Que cenário você vê em segurança de alimentos nos próximos 20 anos?

3 min leitura

Adeus ano velho, feliz ano novo…. músicas trash de final de ano que nos fazem pensar e projetar o futuro. Acredito que o grande barato da vida é olhar para trás e sentir orgulho, mas será que o Brasil sentirá quando falamos sobre segurança de alimentos? Então, decidimos conversar com especialistas para ver as projeções que eles fazem para o futuro.

*ALERTA TEXTÃO*

Mas esse textão vale a pena ler. A pergunta é super-curta e objetiva: “Como você imagina a segurança de alimentos daqui a 20 anos e por quê”?

Para Cíntia Malagutti, a pergunta foi um tanto quanto intrigante. Ela cita que há estudos que mencionam como será a “comida do futuro” (alusão à cozinha dos Jetsons, desenho criado na década de 60), por exemplo: hambúrgueres criados em laboratório, pizzas impressas em casa, tomates roxos com propriedades anticâncer ampliadas. Mas no passado também esperávamos a virada do século com alimentos em formatos de pílulas sintéticas e cada vez mais o consumidor não abre mão de preparar a sua refeição, seja em fogão tradicional, ou em uma impressora dentro da sua cozinha.

De fato, o agronegócio para uma população de 9 bilhões de pessoas necessitará de grãos extremamente resistentes a inundações, secas, pestes e insetos, em contrapartida à proteína animal cada vez mais cara e rara. Como já existem bifes (“proteínas” no lugar de carnes) de compostos de ervilhas, ovos substituídos por uma base de gergelim, pão de grilo ou outras 900 espécies de insetos comestíveis (japoneses comem vespas, os tailandeses gostam de grilos, os africanos cozinham larvas e os chineses vendem espetinhos de gafanhotos nas ruas), algas que substituem o sal em alimentos processados ou da carne desenvolvida in vitro.

A engenharia genética e a nanotecnologia prometem mudar a cor, o tamanho e os nutrientes de alimentos que conhecemos e as impressoras 3D vão dar um sentido totalmente novo ao ato de cozinhar.
O futuro da alimentação pede que pensemos nas mudanças na agricultura e nas nossas dietas. Como produzir mais e desperdiçar menos? Essa questão é o ponto de partida em várias conferências mundiais sobre alimentação e a indústria 4.0 está conectada para executar ações nesse sentido.
O que é certo é que daqui a 20 anos vai ser necessário produzir muito mais alimentos em zonas altamente povoadas em que os níveis de esgotamento dos recursos naturais são brutais.

Milton Gomes dos Santos, que trabalha no Departamento da Vigilância sanitária do estado do Pará, vê com bastante preocupação que os órgãos que fiscalizam a qualidade dos alimentos estão sendo enfraquecidos. Eles incomodam os “maus” políticos e com a descentralização das ações para os municípios ficou ainda pior. A prevenção dos agravos não interessa à maioria dos políticos e sim a medicina curativa pelos corporativismos de classes.

Os surtos por doenças transmitidas por alimentos contaminados estão aumentando a cada dia. Segundo a Organização Mundial da Saúde, morreram mais de 420 mil pessoas no país devido a surtos de infecção, toxinfecções alimentares.

Para o professor Eduardo Cesar Tonto, vai estar muito melhor em termos de controle e globalização.O Brasil, através da ANVISA e MAPA, é muito atualizado com as recomendações do CODEX ALIMENTARIUS, emitidas em nível mundial. Muitas vezes, publicamos legislações harmonizadas com as recomendações mundiais no mesmo ano que elas foram publicadas. A implementação delas nos estados brasileiros pode variar muito, mas sempre fazemos avanços em segurança de alimentos.

Embora ainda tenhamos muito que andar, se olharmos para trás o Brasil melhorou muito nos últimos 20 anos. Hoje em dia já é comum os manuais de Boas Práticas de Fabricação (BPF), Boas Práticas (BP), APPCC e até Análise de Risco. No geral, acredito em um cenário positivo.

Dafné Didier é uma pessoa super otimista. Ele gostaria que os processos de regulação de alimentos se tornassem cada vez mais rápidos e transparentes. Tenho que concordar que a ANVISA tem feito um bom trabalho em conversar com os consumidores e indústrias, seja através das consultas publicadas mais fáceis de serem respondidas ou pelas diversas reuniões que tem realizado com objetivo de melhorar e modernizar a agencia. Todavia, quando falamos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, parece que paramos em 1952!

Muitos podem dizer que o MAPA tem tentado se modernizar, revisaram o RIISPOA e melhoraram a rotulagem, mas essas tentativas ainda estão longe do que realmente necessitamos. O próprio site do MAPA para pesquisa de legislação encontra-se desatualizado desde 2015, as consultas públicas são obscuras e sem a devida divulgação, sem falar nos próprios processos congelados do órgão em não querer perder sua reserva de mercado para veterinários, proibindo outras profissões de serem Auditores Fiscais Federais Agropecuários. Minha vó diz que: “quem muito daquilo cuida, daquilo muito usa”! Isso exemplifica bem o medo do MAPA em permitir profissionais competentes de fazerem os seus trabalhos. Afinal, o escândalo da carne fraca mostrou justamente isso!

Sinceramente, acredito que daqui a 20 anos, tudo isso tenha passado! Os processos estejam mais transparentes, os órgãos fiscalizadores estejam aptos para acompanharem as inovações de alimentos e que nossos processo regulatório seja mais simples!

Mas e você? Arrisca-se a projetar como será o cenário?

*Gostaria de agradecer a todos os entrevistados por participarem. Ficam aqui os meus sinceros agradecimentos. 

10 thoughts on

Que cenário você vê em segurança de alimentos nos próximos 20 anos?

  • Nathalie Goulart Souza Leite

    Dafné “lacrou”!

  • Renata

    Realmente o MAPA é um atraso. Trabalho em frigorífico de bovinos e a mentalidade dos fiscais com quem já tive contato é absurda. Muito mal informados e atrasados. Cada um faz do jeito que acha certo. Veja a circular do MAPA sobre recall e compare com a resolução da anvisa sobre o recall. A do MAPA você tem adivinhar o que querem, texto difícil, sem nexo.

    • Jacqueline Navarro

      Renata, tudo bem? Eu não sabia disso! Será que nós podemos fazer algo quanto a isso?

  • Jhonatas Moraes

    Muito bom esse post, desde uma visão bem futurista e que em momento algum deve ser considerada ilusória, pois, tudo é possível, até a visão simples mas não simplificada e muito necessária quanto as fiscalizações para garantia efetiva da segurança dos alimentos.
    Aproveito para partilhar minha visão…kkkkk…a qual também é otimista, por saber que temos muita gente boa nesse mercado, levando a sério, esse universo dos alimentos, unicamente por eles serem essenciais a vida (desenvolvimento e manutenção dela).
    Uma tecnologia que já está em andamento, e será muito válida em vários aspectos, principalmente, quanto ao consumidor final, são as embalagens inteligentes, que informarão, por mudança de cor, ou outros parâmetros se o produto está apto ou não para consumo.
    Enfim…que venham os próximos 20 anos, e façamos aqui nossa cápsula do tempo (#fica a dica).
    Contem comigo Food Safety!!!

    • Jacqueline Navarro

      Jhonatas, tudo bem?

      Adorei que você dividiu a sua visão e ainda é super otimista. Que criemos o futuro e em breve que o concretizemos.

  • Daniel Henrique Kreutz

    Muito bom o post. A minha perspectiva é de que vamos melhorar no controle de qualidade da produção (segurança do alimento e inovação). Pois muitos programas estão sendo realizados nas empresas a fim de garantir uma inocuidade ao alimento produzido. Porém um ponto que me preocupa muito é a oferta de alimentos. A falta de políticas públicas em prol a produção de alimentos principalmente pela agricultura familiar, que é o que predominantemente abastece nossas famílias (leite,carne, frutas, legumes, verduras). O latifúndio vai estar focado na produção de commodity (ex. soja), para exportação, isso de certa forma favorece a economia brasileira, mas não o alimento de cada dia.

    • Jacqueline Navarro

      Daniel, tudo bem? Muito obrigada pelo elogio. A falta de incentivo principalmente na agricultura familiar, também acaba com a vasta variedade de especies da fauna brasileira.

  • Gustavo

    Espero que este futuro seja positivo, particularmente gostaria que existisse alguma tecnologia que permita que os órgãos fiscalizadores descobrirem quais empresas cometem algum tipo de irregularidade ou fraude, qual é entre outras coisas relacionadas, por que no hoje, principalmente em pequenas empresas, há a mentalidade do “lucro a qualquer custo por que não sei por quanto tempo vou lucrar” conheço uma empresa que comete muitas irregularidades por causa desse lucro desenfreado e quem tá dentro não pode falar coisa alguma, nem o RT, pq é órdem direta do patrão e o coitado não tem poder de voz alguma, é complicado essa questão, a fiscalização e nada é a mesma coisa e me preocupa a segurança do alimento e a possibilidade do consumidor vir a ter uma DTA por isso

    • Everton Santos

      Gostei da sua ideia Gustavo.

      “tecnologia que permita que os órgãos fiscalizadores descobrirem quais empresas cometem algum tipo de irregularidade ou fraude”

      Hoje em dia temos, em potabilidade de água, o SISAGUA, nele é inserido os resultados das análises e se algo estiver fora dos padrões, o Ministério da Saúde fica sabendo. MAS, nada impede de alimentar o sistema com dados falsos. Por isso, acredito que as análises deveriam serem feitas em laboratórios e estes alimentarem o sistema, assim a empresa não teria a possibilidade de burlar os dados.

      Assim também poderia ser para carnes e todos outros tipos de produtos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Todos os textos são assinados e refletem a opinião de seus autores.

lorem

Food Safety Brazil Org

CNPJ: 22.335.091.0001-59

organização sem fins lucrativos

Produzido por AG74
© 2020, Themosaurus Theme
Compartilhar