Avaliando os resultados do Relatório RASFF, com foco no mercado ‘Feed’

4 min leitura

Quem é certificado em alguma norma de Feed Safety, como GMP+ FSA (saiba mais aqui) e FAMI-QS, possivelmente já se deparou com o termo RASFF em algum trecho:

“O plano de monitoramento deve ser justificado, com base em uma avaliação de risco sólida e confiável, apoiado por resultados de testes representativos, e deve ser documentado. Devem ser avaliadas informações (como EWS, RASFF ou outros sinais sobre possíveis riscos) que possam influenciar o plano de monitoramento estabelecido. Se necessário, o plano de monitoramento deve ser adaptado imediatamente.”

Fonte: GMP+ BA4 – Minimum Requirements for Sampling and Analysis (01/07/2018) – Cap. 2 Sampling and Testing of Feed Materials

“Uma crise pode ser resultado de uma situação de Alerta Rápido (RASFF ou equivalente) ou originar-se desta.”

Fonte: FAMI-QS Code of Practice – Version 6 / Rev. 4 (02/10/2018)

Importante abrir um parêntese aqui e explicar em linhas breves o que é o RASFF e porque ele é relevante.

A sigla RASFF vem de Rapid Alert System for Food and Feed (em livre tradução: Sistema de alerta rápido para alimentos para consumo humano e animal).  Trata-se de uma ferramenta lançada em 1979, como iniciativa da União Europeia (por meio da European Comission, braço legislativo do bloco) para garantir o fluxo adequado de informações referentes a riscos para a saúde pública detectados. A diretriz é que sempre que um membro da EU dispõe de alguma informação relativa à existência de um risco à food ou feed safety, tal informação é internamente divulgada e medidas são tomadas rapidamente, de forma coordenada. Você pode ter mais informações no site deles.

E não só países do bloco europeu têm usado esta ferramenta, mas também outros continentes, principalmente a Ásia, respondendo hoje por aproximadamente 30% das origens das notificações. A América Latina, por sua vez, responde hoje por aproximadamente 8% das notificações.

Pois bem… Você possivelmente ainda pode estar se perguntando o que isso tem a ver com o Brasil. A resposta pode ser dividida em duas partes:

  • Eventualmente, notificações geradas no mercado europeu são oriundas de produtos comercializados pela indústria brasileira, sobretudo commodities; e
  • Estas notificações são um indicativo da incidência de contaminantes nos produtos.

Agora seguimos para a parte mais interessante deste post. Anualmente, a European Comission gera um relatório apontando e analisando as notificações geradas no período.

Recentemente, foi publicado Relatório de 2019. Sim, um pouco atrasado, mas antes tarde do que nunca!

Vamos agora tratar dos principais pontos com foco no mercado feed, tratado pelo RASFF de forma conjunta com “pet food” (para mais detalhes sobre a diferença veja aqui).

Foram emitidos no ano de 2019, 325 notificações, um aumento sensível (4%) se compararmos com os dados de 2018. Importante dizer que as notificações de feed respondem por 8% do total (que inclui, por exemplo, embalagens e aditivos, além de produtos para alimentação humana).

O gráfico abaixo, retirado do relatório, não parece muito convidativo sob um primeiro olhar. Mas algumas informações relevantes podem ser colhidas.

Fonte: RASFF – Annual Report 2019

  • Primeiramente, ele demonstra que as notificações se referem a feeds de origens diversas (coluna central), tanto de países membros da UE quanto de países não membros. Infelizmente não temos o Brasil em destaque, como outros países não membros (como por exemplo Estados Unidos e China).
  • O Brasil fica enquadrado em um conjunto de países não membros que responde por aproximadamente 17% dos produtos contaminados notificados.
  • Outra informação obtida através deste gráfico é que, entre as notificações originárias do conjunto de países não membros, 85% referem-se à sub-classe de Feed Materials (para saber mais veja aqui), que incluem sobretudo commodities agrícolas, como milho, soja e produtos como farelo de soja, levedura de cana e polpa cítrica. O restante das notificações (15%) é originário de Pet Food e Feed Additives.
  • Saindo da origem e partindo para análise das categorias, o gráfico mostra que os Feed Materials lideram em termos de contaminações, com 64%, seguido por Pet Food (18%), Feed Additives e Compound Feed (ambos com 3%).
  • Agora o que eu considero como a parte mais interessante do gráfico: dentro da classe de Feed Materials, a maioria das notificações (57%) são referentes à presença acima de níveis aceitáveis de microrganismos patogênicos (incluindo Salmonella), seguido de microrganismos não patogênicos e aflatoxinas (ambos como 12%). Outros contaminantes considerados relevantes neste mercado respondem por uma pequena fração das notificações (abaixo de 1%): metais pesados, resíduos de pesticidas, poluentes ambientais (como dioxinas e furanos) e corpos estranhos.

Em relação a estes contaminantes, o relatório ainda traz algumas outras informações relevantes adicionais:

  • Todas as notificações referentes a microrganismos patogênicos são referentes à presença de Salmonella.
  • Praticamente todas (30 de 32) as notificações de micotoxinas dizem respeito a aflatoxinas.

Caso se interessem, semana passada saiu um post sobre este mesmo relatório, mas com foco em produtos para alimentação humana (food).

Gostaram da análise? Comentem abaixo.

Ano que vêm comento sobre dados gerados em 2020.

Caso tenham interesse por mais informações sobre feed safety, fiquem atentos, que em breve teremos novidades.

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