabalho como auditor e, se pertinente, sugiram melhorias nas habilidades técnicas ou comportamentais. É assim que começamos a trilhar nosso caminho como auditor. Nas certificadoras, o processo de qualificação de um auditor é relativamente longo, sendo necessário observar várias auditorias, depois realizar auditorias sob supervisão de um auditor mais experiente, para depois conseguir auditar por si só.

No próximo artigo, comentarei sobre o perfil pessoal do auditor em algumas experiências que tive (e continuo tendo) nos meus trabalhos como auditora. Aguarde!

Créditos de imagem: IFSQN.

5 thoughts on

Quero ser auditor de segurança de alimentos: o que faço? – Parte 3

  • Juliana Raposo

    Muito bom! Estou lendo todos estes posts, pois pretendo ser auditora de Segurança do Alimento e de Gestão de SSO.
    Farei o curso em setembro e fiquei com uma dúvida: fazendo o curso de Auditor Líder eu já posso estar habilitada para fazer auditorias? Ou teria algo mais, pois vi que foi mencionado o curso de 16 horas de Análise de Perigos.

    • Camila Miret

      Oi, Juliana, obrigada pelo prestígio ao blog. Se você quer ser auditora de certificação FSSC, há um requisito obrigatório de ter um curso de no mínimo 16h sobre APPCC. O fato de ter os treinamentos e a formação acadêmica não necessariamente habilitam de forma direta que uma pessoa já possa ser auditora. Normalmente, a experiência profissional também é avaliada e considerada (por exemplo, se a pessoa já fez auditorias internas ou em fornecedores), e antes de “sair auditando” em certificações, é necessário observar uns quantos dias de auditoria com pessoal mais experiente, depois ser membro de equipe e ser testemunhada/ supervisionada em campo, para posteriormente poder auditar de maneira independente. O procedimento varia de certificadora para certificadora. Bom fim de semana!

  • Fabiana Pacheco

    Olá, Camila Miret

    Parabéns pela série de posts. Achei muito interessante. Gostaria muito de trabalhar com auditorias.

    Queria saber onde posso encontrar a NBR ISO 19011 (Diretrizes para auditoria de sistemas de gestão)?

    • Camila Miret

      Olá, Fabiana, obrigada pela visita e pela apreciação. A versão oficial da ISO 19011:2012 pode ser obtida no catálogo da ABNT (www.abntcatalogo.com.br). Abraço

      • Fabiana Fernanda Pacheco da Silva

        Olá, Camila Miret

        Muito obrigada pela sua atenção!

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